Autor

Detective Jeremias

 

Data

6 de Setembro de 2015

 

Secção

Policiário [1257]

 

Competição

Campeonato Nacional e Taça de Portugal – 2015

Prova nº 8 (Parte I)

 

Publicação

Público

 

 

O 1º CASO DO INSPECTOR FERREIRA

Detective Jeremias

 

Lisboa, Setembro de 2015

Este é o primeiro caso do inspector Ferreira, um novato nestas andanças, no entanto a investigação ao grande assalto da pequena ourivesaria, no coração de Lisboa, está a andar a bom ritmo. Enquanto se aguarda a resposta do laboratório à análise dos cabelos, o Ferreira não está parado.

O assalto rendeu uma boa maquia. Não é habitual a existência de valores tão elevados, mas conforme o proprietário explicou era uma transação excepcional, devidamente provada e documentada. Se o produto do roubo não for recuperado o dono é grande prejudicado, já que a indeminização do seguro é ridícula. O que aconteceu foi simples. Quem assaltou estava bem informado e introduziu-se na ourivesaria utilizando o método convencional para os edifícios antigos. Quando de manhã o dono, o Sr. Aurélio Prata, abriu o cofre foi logo atacado. O Sr. Prata é um ourives da velha guarda e nas declarações à polícia, apesar de nervoso, descreveu o assalto com precisão. Chegou perto das 8 horas, queria ter tudo preparado à hora combinada com a transportadora. Subiu o gradeamento, abriu a porta, entrou e fechou a porta à chave. Desactivou o alarme. Não notou nada de anormal. Dirigiu-se ao cofre, abriu-o e retirou o primeiro estojo. Assim que se voltou viu nitidamente, a um palmo de distância, uma imagem que nunca esquecerá: a abertura rectangular de um gorro escuro de ski, com um contorno verde, que revelava uns olhos azuis, frios e ameaçadores, rodeados por longas pestanas negras. Depois tudo se apagara, o assaltante usara um atordoador e o Sr. Prata ficou inconsciente até chegar a polícia. Esta fora alertada às 8.12 por um vizinho que fumava um cigarro à janela. O fumador contou à Polícia que vira um homem alto, com uma mochila às costas, sair apressado da ourivesaria, montar numa bicicleta, que estava encostada a uma árvore, e desatar a pedalar furiosamente. Conhecia o Sr. Prata desde sempre e pressentiu logo que se tratava de ladroagem.

Os elementos recolhidos no local estão em sintonia com as informações prestadas quer pelo Sr. Prata, quer pela testemunha, e mostram que foi um único indivíduo a actuar dentro da ourivesaria. A prova mais relevante foi encontrada caída junto à árvore: o gorro preto, com uma abertura orlada a verde, que seguiu para análise.

Do leque de suspeitos, especialistas neste tipo de actividades, foram interrogados três que estão sob mira já há algum tempo. Todos na casa dos 30, têm outras características em comum: são bem falantes, actuam sozinhos, são peritos no método de intrusão, nunca foram apanhados com a boca na botija e têm particularidades físicas que encaixam na descrição. O interrogatório foi demorado e detalhado. Para abreviar, revelam-se os alibis apresentados para o período da manhã em que decorreu o assalto.

O primeiro foi o Patinhas, um maníaco da poupança e da ecologia. Atento às novidades, não há incentivo, promoção, desconto ou campanha que lhe escape. Afirmou: “Tencionava ir cedo com a minha noiva para o Algarve. Saímos às 7 horas de casa mas ficámos retidos: a Emel bloqueou-me o carro por ter excedido o tempo de estacionamento. Demorei mais de duas horas a resolver o assunto”. Lamentou-se por ver o seu carro novo em folha, 100% eléctrico e devidamente identificado com tudo a que tem direito, com os pneus aprisionados. Deu o contacto de telemóvel da noiva e a morada no Areeiro.

O outro suspeito tem a alcunha de Enguia, pela forma como tem conseguido sempre escapar à polícia. É um homem discreto e cumpridor da lei, com excepção dos assaltos. Declarou: “Vim de viagem de carro desde Santarém, onde agora estou a viver. Saí de casa às 6 e tal, primeiro fui levantar dinheiro na Caixa Automática à sede, depois segui caminho e entrei na via verde da A1 em direcção a Lisboa”. Explicou que esperava a entrega de um cartão multibanco, porque o antigo tivera de ser substituído. Não indicou testemunhas e mostrou a caderneta do banco.

O último a ser interrogado é conhecido por Toupeira devido aos óculos que é obrigado a usar, desde que entrou para o infantário. O problema de visão não o afecta, antes pelo contrário, porque o olhar vago e a intelectualidade de um par de óculos garantem-lhe o sucesso junto do sexo feminino. Declarou: “ Saí de casa, em Sete Rios, antes das 7 e fui de bicicleta até ao Estádio Universitário. Estive a treinar durante uma hora sempre sozinho”. Garantiu ainda que à entrada se tinha cruzado com duas amigas, cujos contactos se apressou a entregar.

O Ferreira está agora a verificar os álibis apresentados. Apesar da inexperiência, ele sabe bem quanto valem os testemunhos de amigos ou de familiares, por isso a sua prioridade vai para o contacto com as empresas, o banco e eventualmente as operadoras telefónicas, um processo sempre complicado. Relê as declarações e solta uma gargalhada. Afinal um dos suspeitos tentara aldrabar a polícia apresentando um álibi impossível. Iria confirmar tudo, pois claro, mas já tinha o “seu” suspeito.

Qual será o principal suspeito do Ferreira? Porquê?

 

SOLUÇÃO

© DANIEL FALCÃO