Autor Data 25 de Maio de 1978 Secção Mistério... Policiário [167] Competição Problema nº 10 Publicação Mundo de Aventuras [243] |
CRIME EM NOITE DE CHUVA… Durandal Jorge
Neves fora sempre um «senhor»… Bem instalado na
vida, activo, alegre, os seus negócios singravam de vento em popa, embora nem sempre completamente isentos
de censura, quanto aos métodos usados. Jorge
Neves fora sempre um «senhor»… Casara muito novo,
com uma mulher uma dúzia de anos mais velha, que lhe servira de trampolim
para a ascensão meteórica que a sua vida profissional espelhava. Jorge
Neves fora sempre um «senhor»… Conhecera o êxito em
todos os campos. Como comprara firmas similares para obviar à concorrência,
assim comprara o «amor» de mulheres jovens que transformavam o seu corpo em
moeda de troca… Jorge
Neves fora sempre um «senhor»… Mas aos 45 anos
apaixonara-se por uma das suas «aventuras» e forjara uma acção
de divórcio contra sua mulher, Carmelinda de Sousa Neves, para poder casar
com Graciete de Almeida. Na 1.a Instância valera-lhe o testemunho
de Carlos Pinto, que, diziam, testemunhara falso para fazer prevalecer a posição
de Jorge Neves no pleito… Carmelinda de Sousa Neves interpusera recurso para
o Tribunal da Relação de Lisboa, estando marcado para a próxima sessão da
Relação o julgamento da causa. Jorge Neves fora sempre um «senhor»… Mas estava morto!... Completamente morto!...
Assassinado!... Durandal deitou mais uma
mirada ao cadáver estendido na fina alcatifa do amplo salão requintadamente
mobilado. O
corpo jazia de borco sobre uma poça de sangue, proveniente do buraco
resultante de um tiro desfechado à queima-roupa, que quase lhe desfizera o
rosto. Segurando
Ifta (sua secretária) por um braço, olhou de viés o
porta entreaberta do cofre violado, e aproximou-se da janela olhando a rua… Durandal olhou o caminho
que conduzia à casa, apenas iluminado pela luz do portal, que o criado
acendera quando telefonara à Polícia, um caminho quase lúgubre, na escuridão
da noite sem luar e da chuva miudinho, intermitente, que se arrastava há
várias horas…. Durandal viu as horas. 1.30
da manhã. Havia
precisamente uma hora que recebera a chamada telefónica, advertindo-o do que
se passara. Por acaso fazia serão no seu escritório… De
relance olhou a vidraça, partida recentemente, e irregularmente, junto do
puxador que abria a porta-janela que deitava para a varanda, escasso metro e
meio acima do nível da fina e cuidada alcatifa. –
Vamos, Ifta! E
saiu, num relance, deitando um derradeiro olhar ao «senhor» que tudo comprara
na vida. Tudo, excepto a morte… Duas
horas mais tarde, no silêncio calmo do seu escritório, Durandal
escutava atentamente a leitura, por Ifta, das notas
respeitantes ao caso. Assim:
a)
Hora da morte: Entre as 22 e as 24 horas. b)
Indícios visíveis no salão: Nenhuns, para além dos verificados por Durandal e já referenciados. c)
Criados: Joaquim, o chefe dos criados, e sua mulher, Ana, a cozinheira, ambos
com cerca de 60 anos; José, o motorista, filho daqueles, e Henriqueta, mulher
do motorista, criada de fora. Tinham ido ao cinema, à cidade, no carro do
patrão, devidamente autorizados. Chegaram perto da meia-noite e trinta e,
estranhando luz no salão, Joaquim entrara e deparara com o patrão morto. Não
tocaram em nada. A vidraça estava intacta quando saíram para a cinema. d)
Carlos Pinto: combinara encontrar-se às 11 horas da noite com Jorge Neves,
para acertarem os pormenores do depoimento que Pinto devia prestar na sessão
de julgamento do divórcio de Neves, que teria lugar na próxima semana. Como
ninguém atendesse e não visse qualquer luz, concluíra que Jorge Neves
esquecera a entrevista, e regressara à cidade. e)
Carmelinda de Sousa Neves: Procurara o marido cerca das 22 e 30, a fim de que
este lhe cedesse certos documentos. O marido abrira a porta e recebera-a
friamente, recusando. Deixara-o vivo, e de saúde, pelas 22 e 45,
aproximadamente. f)
Graciete de Almeida: Estivera na mansão. Retirara-se, porém, pouco depois das
22 horas. Jorge chamara um táxi porque emprestara o carro aos criados, e
chovia. g)
Júlio Seixas, secretário particular do falecido: Soubera do evento quando
contactado pela Polícia. Examinado o cofre dera por falta das acções da fábrica de celulose que Carmelinda reivindicava
publicamente, e da colecção de moedas de ouro. Durandal acendeu o
cachimbo e fitou a sua secretária. –
Então?... –
Sei lá… Qualquer deles. Um estranho… tudo me parece possível… Durandal sorriu. –
Nada disso, Ifta. Nem tudo é possível… Comente
a afirmação de Durandal, subordinando a resposta a
duas questões: a)
Quem foi o assassino? b)
Desenvolva o seu raciocínio. |
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© DANIEL FALCÃO |
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