Autor Data 18 de Abril de 1986 Secção Detective [4] Competição 1ª Supertaça Policiária - Cidade de Almada Problema nº 1 Publicação Jornal de Almada |
SEXTA-FEIRA NEGRA Durandal 12
e 15, de uma sexta-feira de Novembro. A
campaínha
do telefone do escritório
de Durandal retiniu. O
seu amigo Jorge Soares, advogado do milionário Tibúrcio Narciso, solicitava a sua comparência urgente, pois
Tibúrcio
fora encontrado morto, assassinado,
presumia, momentos antes. Já
na rua, enquanto abria a porta do carro, olhou o céu pardacento. O tempo
parecia, agora, mais ou menos estável, depois da trovoada e chuva quase
diluviana que se abateram sobre Lisboa entre as 10 e as 11 e 30. Minutos
depois, o seu Mercedes estava no empedrado que conduzia à entrada principal
da mansão de Tibúrcio Narciso. Era uma soberba moradia, de dois pisos, virada
a Sul, rodeada de arbustos, harmonicamente dispostos, no amplo logradouro de
terra vermelha, delimitado por altos muros, pintados a ocre. Junto do portão
de acesso, a cerca de 50 metros do edifício, uma habitação modesta constituía
a residência do guarda da propriedade. O
gabinete de trabalho de Tibúrcio, no 1.º andar, era uma sala enorme, rodeada
de estantes. A um canto o cofre, porta escancarada, denunciava sinais de
violação. Das avultadas quantias que habitualmente o milionário aí guardava,
nem rasto. A janela larga que deitava para poente abria-se de par em par. Sobre
a secretária, sensivelmente a meio da sala e virada para a porta de entrada,
tombava-se Tibúrcio Narciso, a cabeça esmagada. No chão uma barra de ferro, a
arma do crime, com cabelos e postas de sangue agarrados. Sangue que alastrava
sobre a secretária e encharcava a carpete. Durandal acendeu o
cachimbo e acertou o relógio do rádio, cujo mostrador piscava. Com
o inspector, recolhiam os depoimentos, das pessoas
que se encontravam no local. Jorge Soares
– Estivera, desde que se levantara, no escritório que lhe era reservado, na
ala nascente do 1.º andar, a preparar as alegações de um processo cujo
recurso de apelação seria apreciado na sessão de quarta-feira seguinte,
quando fora informado do ocorrido por Alice. Telefonara de imediato a Durandal. Genoveva
– a governanta – Encontrava-se na cozinha, no rés-do-chão, a preparar o
almoço, pois era o dia de folga da cozinheira e a criiada
há alguns dias que fazia companhia a um familiar doente. Soube do sucedido
pelo Dr. Soares, que recolhera todos na sala onde agora se encontravam. Alice de Sousa
– secretária e sobrinha de Tibúrcio e sua única parente – Ao meio-dia, quando
o rádio
despertador tocara, dirigiu-se ao gabinete de Tibúrcio, pois este tinha de
tomar comprimidos, para a tensão, àquela hora. Depararara-se-lhe
o infausto acontecimento. De pronto alertara Jorge Soares. João
– guarda e jardineiro – Não dera por nada, pois desde cedo não abandonara a
sua residência, onde separava e escolhia sementes de flores. O
Inspector Clarimundo folheava trilhava distraidamente
os documento, sobre a mesinha baixa em que Alice trabalhara toda a manhã. O
Dr. Inácio surgiu à porta, mordiscando uma beata. –
Bem. Posso afirmar que a morte foi provocada por esmagamento da cabeça, por
instrumento contundente e ocorreu entre as 9 e as 10 e 30. O
Inspector Clarimundo de Freitas coçou a cabeça. –
Um caso bicudo, hein, Durandal? Este
soprou ama baforada de fumo do cachimbo. –
Nem por isso, meu caro, nem por isso… Explique
convenientemente a frase de Durandal. |
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© DANIEL FALCÃO |
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