Autor Data 1 de Agosto de 2025 Competição Torneio do Cinquentenário de
“Mistério… Policiário” Problema nº 8 Publicação Blogue A Página dos Enigmas |
A ESTREIA DO INSPECTOR FARIA Faria Era
meia-noite, encontrava-me a arrumar uns livros, para me ir deitar, quando soa
o malfadado telefone, sempre inoportuno. Levanto
o auscultador, e ouço uma voz muito aflita: –
Venha depressa, inspector, acabo de deparar com o
meu tio morto. Tomo
nota da morada da vítima, pensando ao mesmo tempo: «Que
chatice, logo à esta hora da noite é que se lembram dos assassínios». Saio
imediatamente de casa, pego no automóvel (que por sinal ainda não está pago…)
e abalo na direcção da morada indicada. A noite
estava muito ventosa, o que me forçou a levar os vidros do carro todos
fechados. Passados
dez minutos, estava na morada, uma sumptuosa mansão pertencente ao milionário
sr. Lucas Pancrácio. Saio
do automóvel, toco à campainha, e sou recebido pelo indivíduo do telefonema, sr. A. Pastor, sobrinho da vítima. Fui
de imediato conduzido ao compartimento onde a vítima foi encontrada,
localizado no rés-do-chão direito. Depois
de me certificar pelo A. Pastor que nada no compartimento tinha sido mexido,
entro no mesmo. Trata-se de uma sala pequena, que além da porta de entrada,
apenas tem uma janela grande ao fundo, na direcção
da porta. Ao
centro da sala, estava localizada a secretária, e sentado à mesma, com a
cabeça tombada sobre o tampo, encontrava-se o milionário. Junto
do corpo, pude notar que a vítima tinha sido estrangulada, certamente com uma
linha fina, mas resistente, pois era visível à volta do pescoço, um grande
traço fino e profundo. Dando
uma volta pela sala, na busca de indícios, pude notar que a mesma estava
cheia de painéis à volta, e é então que reparo que por detrás de um deles,
ligeiramente afastado para o lado, se encontrava um cofre de parede, aberto,
o que me fez antever que o móbil do crime tinha sido o dinheiro... A
janela estava toda escancarada… Aproximo-me dela, a ver se notava alguma
coisa, ao mesmo tempo que dizia para comigo: «Certamente
terá sido por ali que o assassino escapou, depois de cometer o assassínio e
sacar a massa…» Olho
através dela, mas com a escuridão da noite, nada se via. Viro-me
novamente para a sala, e dali pude observar mais uma vez a triste figura que
a vítima apresentava, olhos arregalados, o que aliado ao vento que entrava na
sala e lhe batia em cheio na cara, pondo-lhe os cabelos em alvoroço, o
tornavam horroroso. Feitas
estas observações, viro-me para o A. Pastor e pergunto-lhe: –
Tem alguma ideia de quem tenha sido o assassino? –
Não, francamente, não tenho, inspector. – replicou A. Pastor. –
Além de você, quem mais está em casa? – continuo a
perguntar. –
Estão o meu primo Carneiro e a minha prima Lucília, que chegaram hoje, por
volta das 20 horas, para passarem aqui as férias. –
Chame-os, preciso de proceder a um interrogatório. O
primeiro a ser interrogado foi Lucília, que disse: –
Estive a ver televisão até 23 horas, mas como o programa estava a ser ruim,
recolhi ao meu quarto, deitando-me a ler uma obra muito interessante,
intitulada «O Estrangulador de Boston», que aliás já tinha visto em cinema.
Cerca das 23 horas e 30 minutos fechei a luz e adormeci profundamente. Não
dei por nada. O
segundo a ser interrogado foi Carneiro, que disse: –
Estive também a ver televisão, mas recolhi mais cedo ao meu quarto, cerca das
22 horas e 30 minutos, pois tinha de preparar o meu estojo de pesca, os
carretos e as linhas, visto tencionar, logo de madrugada, ir praticar o meu
desporto favorito. Adormeci por volta das 23 horas e 15 minutos. Não dei por
nada. A
propósito, pergunto: –
Em que parte da casa dorme? –
Durmo no rés-do-chão esquerdo – replicou Carneiro. – Porquê, inspector? –
Por nada. Não tem importância – respondi. Foi
a vez de A. Pastor, que disse: –
Eram 21 horas exactas quando saí de casa, peguei no
automóvel e fui ao cinema. –
Tem graça – replico eu –, veja só o meu descuido, sou um amante fervoroso de
cinema, moro junto ao edifício do cinema, mas atrasei-me de tal maneira que
quando dei por mim, já o filme tinha começado. Acabei
por perder um filme que tinha bastante empenho em ver. Mas deixemos o
palavreado, continuemos com o interrogatório. –
Pois como ia dizendo, inspector, fui ao cinema.
Eram 23 horas e 30 minutos, precisas, quando o mesmo acabou. Vim logo para
casa, onde cheguei à meia-noite exacta. Como sempre
faço nas noites em que saio, dirigi-me ao compartimento onde o meu tio
costumava estar sempre a trabalhar até altas horas da noite, para lhe
perguntar se queria algo de mim, muitas vezes era forçado a estar com ele até
quase de madrugada... Abri
a porta da sala, e deparei com o meu tio com a cabeça caída sobre o tampo da
secretária, a cara com os olhos todos arregalados, e, pensei logo que ali
havia algo que não estava bem… Entrei na sala, aproximei-me do meu tio, e
deparei que o mesmo tinha sido assassinado. Telefonei imediatamente para si, inspector, e o resto já o senhor sabe. –
É deveras um caso intrincado – disse eu. – A propósito, costuma estar mais
alguém em casa? – pergunto. –
Costuma estar também o mordomo – respondeu A. Pastor, mas hoje é o seu dia de
folga, pelo que não esteve em casa durante todo o dia. Quer
que o mande chamar, inspector? –
Não vale a pena, já sei quem foi o assassino… –
Quem foi o assassino? –
Porquê? Explique convenientemente. |
© DANIEL FALCÃO |
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