Autor

Fong Si Yu

 

Data

14 de Agosto de 1975

 

Secção

Mistério... Policiário [22]

 

Publicação

Mundo de Aventuras [98]

 

 

FOI UM AR QUE LHE DEU

Fong Si Yu

 

NOTA – É conveniente irem seguindo na planta da casa da dona Leopoldina os passos das personagens. Perceberão melhor a história, se o fizerem. Vejamos… OK?...

As aulas tinham acabado e Jorge, rapagão de I7 anos, bom estudante, foi convidado pela avó para ir passar uns dias com ela, na sua casa, em… A rica senhora (vejam só a colecção de jóias: um colar de rubis, um diamante, um barquito em filigrana, um diadema, também em ouro, com uma pérola incrustada e uma caixinha de prata, com várias pedras preciosas a enfeitar…), dona de uns respeitáveis setenta e dois anos, e dona, também, do nome de Leopoldina, mantinha-se não obstante a idade, em «plena» forma, pois não parava quieta dez minutos, e fazia ainda grande parte dos trabalhos domésticos, embora tivesse três criados: o Baptista, de 43 anos, autêntico gigante: a Aidinha, jovenzinha de 13 anos, transmontana; e a Joana, a criada mais recente na casa, com 20 anos (no dia em que o Jorge chegara tinha-se ausentado por dois dias para a aldeia dos pais).

As coisas aconteceram logo no segundo dia da estada. Foi assim:

A dona Leopoldina não saía do quarto desde manhã, com uma valente constipação (efeitos da mania de não fechar nunca a janela do seu quarto) e cheia de dores de cabeça. E nem assim fechou ela a janela… O Jorge ia explodindo…

O rapaz teve de almoçar só… e para seu mal aproveitou-se do facto para se empanturrar à grande… No fim, nem já o pudim conseguiu comer!... Preferiu levantar-se e ir até à biblioteca onde o Baptista se dedicava, afanosamente, à limpeza dos primeiros livros que iniciaram aquela enorme colecção. Pela porta, entreaberta, que dava para o quarto da avó, tentou vê-la, mas nada conseguiu. Acabou por deixar o criado absorto na sua tarefa, e resolveu ir ver televisão. Acabava de a ligar (o aparelho encontrava-se na sala de visitas), quando a avó surgiu, em roupão, fungando constantemente.

– Tenho de ir à cozinha – explicou ela.

O Jorge ouviu-a pedir qualquer coisa à Aidinha, mas nem sequer se voltou quando a senhora regressou ao quarto, pelo mesmo caminho, arrastando os passos (ela era… como dizer… cheia!) A porta do quarto bateu… Segundos apenas passaram… Um grito estridente fez Jorge dar um salto, com o coração aos pulos, e correr para o quarto da avó, bastante alarmado.

A dona Leopoldina encontrava-se junto do toucador, com uma caixa na mão, soltando «oohs», «aaahs» e «iiihs», com soluços pelo meio, misturados com fungadelas…

O Baptista, vindo da biblioteca, surgiu imediatamente, e logo a seguir a criadita, com cara de assustada…

Foi difícil acalmar a velha senhora e só um bom par de minutos depois ela conseguiu, finalmente, contar a história, enquanto guardava a caixa vazia no cofre:

– Pois bem, meus filhos, esta caixa continha um valioso colar de rubis, que eu tinha tirado do cofre; roubaram-mo, enquanto fui à cozinha. Que desgraça, que desgraça, que desgr… – e teria continuado naquilo se nesse momento a campainha da porta de entrada não retinisse por três vezes… A criadita foi abrir… Era a Joana que regressava…

«– Hum… ouvi o apito do comboio ao chegar há mais de vinte minutes, e daqui à estação não são mais do que cinco minutos, a pé e com calma… Quem será o «bisnau» que anda contig.o…» – pensou Jorge maquinalmente, enquanto a criada esbugalhava os olhos, ante as feições graves dos que a olhavam.

– Mas que aconteceu? A minha senhora parece ter chorado… – observou ela.

– Ora, Joana, acabam de me roubar uma das minhas jóias… a mais valiosa, talvez, o… o… – e a dona Leopoldina não se conteve e começou de novo a chorar.

– Pois, olhe que não vi ninguém no caminho da estação para cá… – assegurou a criada. – Mas tenho a certeza que a Polícia descobrirá os ladrões do seu colar, minha senhora…

«– Bem, bem… A Joana fora… não viu ninguém!... A Aidinha na cozinha… não viu ninguém!... O Baptista na biblioteca… não viu ninguém!... Biblioteca que dá para este…» – continuava a pensar o Jorge quando, ante o pasmo e assombro geral, começa aos gritos:

– É isso! É isso! O ladrão é você! – e apontou…

 

1 – …Quem?

2 – Porquê?...

 

SOLUÇÃO

© DANIEL FALCÃO