Autor Data 8 de Janeiro de 1976 Secção Competição Policiário nº 10 Publicação Mundo de Aventuras [119] |
MENOS UM COELHO VIVO… …NO TEMPO EM QUE OS ANIMAIS FALAVAM! Fong Si Yu Há
três meses, resolvi criar em minha casa coelhos gigantes e meti mãos à obra,
para fazer um recinto (isolado, no meio do quintal), aonde pudesse pôr o
casal que comprara. Assim, arranjei 4 estacas com 2 metros de comprimento,
igual número de pedaços de arame, com o mesmo comprimento, e construí uma
«caixa» de 3x3 metros, sem fundo nem tampa, enterrando-as depois no solo, à
profundidade de um metro. Finalmente,
veio a primeira ninhada e a mama-coelha mostrou-ma ao fim de um mês. Eram
três belos coelhos cinzentos, não muito grandes mas irrequietos, que
brincavam excitados por todo o recinto, sob os olhares atentos da mãe (o pai
preferia gozar o sol da manhã, estendido a um canto). Ora,
ontem, descobri que junto à base de uma das estacas, o arame estava solto. Os
três láparos descansavam junto à toca. Os papás deviam estar lá dentro. –
Hum… vou buscar martelo e pregos – pensei. – senão
pode haver quem se interesse demais por eles… E
fui a casa, buscar o material. Encontrei o jornal numa mesa, e, só meia hora
depois me lembrei do que havia para fazer. Nesse preciso momento, ouvi um
grito… Corri para a coelheira – os dois coelhos grandes andavam de um lado
para o outro, aflitos… e só se viam dois dos pequenos! –
Maldição, levaram um coelhito! – fiquei
furioso, e dei uma palmada no arame… com tão pouca sorte que me feri numa
ponta da extremidade superior. Fui de novo a casa, pois a ferida podia infectar (o arame estava sujíssimo) se não a tratasse.
Comecei por tirar, com uma pinça, um par de pêlos
cinzentos que, da ponta do arame, se tinham agarrado ao corte; depois, foi a
vez de algumas partículas de ferrugem; e, finalmente uma boa lavagem limpou a
ferida de toda a terra. Deitei-lhe álcool, em vez de água oxigenada, e,
depois de andar a saltar pela casa, gritando engraçados «uis»,
«ulalás» e «ais», coloquei um penso no corte e fui
chamar, para interrogatório, todos os suspeitos de cometer o crime… Antes
porém, resolvi ir concertar o recinto – e num prego encontrei uns poucos de pêlos amarelos. Já era um indício! Fui
por fim chamar os «réus»: –
O gato, que dormia num sofá da sala de estar; o furão, que caçava ratos, pelo
quintal; a águia, que acabava de caçar um pardalzito,
em pleno ar; e o cão, que dormia junto ao tronco de uma pereira… com o láparo
morto junto ao peito! Eis o que, cada um por sua vez, me declararam: O
GATO: Seguira-me até casa, quando eu tinha vindo buscar o martelo e os
pregos. Como eu fiquei a ler o jornal, ele foi-se deitar no sofá aonde o
encontraria mais tarde. Era amarelo e preto, mas disse que os pêlos que estavam no prego não eram dele. Nota: eu não o
vi seguir-me… porque estava distraído, talvez. O
FURÃO: Estava a caçar ratos há mais de duas horas, e vira o rato entrar na
coelheira. No entanto, logo a seguir apareceu-lhe uma grande ratazana, e foi
atrás dela, pelo que não viu se o gato tinha morto o coelhito. Cor: castanho
e amarelo. O
CÃO: «Setter», totalmente castanho, afirmou estar a dormir até à altura em
que eu o chamei. Quanto ao coelhito, junto ao seu peito, assegura não saber
como lá foi ele parar… A
ÁGUIA: Disse que andava desde manhã atrás dos pardais. Quando apanhou um,
desceu para o quintal, e foi então que eu a chamara. Não vira nada de anormal,
na coelheira. Terminados
os interrogatórios, reuni-os a todos no meu quarto, enquanto pensava um
pouco. Por fim, disse-lhes: –
Já sei qual de entre vocês foi o patifório. Pois vai ficar três dias fechado,
sem comer absolutamente nada! 1
– Quem recebeu o castigo? 2
– Porque dizes ter sido ele o criminoso? |
|
© DANIEL FALCÃO |
||
|
|