Autor

Fong Si Yu

 

Data

23 de Dezembro de 1976

 

Secção

Mistério... Policiário [93]

 

Competição

Torneio "Primeiro Passo Deductivo"

Problema nº 7

 

Publicação

Mundo de Aventuras [169]

 

 

ANASTÁCIO INVESTIGA…

Fong Si Yu

 

Era um pequeno industrial numa localidade nortenha e conhecera uma vida não isenta de dificuldades. Antes pelo contrário!... Frequentemente recorria a empréstimos de amigos, a fim de satisfazer compromissos inadiáveis.

Até que um dia se modificou. Como, por encanto, passou a viver desafogadamente… Herança recebida? Algum negócio rendoso? – interrogavam-no constantemente. Perguntas que ficavam sem resposta… A verdade, porém, é que o aspecto financeiro deixara de constituir problema…

De tal forma que propusera aos sócios a cedência das suas cotas na sociedade, ficando ele sozinho com a fábrica… Tinha sido uma «cartada» bem jogada, pois sabia-os necessitados de dinheiro… Assim, fora aprazado que naquele dia, sábado, às dez da manhã, em sua casa, ele procederia à liquidação das quantias previamente ajustadas e seria efectuado o respectivo contrato.

 

Enquanto rememorava tais pensamentos, João Tiago dirigia-se da fábrica para a sua modesta mas elegante vivenda situada um pouco além daquela. Olhou o relógio e estugou o passo, porquanto passava já um pouco da hora combinada.

Na verdade, à porta da residência, encontravam-se já os outros. Feitos os cumprimentos da praxe, convidou-os a entrar. Instalou-os na saleta de entrada e, após algumas banalidades, dirigiu-se ao escritório, no andar superior, a fim de ir buscar o dinheiro.

Ouviu-se então um grande reboliço e o filho de João Tiago, um moço de dezassete anos, surgiu a correr, com uma estatueta na mão. Desceu a escada num ápice, abriu a porta da rua e saiu «disparado», sem tempo de a fechar, porquanto o pai vinha atrás dele, com expressão carrancuda. Gritou-lhe ainda:

– Livra-te de tornares a aparecer com uma coisa dessas cá em casa!

Depois de fechar a porta, João Tiago reparou na cara intrigada dos outros e esclareceu-os:

– Desculpem todo este alvoroço, mas, como sabem, sou cristão convicto e não admito cá em casa nada relacionado com outras religiões, mesmo já desaparecidas. Seja o que for! E, vejam só, que o meu filho trouxe para casa uma estatueta de Júpiter!... Brrr

Olhou-os, um a um, comoo esperando uma concordância. Como ela não surgisse, encolheu os ombros, voltou-lhes as costas e dirigiu-se novamente às escadas de acesso ao piso superior.

Como da vez anterior, também desta feita rebentou enorme alarido; se possível, mais barulhento que o anterior. No cimo das escadas, apareceu João Tiago, ofegante, colérico, olhos esbugalhados. Berrava que nem um desalmado:

– Roubaram o dinheiro!...

 

Anastácio, agente da Polícia Judiciária, foi nomeado para investigar o «caso». Chegado ao local e após ter ouvido as dissertações de Tiago, achou conveniente escutar as versões de Alberto Mateus, José Alves e Júlio Barros, ex-sócios daquele.

Disse Alberto Mateus:

– Quando cheguei, estava Tiago a sair de casa. Disse-me que tinha de ir à fábrica buscar uns livros que faziam falta na nossa transacção. Fiquei só, mas sempre no jardim e nas traseiras da casa, entretido com a criação. Pouco depois apareceu o Júlio que disse ir dentro da vivenda verificar se lá se encontrava uma caneta que perdera…

– Qual a importância que tinha a receber? – quis saber Anastácio.

– Duzentos e cinquenta contos! – respondeu. – Aliás, é precisamente igual à dos restantes…

Depoimento de José Alves:

– Ao chegar, toquei à campainha por duas ou três vezes, mas ninguém velo abrir, pelo que, num gesto meramente casual, agarrei na maçaneta da porta… Esta abriu-se… Dei dois passos dentro de casa e chamei pelo Tiago; como ninguém respondesse, recuei e fechei a porta…

Enquanto falava, tinha a mão esquerda no bolso do casaco, fazendo tilintar algumas moedas que ali estavam. Subitamente, o seu semblante alterou-se…

– Que foi? – perguntou Anastácio.

– Bolas! Perdi o meu talismã, um caduceu miniatura – retorquiu, enquanto esquadrinhava todas as algibeiras do vestuário. – Não, não tenho dúvidas de que o tinha comigo, pois, quando vinha para aqui, afaguei-o várias vezes, esperançado de que, finalmente, iria ter dinheiro para vencer a enorme crise financeira em que me estou debatendo…

Declarações de Júlio Barros:

– Na verdade, quando cheguei junto do Alberto, ocorreu-me que ontem a minha caneta ficou esquecida na vivenda de Tiago, Fui procurá-la e encontrei-a, felizmente, já que é um objecto de grande valor estimativo.

– Quanto tempo se demorou dentro de casa? – interrogou Anastácio.

– O estritamente necessário para conseguir o meu objectivo. Mas, decerto, que foi pouco tempo, pois não passei da saleta de entrada; não foi preciso subir ao primeiro andar… Por isso, saí logo e voltei para junto do Alberto.

Evidentemente que Anastácio também quis analisar o local do «delito». Lá em cima, no escritório de Tiago, a desordem era quase total.

– Caramba, «isto» está virado do avesso… – monologou o investigador.

Abanou a cabeça e apanhou um maço de papéis do chão. Colocou-os em cima da secretária e procurou alguma coisa que servisse de peso. Avistou, debaixo de uma cadeira, uma insígnia constante de um pequeno ramo de oliveira, terminado por duas asas, à volta do qual se enroscavam duas serpentes. À falta de melhor, foi mesmo isso que colocou sobre a pilha de papéis.

Pediu a Tiago que lhe Indicasse o local onde estivera o dinheiro – setecentos e cinquenta contos, em notas de mil escudos, embrulhados em papel vulgar e presos com um elástico, pois ficara combinado que o negócio seria «nota à vista»; nada de cheques… Era na gaveta superior direita da secretária e, logo por infelicidade, a chave fora esquecida na fechadura… Num último relance de olhos ao aposento, Anastácio fixou o olhar num casaco que estava dependurado nas costas de uma cadeira. Tiago reparou no pormenor e informou-o que pertencia ao filho…

Vieram os dois para baixo, para junto dos outros. Foram recebidos com interrogações mudas. Era bem patente a expectativa… Apercebendo-se de tal, Anastácio saiu-se com esta:

– Bem, vou deixar aos amigos leitores-solucionistas do «Mundo de Aventuras» que respondam ao «quem?» e «porquê?»

Assim…

 

PERGUNTA-SE:

1 – Quem motivou o desaparecimento do dinheiro?

2 – Justifique convenientemente a sua resposta à alínea anterior.

 

 

SOLUÇÃO

© DANIEL FALCÃO