Autor Data 12 de Fevereiro de 2012 Secção Policiário [1071] Competição Campeonato Nacional e Taça de
Portugal – 2012 Prova nº 1 (Parte II) Publicação Público |
A AGRESSÃO DA CÉU General Inverno A
cidade transpirava de uma vaga de calor que a invadia há já alguns dias.
Muito embora estivéssemos no mês das trovoadas, como o povo gostava de lhe
chamar, não era muito usual que houvesse tanto calor abrasador, como estava a
acontecer. A
passarada andava de bico aberto e por todo o lado, onde havia um ponto de
água, a concentração de vida era grande, disputando a frescura de cada gota. O
Carlos tinha acabado de chegar ao café e saudou os presentes, pedindo “uma
fresquinha”, aguardando pela chegada da cerveja bem gelada. Enquanto
bebia, foi comentando e desafiando os presentes: –
Já viram o que aconteceu à Céu? Vejam só como foi possível, uma senhora tão
pacata e simpática, ser agredida daquela maneira, por uns quantos euros… Perante
o silêncio dos presentes, continuou: –
Os filhos já lhe tinham dito uma data de vezes para não abrir a porta a
qualquer um que tocasse à campainha, mas o que se há-de
fazer? Esta gente com uns anitos ainda está no tempo em que as portas podiam
ficar abertas que nada acontecia… –
Ó senhor Carlos, mas quem é que nos diz que foi alguém estranho, algum
pedinte ou assim? – perguntou o Zé Tasqueiro. –
Ora, ora, senhor Zé, era só o que faltava que tivesse sido alguém cá do
bairro! Nunca cá aconteceu nada assim… – ripostou o Carlos. –
Há sempre uma primeira vez para tudo. E aqui para nós, o filho mais velho da
Céu não parece ser boa rês. Eu desconfio dele, é mau como as cobras… –
Lá está você! Como ele não vem cá ao seu café, é logo um bandido de primeira!
Ora abóbora, então o homem ia dar cabo da própria mãe, para quê? – insurgiu-se Carlos. – Que diabo, mãe é mãe! –
Pois, pois, mas eu nestas coisas nunca me costumo enganar… –
Olha, olha, aqui o senhor Zé agora parece que é bruxo! Só nos faltava mais
essa… –
Eu conheço a casa da Céu, já lá estive muitas vezes e sei que a porta do
quarto dela fica mesmo em frente da porta da entrada, ao fundo do corredor.
Ela escolheu aquele quarto para entrar o sol pela janela, assim que nasce.
Assim, diz ela, levanta-se logo com os primeiros raios que se projectam pelo corredor assim que abre a porta do quarto…
– começou o Zé. –
Está bem, está bem, mas o que é que isso interessa para a agressão? –
Pronto, pronto, estava a divagar, porque a agressão foi às seis da tarde e o
sol não é para aqui chamado, mas pronto. –
Pronto, o quê? Diga lá o que quer dizer e deixe-se de lérias… –
A Céu é uma mulher muito recatada e não ia abrir assim a porta a qualquer um… –
Ó senhor Zé, mas quem é que lhe disse que ela abriu a porta a alguém? Não se
sabe… –
Aí é que o senhor Carlos se engana! O Teodorico viu-a à conversa com um
homem, à porta de casa! –
Um homem, que homem? –
Não conseguiu ver, à noite era difícil identificar quem lá estava, mas ele
viu a Céu à conversa com um homem à porta de casa! Ele ia a passar e olhou
para lá e viu. Mas como estava com pressa não parou nem se interessou muito
por isso. –
Podia ser um filho, não? –
Podia, pois. E sabe que mais, eu acho que era mesmo o filho mais velho, sem
tirar nem pôr. Acho-o mesmo bera e capaz de tudo, até de dar uma tareia à mãe
e deixá-la mal… –
Lá está você! O homem não vem ao seu café e é logo o pior dos bichos. Livra,
por isso é que eu venho cá… –
Ó senhor Carlos, acredite que eu não tenho nada
contra o filho, quero dizer, nada de palpável, queixas, entende? Mas o tipo é
má rês, só lhe pede dinheiro e mais dinheiro e só anda em volta da mulher
quando ela recebe a pensão! Bolas, aquilo é um tipo do piorio. Para mim foi
ele que lhe quis sacar mais algum e como ela não tinha ou não queria dar-lhe,
deu cabo dela. Só pode ser isso! –
Eu acho que o senhor Zé sabe demais! Ai sabe, sabe! –
O que é que quer insinuar, que fui eu, não? Acha que fui eu? Para quê,
diga-me? Se calhar para lhe roubar a pensão do defunto, não? –
Ora, senhor Zé, ela ainda é muito apetecível e a gente vê bem os olhares que
você lhe deita quando ela aqui vem… E conhece a casa dela, por dentro e por
fora… Ó senhor Zé, se calhar… Não acredito que lhe
quisesse fazer mal, mas pode ter acontecido uma confusão, qualquer coisa
assim… –
O quê? Ó senhor Carlos, o senhor ofende-me! Nunca seria capaz de fazer mal a
uma mulher e muito menos à Céu! Credo, que coisa! –
Desculpe lá, mas eu não sei nada, só estou a falar porque o senhor parece
saber mais do que toda a gente. –
O Teodorico viu esse homem e se fosse eu ele dizia logo, não? Ele conhece-me
muito bem e acusava-me logo, não? Mas o que estou eu para aqui a dizer? Estou
a justificar-me de uma coisa que não fiz, era só que me faltava! –
Ande lá, senhor Zé, encha cá os copos e beba também uma fresquinha, que está
a precisar, vá que eu pago! Mas que o senhor anda babadinho pela Céu, isso é
certinho! –
Lá está o senhor… –
Vá, vá, deixe lá que a polícia vai descobrir quem fez aquilo à viúva
apetecível e depois vamos saber! Uma coisa sei, e essa coisa é que eu não
fui! Estava a dezenas de quilómetros de cá, que isto de ser viajante é assim
mesmo… Queremos
saber quem terá dado indícios de ter sido o agressor: A
– O Carlos B
– O Zé Tasqueiro C
– O Teodorico D
– O filho mais velho da Céu |
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© DANIEL FALCÃO |
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