Autor

Hal Foster

 

Data

29 de Julho de 1982

 

Secção

Mistério... Policiário [362]

 

Competição

Torneio “Do S. Pedro ao Natal” - 82

Problema nº 2

 

Publicação

Mundo de Aventuras [459]

 

 

O CREME NÃO COMPENSA

Hal Foster

 

Há lutas e lutas, assim como há mar e mar…

Lutas, pelas razões mais disparatadas imagináveis…

É… Acreditam que alguém lutaria por um creme?

Eu acredito… Até sei de uma história em que dois irmãos se zangaram por um, que lhes fora oferecido pela mãe, a tal ponto que tiveram de ser tratados…

Um deles, em jeito de desabafo, disse:

– Afinal, o creme não compensa…

 

Isto é anedota, pois é!

No entanto, vejamos a realidade.

 

O MOMENTO:

– O quê? Tu aqui, com isso?… Então não te disse que o deixasses em casa? – Aí, descarado… A prole de rostos iguais, na mesma transparência sombria, olhava indiferente, a briga entre marido e mulher… Qual quê!

De sopetão, qual raio fulminante caindo dos céus, arrancou-o, resoluto, no mesmo golpe. Ela ficou estupefacta, desarticulada e estarrecida (…) com tamanha ousadia e atrevimento…

…Só depois de alguns segundos de reflexão, embora breves, encontrou resposta pare o que acontecera.

…Nem mais gordo nem mais magro, que raio de «coisa»! De certo, apenas sabia que as bolinhas pertenceram… Pobre avó! Tão feliz estava, quando lhas entregara!… Um olhar terno e uma recomendação. – «Tem cuidado… Olha que isso hoje custa para cima de um dinheirão. Ao preço a que ele está»

Estava roubada!

Apesar da brevidade, breve, quando o sangue-frio voltou e as campainhas soaram, já ele se perdia na confusão de braços, de pernas e de vultos.

Ao artista, que se acercara, nada lhe passou despercebido. Há que encetar perseguição.

Lembrava-se, sim lembrava-se, que o «gajo» era mais ou menos da sua altura, tinha umas «jeans» já rafadas, usava umas sapatilhas cor de «burro quando foges» e uma camisola… isso sim – vermelho vivo com riscas brancas ao alto! Fácil. Até qualquer cego via…

O tipo, na praça A, passara ao largo B e agora virava para a rua C, prolongando-a quase até ao fundo, dirigindo-se então, para a rua do Alecrim. Ao longe o artista perseguia-o e, embora visualmente o fosse perdendo entre a chusma de pessoas, alternava esses períodos com boas abertas, vendo-lhe e pressa com que caminhava, alternando ele também com olhadelas fugidias vara trás.

O artista que o perdera momentaneamente de vista, quando ele dobrava para a rua do Alecrim, correu. Chegou ao princípio da rua e olhou até ao fundo dela – era comprida, «cum raio»! E do «índio» nem sombra… Onde se teria metido? Nalguma sacada, talvez… Como do talvez nunca ninguém governou vida, há que prontamente verificar!

Assim, teve o nosso artista que percorrer minuciosamente todas as tascas e apeadeiros, digo, portas abertas, lojas e estabelecimentos, do lado de cá e do lado de lá.

Aqui uma ourivesaria, meia dúzia de «gatos», nada. Do outro lado da rua na mesma direcção uma tabacaria, depois uma loja de panos, um café, nada… Isto está bonito, diria Lavoisier… Mais adiante, ao passar por um tipo que saira de uma camisaria… Alto – pensa. Um tipo muito parecido com o que tinha em mente, com qualquer coisa sob o braço.

Sapatilhas de tal cor (ou seriam quando «ele não foge») as tais calças rafadas, camisa azul marinho. Que pena. Ao olhar para dentro de uma farmácia, logo a seguir, lembrou-se de olhar para trás, rectificando posições…

E lá viu o papelinho baloiçar todo contente, rodopiando ao sabor da aragem que soprava fresca e apetitosa. Ter-se-ia ele esquecido com a pressa, ou o «azêmola» do caixeiro não esteve para se maçar?… O certo, certinho é que ele ali estava, símbolo de que a posse em primeira, não é posse em segunda.

Correu «foito» o artista, afrouxando o passo ao aproximar-se do «mamífero».

– Eh, amigo! Desculpe a observação: uma «coisa» dessas custa cara, hem? Mostra-me o que leva aí, por favor? – cinicamente implorando.

– Quê, que se passa? Algum murro nas (…)!

– Eh, lá. Calma e educação, então, então? São precisos métodos mais concretos ou quê? – e identificou-se…

– (…)

– Mostre lá, então, então! Somos civilizados, ou não somos?

E então viu que sim. Que afinai a dedução estava correcta, O «gajo» era um mariola dos de primeira apanha e além de ter as duas coisas com ele, o seu nome era já «familiar no circuito».

O responsável da venda confirmou-a. Houve que restituir a outra à sua legítima proprietária. Efectivamente ela, agradecida, chorava de alegria. O nosso homem, a meu lado, permanecia de cabeça baixa… Entretanto o ajuntamento que era grande, tornou-se maior. Era a lei de Lynch… Não fora o expediente do artista a «coisa» ficaria muito preta.

Já a caminho da nova morada o «cliente» lembrou-se de se penitenciar:

– É sempre o mesmo… não consigo resistir à tentação! Oh, sôr agente perdoe… – e continuou – o sôr que tem assim, digamos, experiência nestes assuntos, concorda com o dito – o crime não compensa?

– Porque não dás tu a resposta? Eu até não gosto de doçuras!...

 

A reinar se constrói um policiário! (Chavão).

Compreenderam a história? Não? Então voltem a lê-la com calma… Está lá tudo, para poderem responder…

01 – O que foi roubado?

02 – Sobre o quê, recaiu atenção do artista quando se virou para trás, traduzido em termos, no nome vulgar?

03 – Que tinha ele sob o braço (além de um certo odor, claro)?

04 – Reconstitua à sua maneira (descontando as larachas) toda a sequência desta história.

 

E o preço? Uma agradável surpresa.

 

SOLUÇÃO

© DANIEL FALCÃO