Autor Data 4 de Junho de 2017 Secção Policiário [1348] Competição Campeonato Nacional e Taça de
Portugal – 2017 Prova nº 5 (Parte I) Publicação Público |
A MORTE DO AGIOTA Inspector Aranha 1º
tempo: Vou
matar o “velho”. Estou farto desta situação de dificuldades económicas, de
condicionalismos a que ele me submete, enquanto assisto, no dia-a-dia, ao aumento
da sua fortuna através de juros altíssimos que “suga” nos seus empréstimos.
Agiota e avarento, são expressões correctas para o definir. Por um lado,
ajuda a resolver situações difíceis a muita gente que, neste período de
acentuada crise, a ele recorrem cheios de problemas, mas, por outro, pelas
duras condições que em contrapartida impõe, muita infelicidade tem também
provocado a quem, depois, não as pode cumprir. E, nestes casos, não revela um
mínimo de sensibilidade – é implacável, mandando penhorar bens, ordenados,
promovendo ameaças, potenciando ainda mais a desgraça dessas pessoas… Nem
para comigo, seu sobrinho e único herdeiro, ele consegue revelar alguma
liberalidade. A mensalidade que me concede é ridícula perante as suas
possibilidades (e as minhas necessidades) assim me impondo, também, as
dificuldades que eu não gostaria de sentir nesta idade… não conseguindo
compreender que só temos uma juventude para viver… Mas
chega, a partir de hoje não continuará a poder espalhar mais infelicidade. Acabei
de “teclar” no meu velho computador (de que me vou imediatamente desfazer), e
imprimir, a carta que irá ser encontrada na secretária, junta ao seu corpo,
direccionando assim as suspeitas da sua morte não natural para um acto de
suicídio, por temor da (mais uma) ameaça à sua existência, por alguém do seu
vasto universo de clientes que a ele têm recorrido. Planeei
tudo. Eliminá-lo-ei e sairei de imediato para um evento público, afim da
minha presença ser ali registada quando o corpo for descoberto e o alarme
dado – quase certo que pela empregada doméstica que, diariamente, às 10 horas
entra ao serviço, pois, sendo embora apenas eu e ele a viver naquela casa,
meu tio exigia que sempre tudo nela estivesse impecável. Por isso me inscrevi
na prova de 10 km, que integra a 26ª Meia-Maratona de Lisboa, cuja
classificação, registando o meu nome (e com que sacrifício o irei conseguir,
meu Deus!…) me conferirá o necessário álibi. Depois, é aguardar os
acontecimentos, certo de que, mesmo que a morte não venha a ser reconhecida
como devida a suicídio, também dela não será descoberto um culpado – para
mais existindo tantos potenciais suspeitos… E assim estará dado o decisivo
passo para uma outra vida mais livre e feliz… 2º
tempo: Dado
o alarme, como previsto, a Polícia deparou com o corpo sentado à secretária,
caído de bruços sobre esta, manchada de sangue sob a cabeça, proveniente de
um furo regular que o parietal direito exibia. O braço do mesmo lado pendia
na perpendicular, segurando na mão a sua pistola “Browning”. Vasculhado o
escritório, nada mais nele se apresentava como passível de ser classificado
de anormal, salvo a existência de uma folha de papel de formado A-4, maculada
apenas com o seguinte: 19-03-2016 Miserável agiota Recusando as moratórias de pagamento que
solicitei, e ameaçando-me com uns “gorilas” para me “fazer lembrar os
compromissos”, perturbaste significativamente a minha tão já difícil
existência, e ditaste o destino da tua… Também o fizeste com outros, mas,
perdido como estou, não vou dar-te oportunidade a que continues a desgraçar a
vida de mais ninguém… Adeus, sê feliz com o teu dinheiro… no outro mundo… 3º
tempo: Pensava
bem ter planeado e executado a eliminação do “velho”. Todavia, não tardou que
a Polícia pusesse em causa o meu álibi, e me detivesse como suspeito do
assassínio de meu tio. 4º
tempo: É o vosso,
amigos leitores. O tempo de analisarem com cuidado a história descrita,
extraírem as vossas conclusões, descrevendo nomeadamente as causas que terão
fundamentado as suspeitas da Polícia e remeterem os relatórios… |
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© DANIEL FALCÃO |
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