Autor

Inspector Barba de Arame

 

Data

9 de Maio de 1993

 

Secção

Policiário [97]

 

Competição

Supertorneio Policiário 1993

Prova nº 5

 

Publicação

Público

 

 

DUELO DE GIGANTES…

Inspector Barba de Arame

 

Houve um dia, no Verão de 1968, época de guerra fria, que a humanidade desconhece. Hoje revelo-vos essa história porque estou no meu leito da morte, sou dos poucos homens que viveram por dentro esse dia dramático e o único ainda sobrevivente.

A tensão entre as duas superpotências tinha atingido o auge. Os respectivos líderes preparavam-se para a ordem fatídica que desencadearia a III Guerra Mundial. Através da linha vermelha, ambos conversavam enervadamente. Até que alguém, num assomo de desespero e bom senso também, lhes propõe um desafio curioso: cada um deles apresentaria ao outro um enigma policiário, que teria de ser solucionado. Caso um deles errasse, sujeitar-se-ia às imposições do outro; caso houvesse um empate, os dois blocos recuariam nas suas pretensões e o equilíbrio estratégico seria mantido. Reuniram os seus conselheiros e, senhoras e senhores, o jogo começou!

EUA – “Houve um assassinato nocturno, numa pequena cidade da Europa Mediterrânica. A polícia local suspeitava de um de dois gémeos, que proferira graves ameaças de morte à vítima nos dias precedentes. Os gémeos eram autênticas fotocópias, tais as parecenças, mas tinham uma disputa qualquer entre eles e um ódio bem conhecido de todos os habitantes da cidade.

Auscultadas as versões dos dois irmãos, o inspector que conduziu as investigações hesitava num veredicto final. Um dos gémeos, mr. X, conhecido diletante da sociedade local, afirmou que esteve numa festa badalada e movimentada no principal clube da cidade à hora do crime, mais ou menos, mas aborreceu-se por não encontrar ninguém conhecido e foi até à igreja, onde esteve em meditação conjuntamente com outras pessoas, mas não se lembra bem de que tratou a meditação, embora tenha ele mesmo lido uma parte qualquer de S. Paulo; o seu irmão, mr. Y, empresário obscuro, situou-se a essa hora numa experiência religiosa inédita para si (a mesma do seu gémeo) e, nas suas próprias palavras, contou que meditara em grupo sobre alguns textos da Bíblia, tendo oportunidade, inclusive, de fazer a leitura de uma mensagem de uma carta escrita em Corinto por S. Paulo, sobre a divisão das igrejas, a designada como 2ª Carta aos Coríntios.

Obviamente, só estivera na igreja um deles, estando o outro a procurar comprometê-lo, mas quem conseguiria distingui-los?

Inocentes ou culpados, por mentiras, ambos ou algum dos gémeos?”

URSS – “Numa ancestral ordem religiosa, já extinta, um dos mosteiros estava encravado numa colina escarpada no longínquo asiático. Nessa ordem existiam alguns preceitos comportamentais, sendo um dos mais importantes aquele que obrigava os zeladores da biblioteca a trocarem, de quatro em quatro horas, a Vela Vigilante, que ardia perpetuamente junto da respectiva porta. Tratava-se de uma vela inicial de dois metros, que tinha de ser trocada em cada intervalo por um zelador diferente, quando atingia quase a metade, segundo uma ordem pré-determinada entre os seis zeladores perpétuos. A troca da vela accionava um dispositivo que abria a porta da biblioteca, pelo que só era possível lá entrar em seis momentos do dia.

Em tempos, um dos livros sagrados desaparecera entre a manhã e a tarde e as suspeitas recaíram sobre o zelador do meio-dia, que defendeu a sua inocência dizendo que não estivera junto da biblioteca na sua hora, pois caíra antes por umas escadas, recolhendo-se no seu quarto para tratar da entorse. Só conseguiu chegar junto da biblioteca às 16h em ponto. O zelador da tarde confirmou que se preparava para trocar a vela quando se assustou com a enorme sombra projectada na parede aquando da chegada do seu irmão de fé. Mas os acusadores acharam que o suspeito encenara essa chegada tardia e que, sub-repticiamente, teria estado na biblioteca e roubado o livro entre as 8 e as 16h.

Inocente ou culpado este zelador?”

A partir desse momento, cada superpotência possuía exactamente um minuto para responder!

Tic-tac-tic… “Suspense”... 6, 5, 4, 3, 2…

A URSS respondeu que apenas um dos gémeos era culpado, o mr. Y, e os EUA arriscaram a alternativa da inocência do zelador do meio-dia.

E justificaram-se…

Quem venceu este embate entre gigantes?

 

SOLUÇÃO

© DANIEL FALCÃO