Autor

Inspector Boavida

 

Data

19 de Fevereiro de 2007

 

Competição

Torneio Sete de Espadas

Prova nº 3

 

Publicação

CLUBE DE DETECTIVES

 

 

O CASO DO LEILÃO DE PINTURA REALISTA

Inspector Boavida

 

Manuel Pimpão, construtor civil que subiu na vida a pulso, actualmente possuidor de uma enorme fortuna, não é propriamente um “expert” em matéria de artes plásticas, muito pelo contrário, mas tem um particular fascínio por obras de arte realistas, sobretudo as que espelham com rigor paisagens, monumentos e pessoas pelas quais nutre respeito e admiração, sendo neste momento detentor de uma vasta e valiosa colecção.

Aquela sua paixão levou-o há dias a um leilão de Obras de um pintor-retratista dotado de extraordinária sensibilidade, falecido em circunstâncias pouco claras num acidente de viação ocorrido numa “picada” em Angola, quando ali rebentou a guerra colonial, que tinha a particularidade de pintar figuras públicas socorrendo-se apenas de fotografias publicadas em capas de revistas, retratando-as até ao mais ínfimo pormenor, a expressão, o brilho do olhar e até o carácter...

O leilão foi calmo, sem fulgor, sem chama, com os licitadores a arrematar cada uma das Pinturas sem despiques de relevo. Pimpão arrematou um belíssimo Quadro onde se via Salazar a agraciar um soldado de uma companhia de comandos com a medalha de Cruz de Guerra, numa parada militar, junto ao Mosteiro dos Jerónimos, depois de dois lances disputados com um misterioso sujeito de bigode farto e retorcido, vestido de gabardina, adquirindo de seguida, sem oposição, uma Obra que retratava o antigo presidente da República General Spínola no dia da sua tomada de posse.

Para além daquele despique, aconteceu ainda uma pequena “picardia” entre os mesmos protagonistas quando o leiloeiro anunciou um soberbo Retrato do grande Eusébio, com a camisola das quinas, rematando, no seu estilo inconfundível, para um dos cinco golos com que Portugal “brindou” a selecção da Coreia do Norte no Campeonato do Mundo de Futebol, realizado em Inglaterra, que o sujeito de gabardina acabou por arrematar por um valor apreciável.

Mas a grande discussão gerou-se quando o leiloeiro anunciou a última peça, um fantástico Retrato 1,80mx1,20m a óleo, com o capitão Salgueiro Maia em pleno largo do Carmo, em cima da Chaimite que o trouxe da Escola Prática de Cavalaria, de Santarém até Lisboa, naquela primavera de cravos e sorrisos, que abriu as portas à Liberdade. Após quatro lances “inflamados”, Pimpão acabou por arrematar aquela preciosa Obra que o deixou radiante de felicidade.

Porém, quando, no final do leilão, se preparava para passar o cheque com o valor das Obras que havia arrematado, Pimpão viu-se envolvido de repente numa enorme confusão de gritos, insultos e agressões físicas, que só não tomou proporções muito mais graves graças à pronta intervenção do subchefe Pinguinhas que se encontrava em serviço no local.

Firme e decidido, impondo a sua autoridade, Pinguinhas pôs fim à altercação e levou o construtor civil Manuel Pimpão, o tal sujeito de bigode farfalhudo e o leiloeiro, até ao posto da Polícia, onde resolveu o caso em “menos de nada”. Primeiro identificou os três e depois mandou dois deles de volta e deu ordem de detenção ao outro.

Pergunta-se: quem ficou detido e porquê?

 

SOLUÇÃO

© DANIEL FALCÃO