Autor Data 8 de Maio de 2016 Secção Policiário [1292] Competição Campeonato Nacional e Taça de
Portugal – 2016 Prova nº 4 (Parte II) Publicação Público |
A CRIATURA VISITA O CRIADOR Inspector Boavida Um rebate de consciência ou
um ataque súbito de saudades levou o subchefe Pinguinhas até ao Porto para um
encontro com o seu criador. O Inspetor Boavida não o sabia, mas a criatura
ganhara vida e vontade próprias. Ainda não eram seis horas da manhã e já
Pinguinhas estava na Estação de Santa Apolónia para apanhar o primeiro
comboio Alfa Pendular do dia, tal era a sua enorme vontade de voltar ao
norte, de estar de novo com o seu criador e de rever alguns confrades, como o
Jartur, o Agente Guima ou o Sargento Estrela. E tinha ainda a secreta
esperança de que o bracarense Daniel Falcão e o viseense Zé rumassem também
eles à cidade Invicta para dois longos dedos de conversa. Só não queria
encontrar-se com o fanfarrão e mitómano Smaluco, mas este devia andar pelos
lados da cadeia de Tires, onde a sua amada Natália Vaz está presa. Para se ocupar durante as
quase três horas de viagem, Pinguinhas abasteceu-se de diversos jornais e
revistas do dia, que foi esfolheando, página a página, até cair num sono
profundo, depois da leitura atenta e cuidada de uma análise acerca da crise
política nacional, ultrapassada duas semanas antes com a tomada de posse do
novo Governo, contra a vontade do Presidente da República (que preferia ter
dissolvido a Assembleia, mas…); de um perfil da responsável pela Pasta da
Cultura (um setor de atividade de que é apaixonado); de um artigo de opinião
sobre o papa dos presidentes dos clubes de futebol nacionais (um homem que
admira profundamente); de uma crítica a um novo espetáculo do Teatro Nacional
São João (uma instituição que muito aprecia)... Estas e outras matérias
jornalísticas preencheram-lhe as meninges antes de chegar a Coimbra B. Quanto o comboio parou nas
Devesas, em Gaia, Pinguinhas despertou e logo se afundou em pensamentos mais
ou menos saudosistas. Fora ali, numa tasca mesmo em frente da Estação que ele
nascera, alguns anos antes, da pena e imaginação do seu criador. Já então
havia sido criado o seu irmão Smaluco, a quem foi dado todo o protagonismo,
sendo ele relegado para o esquecimento. Desgostoso, fugiu para Lisboa, onde
reside e desenvolve atividade numa esquadra de Polícia na baixa da cidade.
Esteve algum tempo sem dar cavaco ao seu progenitor, mas pretende agora fazer
as pazes com ele. Talvez o Inspetor Boavida, ao perceber o seu
arrependimento, o aceite de volta sem quaisquer ressentimentos e lhe dê a
oportunidade de inscrever finalmente o seu nome nas lides policiárias,
conquistando um lugar na galeria das personagens mais assíduas. O subchefe Pinguinhas fez
com sentida emoção a travessia da ponte de São João cantarolando baixinho a
canção de Rui Veloso: “Quem vem e atravessa o rio / Junto à Serra do Pilar /
Vê um velho casario / Que se estende até ao mar”. E continuou, de olhos
emudecidos: “Quem te vê ao vir da ponte / És cascata são-joanina / Erigida sobre
o monte / No meio da neblina”. Parou de cantar e murmurou: “E é sempre a
primeira vez / Em cada regresso a casa / Rever-te nessa altivez / De milhafre
ferido na asa”. Quando o comboio parou na Campanhã, Pinguinhas saiu lesto e
apressou-se a tomar um táxi para o centro da cidade. Não havia tempo a
perder. Quatro desejos animavam-no como missão para aquele seu primeiro dia
no Porto, mas só um deles era concretizável. Qual? A – Pedir uma audiência ao
Presidente da Câmara do Porto, Rui Rio. B – Visitar o Museu do
Futebol Clube do Porto. C – Assistir a um concerto
do pianista Pedro Burmester. D – Cear no restaurante
DOP, do Chef Rui Paula, com o Inspetor Boavida. |
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© DANIEL FALCÃO |
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