Autor Data 1 de Setembro de 2024 Secção Competição Torneio
Cultores do Policiário Problema Policiário nº 9 Publicação Blogue Repórter de Ocasião |
O INSPECTOR FIDALGO APOSENTADO Inspector Fidalgo Todos
os anos, num hábito muito português, se calhar de toda a gente, onde quer que
viva, o Inspector Fidalgo percorria o calendário à
procura de feriados e pontes que pudesse aproveitar e assim, com dois ou três
dias de férias conseguia uma semana ou mais. E como trabalhava em Lisboa, a
combinação de feriados religiosos, nacionais e municipais era a mais apetecida
e sempre utilizada. Mesmo
depois de estar aposentado e sem ninguém a quem prestar contas desse género,
esse hábito continuava, mas desta feita já não precisava de escolher destinos
para onde fosse mais adequado levar miudagem ou adolescentes em tempo de
aulas e podia apontar para outros horizontes, sempre na companhia da grande
vítima das suas ausências frequentes, quando ainda estava ao serviço. O
passeio estava a ser excelente, a temperatura um pouco baixa, é certo, mas o
céu estava limpo e o sol radioso, nada de ventos, só uma brisa fresca
lembrava que não era verão... –
Inspector Fidalgo, que surpresa! Minha senhora, os
meus cumprimentos! Quem diria que o ia encontrar por aqui! O
Venâncio, que encontrou em algumas formações de intercâmbio que ministrou,
estava eufórico com o encontro e logo deu a entender que precisava de
ajuda... –
Senhor Inspector, estou a
braços com um caso que me está a fazer cabelos brancos. Preciso de ajuda e
parece que deus ouviu as minhas preces e mandou-o! –
Venâncio, estou de férias e, mais que isso, estou
aposentado! A minha mulher “matava-me” se continuasse a... –
Vá, minha senhora, não deixe a seu marido fazer-me uma coisa destas... A
senhora tem ar de boa pessoa... Fidalgo
olhou para a mulher e notou que ela escondia o riso, perante a insistência
teatral do homem, acabando por anuir: –
Vai lá, estás mortinho por te meteres em mais uma… olha, vou ali para o
Shopping e quando estiveres despachado vai lá ter e não esqueças a carteira!
– brincou. Venâncio
levou o Inspector Fidalgo até uma floresta próxima,
onde tudo se passara. Já
no regresso, a caminho do shopping, foi fazendo o ponto da situação, para os
seus botões: –
Ora bem, Fidalgo, afinal o que é que tens? O Zé Matulão é um tipo cheio de
dinheiro, ou pelo menos assim parecia e na semana anterior esteve
desaparecido. Andaram à sua procura, mas nada. Então, apareceu debaixo de uma
árvore, sentado em cima das folhas caídas, mesmo na orla da floresta. Não
disse nada e só mais tarde revelou que ia no carro, ao cair da noite, com uma
colecção sua de objectos
valiosos, quando lhe deu vontade de urinar. Parou e assim que saiu do carro
foi abordado por uns tipos, que o manietaram e raptaram para aquela floresta.
Disse que andaram com ele, a pé, inicialmente com os olhos vendados, toda a
noite e foi abandonado de madrugada, no meio da floresta, sem fazer a mínima
ideia onde estava. Tentou descobrir trilhos no chão, que pudesse seguir, mas
como estava tudo coberto com as folhas caídas, não conseguiu. Então, disse
ele, caminhou sem saber para onde e acabou por descobrir que andava às
voltas, quando regressou ao ponto de partida depois de muito andar e só à
noite, graças às suas recordações de infância dos exercícios nocturnos dos escuteiros, no Norte de Portugal e às
árvores com copas despidas, conseguiu orientar-se olhando para o céu e seguiu
o rumo que o salvou. Ficou-lhe
no ouvido a frase final do Venâncio: –
Esta floresta é imensa e uma pessoa pode nunca encontrar saída nem ser
encontrada. Teve muita sorte! O
Inspector Fidalgo ainda caminhara um bom bocado
pela floresta, em cima daquele tapete de folhas amarelecidas, elevou o olhar
para o sol que brilhava por entre os ramos quase completamente despidos e
ainda questionou: –
E o carro? E os objectos? –
Nada. O carro deve ter sido desmantelado ou destruído e os objectos devem ser traficados e alguns devemos apanhá-los
mais tarde. Pelo menos os que têm seguro e por isso foram fotografados. Os
outros… –
Seguro grande? –
Nem por isso. Ele diz que a maior parte não tinha, o Zé Matulão foi bem
tramado! Praticamente
ao chegar junto da entrada do Shopping, Fidalgo virou-se para o colega… –
Ó Venâncio, o Zé Matulão não teve tanta sorte assim e muito menos foi
tramado! Trate de o mandar deter e puxe por ele! Pergunta-se: –
O que fez o Inspector Fidalgo tirar esta conclusão? –
Justifique devidamente. |
|
© DANIEL FALCÃO |
||
|
|