|
Autor Data 11 de Março de 2018 Secção Policiário [1388] Competição Campeonato Nacional e Taça de
Portugal – 2018 Prova nº 2 – Parte II Publicação Público |
O CASO DA MORTE DE ELISA Inspetor Boavida O subchefe Pinguinhas tinha
acabado de se refastelar no seu sofá preferido da sala de estar da sua nova
casa, na baixa de Lisboa, após uma jornada intensa de trabalho quase
ininterrupto de dez horas, iniciada às dez da manhã, quando o telemóvel
tocou. Era o subintendente Pezinhos a pedir-lhe o favor de tomar conta de uma
ocorrência registada naquela rua, três prédios acima do seu. O prédio em
questão é composto por três andares, totalmente ocupado por uma conhecida
empresa de pronto-a-vestir. No piso térreo funciona a loja dedicada aos
últimos modelos de homem e senhora; no primeiro piso funciona um armazém
aberto ao público com restos de coleção das épocas mais recentes para todos
os géneros e crianças, destinados à clientela menos endinheirada; no segundo
piso funcionam os escritórios da empresa; e no último piso, situam-se dois
gabinetes, do sócio-gerente e da sua secretária, e uma sala para reuniões. Ao chegar junto do prédio,
Pinguinhas encontrou à porta da loja o sócio-gerente da empresa, um homem de
boa aparência, elegante, alto e magro, moreno, de cabelo castanho claro e
olhos verdes, com cerca de 50 anos, que se apresentou como Carlos Marques.
Denotando algum nervosismo, levando constantemente o cigarro à boca, afirmou
que tudo havia acontecido no terceiro andar, cerca de uma hora depois de a
empresa ter encerrado ao público e quando todos os funcionários já haviam
abandonado as instalações, à exceção da sua secretária, Elisa Fagundes. Ele
tinha saído do seu gabinete por volta das seis e meia da tarde para atender
um cliente que requisitara a sua presença na loja, no sentido de reclamar da
maneira como fora atendido por um empregado do setor masculino. Resolvida a
questão, e já algum tempo depois de encerrada a empresa, disse ter-se
dirigido às traseiras do edifício para fumar um cigarro. E foi aí, nesse preciso
momento, que se terá confrontado com a queda da sua secretária no chão, que
teve morte imediata. Estarrecido com a ocorrência,
disse ter-se sentido completamente perdido, não sabendo o que fazer, pelo que
decidiu ligar para o seu amigo Pezinhos, que lhe disse para não tocar em
nada, o que assim fez, e que ficasse à porta da loja a aguardar pela chegada
de um dos seus subordinados que morava nas proximidades. Sou eu – disse o
Pinguinhas – sou vizinho da sua empresa há pouco mais de três meses e tenho
ouvido alguns comentários sobre os seus grandes sucessos amorosos. Carlos
Marques, que é um homem casado, pai de dois rapazes, de cinco e sete anos, ruborizou.
Afirmou que esse tempo das conquistas amorosas já lá vai há muito, sendo
agora um homem completamente dedicado aos negócios e à família, sem tempo a
perder com romances estéreis que apenas contribuem para acumular problemas. O subchefe Pinguinhas disse
concordar com aquela sensata decisão de Carlos Marques e depois pediu-lhe
para subir com ele ao terceiro piso para ver o local onde Elisa trabalhava.
Preferiu fazê-lo a pé e, ao passar pelos dois pisos intermédios,
certificou-se de que ninguém estava nas instalações e que tudo se apresentava
isento de indícios de associação ao ocorrido. Por fim, ao chegar ao gabinete
onde trabalha a secretária do sócio-gerente da empresa, ficou parado,
percorrendo os olhos por todos os cantos do espaço. Em frente, uma grande
janela. As paredes laterais pejadas de alto abaixo de dossiês nas prateleiras
das estantes. A meio do gabinete, sobre a direita, uma secretária com um
computador, papelada variada, um copo meio de água, canetas… e um papel em
cima do teclado do computador, com um texto manuscrito com letras trémulas:
“Não aguento mais fazer mal a quem me ama tanto. E para quê, para ser
desprezada por quem me perdi de amor e me faz sofrer? É melhor assim.
Desculpem!” O subchefe Pinguinhas abriu
a janela e olhou para baixo. No chão, no enfiamento da janela, jazia Elisa,
uma mulher jovem, interessante, com pouco mais de trinta anos. E ele não
tinha dúvidas: fora dali que a pobre da secretária voara para o lajedo das
traseiras do prédio! Virou-se para Carlos Marques e, de forma sarcástica, perguntou-lhe há quanto tempo tinha um caso com Elisa. O
sócio-gerente da empresa continuava muito nervoso e não reagiu à pergunta. O
subchefe insistiu com a pergunta, ao mesmo tempo que quis saber se a sua
mulher sabia do caso. E, sem esperar pela resposta, acrescentou uma outra
pergunta: “Sabe onde está agora a sua mulher?” O subchefe Pinguinhas já tinha
uma ideia do que se teria passado naquele fim de tarde de um dia de verão de
2017, o que configuraria uma de quatro hipóteses. Qual está correta? A – Suicídio. B – Acidente. C – Homicídio praticado
pela mulher de Carlos Marques. D – Homicídio praticado por
Carlos Marques |
|
|
© DANIEL FALCÃO |
||
|
|
|
|