Autor

Inspetor Fidalgo

 

Data

23 de Janeiro de 2020

 

Secção

Policiário [3]

 

Publicação

Sábado [821]

 

 

NAMORO ATRIBULADO

Inspetor Fidalgo

 

O João chegou à escola naquela segunda-feira, em grande alvoroço. Não conseguia entender o motivo que levara um dos seus amigos a fazer-lhe aquela desfeita!

Em poucas palavras, conta-se a história: o João andava apaixonado pela Teresa, mas a sua timidez impedia-o de fazer uma abordagem direta, até que, depois de muito andar às voltas, acabou por se apetrechar com a dose indispensável de coragem e esperou por ela à porta da sua casa, logo pela manhã, à hora de ir para as aulas e acabou pedindo-lhe namoro. Qual não foi o seu espanto ao ouvir da boca dela que já sabia, porque um dos amigos do João a tinha alertado, na véspera, no café, dizendo-lhe que ele era muito tímido mas que gostava dela.

O João convocou os seus amigos para o café, com o seu tio Fidalgo, determinado a saber qual deles se tinha metido onde não era chamado:

– Senti-me muito envergonhado pela figura que um de vocês me obrigou a fazer perante a Teresa e quero saber qual de vocês provocou isto tudo. Portanto, Carlos, Tó, Zeca e Nico, toca a dizer o que fizeram ontem…

E ouviu um de cada vez em separado. Como lhe ensinara o tio.

O Carlos justificou-se, dizendo que estivera a estudar na véspera e não tivera tempo para mais nada. Os exames estavam à porta e ele tinha andado a cabular uma grande parte do ano e não podia continuar assim, ou acabava com um valente chumbo! Nem sequer saíra de casa e muito menos fora ao café.

O Tó foi dizendo que não sabia de nada do que se passara, aproveitara a véspera para ir até à praia porque tinha sido o primeiro dia do ano capaz de se fazer praia e bronzear um bocado. As ondas estavam boas e deu mesmo alguns mergulhos, passando lá todo o dia. Não esteve com a Teresa, nem a viu.

O Zeca disse que andou por aí, que até estava no café e viu a Teresa entrar, com umas amigas, mas não lhe falou sequer. Depois foi à casa de banho e quando regressou ia a Teresa a sair e ele ainda lá ficou. Pensou ir até à praia, mas acabou por se ficar pelo café, foi ao cinema ver uma comédia, onde encontrou o Nico e depois foram para casa dele jogar no computador.

O Nico revelou que tivera um dia muito aborrecido, sem nada para fazer. Só à tardinha é que encontrou o Zeca no cinema e foram jogar para sua casa. Não viu a Teresa durante todo o dia.

Por fim, João juntou os amigos e olhou cada um deles nos olhos. Olhava também para o tio, que ia anuindo com a cabeça, dando-lhe a entender que estava a fazer tudo bem. Notou que o Carlos estava divertidíssimo, fazendo das tripas coração para não desatar às gargalhadas; que o Tó estava pálido, quase a desmaiar, se calhar com as mentiras que disse; que o Zeca sorria e ia dizendo que não tinha nada com a coisa; que o Nico brincava com umas chaves e sorria de gozo.

Foi então que o João disse, alto e bom som:

– A Teresa aceitou! Vamos beber um copo!

E todos mandaram vivas e foram alegremente comemorar…

Mas a dúvida persistia, quem terá avisado a Teresa?

O João já sabia, ou não? O inspetor Fidalgo, com a sua experiência, não tinha qualquer dúvida…

Terá sido o Carlos, o Tó, o Zeca ou o Nico?

 

SOLUÇÃO

© DANIEL FALCÃO