Autor

Inspetor Fidalgo

 

Data

6 de Fevereiro de 2020

 

Secção

Policiário [5]

 

Competição

Torneio Sábado Policiário 2020

Prova nº 1 – Parte I

 

Publicação

Sábado [823]

 

 

O INSPETOR FIDALGO DESVENDA O CRIME…

Inspetor Fidalgo

 

Estava um daqueles dias aborrecidos, pastosos, complicados, em que nada apetece fazer. O céu estava bem carregado e havia tempestade no ar. O Inspetor Fidalgo detestava esses dias.

Por sua vontade deitava-se a dormir, numa inconsciência total, alheado de tudo e de todos… Só que o crime espreita em cada esquina e foi assim que lhe comunicaram que o famoso financeiro Antero Bilardo aparecera morto, em sua casa, em circunstâncias bastante estranhas. Crime, ao que tudo indicava, mas tornava-se necessária a sua presença, por via das dúvidas…

A casa era verdadeiramente espantosa e a sobriedade misturada com um requinte exótico transformava aquele ambiente num misterioso quadro, digno das mil e uma noites. O frio intenso que se fazia sentir no interior do escritório contrastava com o calor abafado e doentio que andava à solta nas ruas. No chão, bem perto da janela escancarada, jazia o corpo da vítima deitado de costas, com os olhos azuis fitando o branco do teto. No peito, lá estava a marca produzida pela arma da morte, um punhal de cabo prateado, que estava abandonado no outro extremo do compartimento.

O inspetor olhou para os presentes, aguardando algum sinal que o pusesse na rota certa. E ouviu:

– Senhor inspetor, eu sou o primo do Antero, chamo-me Afonso e tenha alguma coisa a contar-lhe, mas gostaria que fosse em privado…

Retiraram-se para um canto…

– Eu fui o primeiro a chegar ao escritório, no qual ia falar com o meu primo de uns projetos de negócio em que ando embrenhado… Ia pedir-lhe uma opinião e também, porque não confessá-lo, um financiamento! Só que não tive tempo… Ao chegar, ele já estava morto… O assassino deve ter entrado pela janela e matou-o. O que ele não sabe é que o meu primo deixou um sinal…

– Um sinal? Que sinal? Não notei nada de especial…

– Claro que não porque eu apaguei-o para não espantar o assassino… Sabe, o meu primo tem sempre a mania de estar com a janela aberta de par em par e, como é um andar térreo, sujeitava-se ao que aconteceu… Mas o que assassino não sabe é que ele não morreu logo… Viu onde estava o punhal? O meu primo arrastou-se até junto da janela e escreveu no embaciado do vidro o nome do criminoso…

– Estranha história…

– Eu sei, mas é a verdade. Está aqui a prova, nesta foto que fiz com o meu telemóvel, veja só no vidro embaciado o nome do criminoso…

– ADRIANO… Quem é o Adriano?

– É o secretário do meu primo.

O Adriano metia os pés pelas mãos, quando interrogado pelo Inspetor Fidalgo, não sabia o que tinha feito em determinadas horas, não sabia dizer a que horas tinha estado pela última vez com a vítima, mostrava-se, em suma, baralhado e assustado.

– Senhor inspetor, não sei de nada… Eu não tenho nada a ganhar com a morte do meu patrão… Nada! Perco o meu emprego, fico sem nada e tinha a confiança do senhor… Não me lembro das horas porque aqui perdemos a noção do tempo, não temos horários a cumprir, nada!... Sim, é verdade, que o patrão estava sempre com a janela escancarada e hoje mesmo, de manhãzinha, quando vim do mercado, notei a janela aberta e vi o vulto do patrão a trabalhar…

Também o Silveira, o carteiro, confirmou que pelas 9 horas da manhã, quando passou, ele estava vivo e bem vivo, porque lhe entregou a correspondência em mão, pela janela, tendo até estado um pouco à conversa, sobre o tempo e até lhe perguntou sobre a saúde do filho, que tem andado adoentado…

O resultado laboratorial apontou a morte para as 11 horas, mas o Inspetor Fidalgo já sabia o que se passara! Havia um pormenor que revelava tudo…

– Quem cometeu o crime?

– Como chegou o Inspetor Fidalgo a essa conclusão?

 

SOLUÇÃO

© DANIEL FALCÃO