Autor Data 13 de Fevereiro de 2020 Secção Policiário [6] Competição Torneio Sábado Policiário 2020 Prova nº 1 – Parte II Publicação Sábado [824] |
O INSPETOR FIDALGO E A FESTA NOTURNA Inspetor Fidalgo – Responda, sr. A, tem de
me dar respostas… – A festa tinha sido de
arromba e não sabíamos muito bem onde estávamos ou o que tínhamos andado a fazer…
Compreende, era um dia especial em que todos entrávamos num ano especial.
Toda a gente dizia e parece que era verdade, que o século e o milénio só
iriam virar no ano seguinte, mas, que diabo, viravam-se todos os algarismos
naquele dia, naquele segundo exato! – Eu até posso compreender
isso, acho normal que se festejasse, mas nada justifica a vossa atitude
perante o que se passou. O que eu quero saber é quem estava presente no
momento em que aconteceu o incidente. – Não estou certo. – Mas você estava no local,
ou não? – Estava… Isto é, penso que
sim… Sabe, os copos… O inspetor saiu da sala, já
um tanto irritado com o que se passava. Isto de andar a perguntar coisas com
anos de atraso, nem parecia coisa de gente. Um incidente tão distante… mas
sobrou para ele como “maçarico”! – Senhor B, isto parece um
pouco estranho, mas tenho de lhe perguntar de novo o que se passou nessa
noite, o que viu, quem estava presente, quem foi o autor material, enfim,
tudo! – Senhor inspetor, não
tenho a mínima ideia! Não me lembro de nada dessa noite, olhe, foi uma noite
de folia, uma noite única, que nenhum de nós voltará a passar, não é verdade?
Todos bebemos e comemos em força e já nem me lembro de sair do bar, quanto
mais o que se passou cá fora… E depois estive dois dias a dormir… – Menina C, quer fazer o
favor de esclarecer o que se passou nessa noite? – Ora, senhor agente, o que
é que se podia ter passado? Estávamos todos a festejar em grande, quando
aquilo aconteceu. Lembro-me perfeitamente que nenhum de nós teve nada que ver
com isso, absolutamente nada. Estávamos a festejar, mais nada, mas um grupo
provocou-nos e, para evitar males maiores, eu mesma empurrei os meus amigos
para dentro do bar, para não haver chatices. O que aconteceu depois, não sei,
nem os meus amigos, porque estávamos lá dentro e isso parece que aconteceu cá
fora, não foi? – A menina parece que se
lembra de tudo muito bem… – Pudera, nessa altura eu
andava um bocado mal, com uma infeção e andava a tomar antibióticos e por
isso não podia beber álcool. Acabei por ser eu que controlei tudo e levei os
meus amigos a casa. – E dentro do bar, o que
aconteceu? – Dentro do bar, nada.
Bebemos um copo, estacionámos algum tempo para deixar passar a tempestade que
se levantou na rua… – Tempestade? – Em sentido figurado,
senhor inspetor, queria dizer, a complicação… – Sim, sim, continue… – Não houve mais nada.
Paguei a conta, o que foi uma complicação porque o bar não tinha multibanco e
tive de andar a vasculhar as carteiras dos meus amigos à procura dos euros
para pagar aquilo… – Senhor D, não me vai
dizer que não se lembra de nada dessa noite, pois não? – Não, senhor agente,
lembro-me perfeitamente que não se passou nada de especial. Entrámos e saímos
de bares e bares, bebemos e comemos, foi tudo excelente. Só há uma noite
assim, numa vida. – E depois? – Depois, nada! Acordei em
casa, muito mais tarde, com uma dor de cabeça terrível e sem sequer saber
como lá cheguei. Depois contaram-me que foi a C que nos andou a entregar em casa,
porque ela não podia beber por causa de uns medicamentos. – Não houve incidentes? – Nada. Fidalgo percebeu que havia
ali uma grande mentira, mas não se queria maçar demais com um caso
corriqueiro e ridículo que um chefe queria que se esclarecesse passado tanto
tempo. Ele sabia que o chefe tinha
a pedra no sapato por ter apanhado uma “galheta” naquela noite, mas a verdade
é que, conhecendo-o tão bem como ele o conhecia, apostava que tinha sido
merecida. Ora abóbora! Fidalgo percebeu onde
estava a mentira e os nossos detetives também… Ora digam lá então quem o
cometeu: A – O senhor A porque
ninguém podia estar num estado em que não se lembrasse de nada; B – O senhor B porque
revela que não se lembra sequer de sair do bar, mas sabe que se passou alguma
coisa cá fora; C – A Menina C porque se
lembra de tudo tão bem, mas mente naquilo que diz; D – O senhor D
porque se lembra de tudo, de entrar e sair de bares, de comer e beber, e
portanto tinha de saber o que se passou. |
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© DANIEL FALCÃO |
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