Autor Data 12 de Março de 2020 Secção Policiário [10] Competição Torneio Sábado Policiário 2020 Prova nº 2 – Parte II Publicação Sábado [828] |
O INSPETOR FIDALGO E A MORTE DA DONA MICAS!... Inspetor Fidalgo Um
pouco como em todas as terras deste País, o feriado municipal é pretexto para
festas e arraiais, folias quase sem limite. Assim acontecia, também, naquela
vila isolada do resto do mundo, onde o progresso ia aparecendo sob a forma de
agências bancárias e até caixas automáticas por lá havia!... Mas
a história que trouxe o Inspetor Fidalgo a tão desviado local não tinha que
ver com bailes e festas, mas com o assassinato da Dona Micas, a mais idosa
mulher da terra, uma situação que ninguém conseguia explicar sem abordar a
sua forte aversão a bancos, constando que tinha uma fortuna apreciável
debaixo do colchão, ou dentro dele, ou coisa que o valha. Para já, tudo não
passava de conjeturas que, ao que se sabia, nunca ninguém tivera hipóteses
sequer de espreitar essa fortuna lendária. Calculada
a hora da morte da velha senhora, iniciou-se o trabalho moroso e monótono de
estabelecer quem poderia ter oportunidade e tempo para executar o crime. De
ilibação em ilibação, porque muitas pessoas estavam, naturalmente, em bailes
e manifestações coletivas, excluindo-se, o círculo de possíveis assassinos
foi-se fechando em torno de duas personagens, sem qualquer relação entre si,
afastando hipóteses de cumplicidade… O
João Costa, um dos mais ricos da terra, construtor, gabarola, exibindo um
riso trocista e altaneiro, sempre que exibia a carteira, recheada de cartões
de crédito e débito, de tudo quanto era banco conhecido por esses lados. –
Dinheiro? Não uso!... Nas cidades as pessoas com posses não usam dinheiro… É
cartão para cá, cartão para lá e assim se fazem negócios, compras, vendas… O
José Silva era um tipo pouco escrupuloso, sempre metido em negócios confusos,
de que se saía, surpreendentemente bem. Gastador por excelência, consumia
quase sempre mais que o que conseguia realizar e por isso era como um
cavaleiro-andante, fugindo de credores, no seu carro desportivo e potente,
quase sempre nos limites. –
O dinheiro foi feito para ser gasto e é isso que eu faço sempre que me chega
às mãos… Tenho negócios… O
Inspetor Fidalgo ouviu os relatórios dos seus agentes quanto aos
interrogatórios das pessoas da terra e chegou à conclusão que a solução
passava pelos dois principais suspeitos, pelo que resolveu ouvi-los, em
separado… –
Claro que não tenho nada a ver com a morte dessa mulher… Era só o que
faltava, eu, o tipo mais rico da terra a envolver-me numa morte que, ao que
consta, foi por causa de dinheiro que ela teria em casa? Sim, é verdade que
fechei um negócio em plena festa, mas isso não prova… Onde fui arranjar o
dinheiro? Ora, dei uma saltada ao Multibanco, porque o tipo queria o dinheiro
a contado… Sim, foram mil euros… Não podia perder o negócio e como nunca ando
com muito dinheiro… Não, não guardei qualquer talão… Nem me lembro, sequer,
se a máquina me deu qualquer talão… Às vezes nem têm papel… –
Sim, chamo-me José e não sei porque me quer falar… Dizem-me que a mulher foi
morta por volta das 16 horas, mas a essa hora eu estava em S. João, uma
vilória a pouco mais de vinte quilómetros daqui… Olhe, tenho aqui o talão de
pagamento da gasolina na bomba que está à saída para cá… Veja… 16h15. Sabe,
eu vinha para a festa e estava a contar com um negócio que não pude fazer, de
maneira que tive de ir ao banco lá em S. João, onde quase não demorei tempo
nenhum, depois foi só meter a gasolina e vir para cá… Como pode ver, não
podia ter feito nada… Ah! Por acaso até pedi um extrato no balcão do banco,
que devo ter por aqui… Deixe ver… Sim, aqui está. Um bocado amarrotado, mas…
cá está o meu levantamento ao balcão de duzentos euros… O
Inspetor Fidalgo olhava fixamente um ponto longínquo, lá no horizonte… A)
Foi o José porque nunca poderia ter levantado o dinheiro no Banco por ser
feriado. B)
Foi o João porque nunca poderia ter levantado aquele dinheiro num Caixa
Multibanco. C)
Foi o João que não pode exibir recibos do Caixa Automático porque não fez
qualquer operação, tendo inventado uma má desculpa. D)
Foi o José porque não tinha qualquer hipótese de levantar duzentos euros ao
balcão do Banco, nas condições que refere. |
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© DANIEL FALCÃO |
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