Autor

Inspetor Fidalgo

 

Data

18 de Junho de 2020

 

Secção

Policiário [24]

 

Competição

Torneio Sábado Policiário 2020

Prova nº 4 – Parte I

 

Publicação

Sábado [842]

 

 

Solução de:

O INSPETOR FIDALGO E A MORTE DE SEBASTIÃO

Inspetor Fidalgo

 

Temos um crime cometido em zona não fechada e portanto, a priori, sem dificuldades especiais de acesso.

Alarcão diz que estava nevoeiro cerrado; que o vento era gelado e quase cortava a cara; que foi tratar dos cães muito rapidamente; que não ouviu nem viu nada.

Os pais do jovem não deram por nada e encontraram o moço por volta das 8 horas.

O padeiro afirma ter visto o Alarcão a regressar lá do fundo, ainda antes das 8 horas.

Os restantes moradores da casa de Alarcão não notaram nada.

Os vizinhos do outro lado do pinhal referem a algazarra dos cães depois das 7h30, que só se poderiam ouvir se o vento estivesse de feição.

A filha do padeiro está totalmente posta de lado.

Há evidentes contradições entre depoimentos, a saber:

Alarcão refere nevoeiro cerrado e o vento gelado. Vento e nevoeiro não combinam. Com vento, o nevoeiro não se forma ou, já existindo, dissipa-se rapidamente.

O padeiro afirma ter visto Alarcão a regressar de casa do caseiro para a sua. Com nevoeiro cerrado, isso não seria possível porque a distância era grande.

Os vizinhos declararam que os cães fizeram a algazarra própria de quando o seu dono regressava a casa, mas só era audível quando o vento soprava… Portanto, afastada a hipótese de haver um conluio entre Alarcão e os seus vizinhos, por ilógica e não razoável, para que estes ouvissem os cães era necessário que houvesse vento, portanto sem nevoeiro (que mais ninguém refere); logo, ao encontro do depoimento do padeiro, que também confere com o regresso de Alarcão a casa e a algazarra dos cães, que o padeiro não refere por estar longe (a estrada era distante) e por soprar vento que levaria o som para o outro lado do pinhal, portanto, não na sua direção. Os cães fizeram algazarra por detetarem que o seu dono estava por ali.

 Ficamos, pois, com o culpado – o Alarcão. Em grande parte por mentir, mas também por ter a oportunidade, o tempo disponível e por a sua versão não encaixar nos depoimentos dos restantes intervenientes, cujas afirmações se complementam, sem erros. Seguir-se-iam os interrogatórios, as recolhas de provas, as possíveis reconstituições do crime…

© DANIEL FALCÃO