Autor

Inspetor Fidalgo

 

Data

14 de Maio de 2020

 

Secção

Policiário [19]

 

Competição

Torneio Sábado Policiário 2020

Prova nº 4 – Parte II

 

Publicação

Sábado [837]

 

 

O INSPETOR FIDALGO E O MECO!...

Inspetor Fidalgo

 

Naquele dia de puro Inverno, o Inspetor Fidalgo brincava com um colar de clipes que se entretivera a encadear diligentemente, como fazia muitas das vezes em que estava aborrecido.

Há vários dias que não tinha nada que fazer, parecendo que, subitamente, todos os criminosos da cidade se tinham reformado. Desesperou de nada fazer e pegou, com enfado, no número do jornal desse dia.

– Bolas, nem no jornal vem nada de jeito… Bolas!...

Foi então que uma pequena notícia lhe atraiu a atenção. Algures nas Avenidas Novas, uma velha senhora, viúva e só, aparecera morta na madrugada, em condições pouco claras.

Sem nada para fazer, o Inspetor Fidalgo vestiu o impermeável, colocou o chapéu e lançou-se para a invernia…

Não ficava muito distante e decidiu ir a pé, apesar da chuva que insistia em cair com intensidade. A casa era velha, tão velha como a vítima, como lhe contaram as vizinhas, ainda eufóricas com o acontecido…

– Era de esperar…

– Estava mesmo a pedi-las… Eu bem a avisei uma série de vezes, mas

O inspetor meteu-se na conversa…

– Avisaram-na de quê?

– Ora, que a sua mania de andar sempre a dar comida a cães e gatos vadios ia dar maus resultados…

– O que é que a sua morte tem a ver com isso?

– Sei lá!... O que sei é que ela já foi ameaçada uma data de vezes por vizinhos aqui, por causa do cheiro e do barulho que os cães fazem de noite…

– Não é razão para se matar…

– Isso já não sei, agora que ali o sr. Filipe e o Ambrósio se fartaram de ameaçar, isso é verdade.

O inspetor foi falar com o Filipe…

– Esta gente é doida… Alguma vez eu era capaz de matar uma pessoa por causa de barulho ou de animais… Francamente, o que aconteceu deve ter sido ela que se desequilibrou e caiu pelas escadas abaixo… Não consigo imaginar de outra forma… Sim, é verdade que ameacei e muitas vezes quase perdi a paciência, mas daí a tentar matar…

– Não ouviu nada de anormal?

– De que género?

– Sei lá, gritos, latidos, sei lá…

– Bem, os cães que ela tinha em casa fartaram-se de ladrar, mas faziam isso todas as noites… Não foi muito diferente…

– O que é que tem na perna?

– Eu… Bem, eu fui mordido por um desses rafeiros, mas não foi agora, já foi ontem… Não fui ao médico, fiz eu o curativo… Foi o cão castanho, a que ela chamava Meco…

Na verdade, como contaram as vizinhas, o cão fartou-se de lhe ladrar quando o levaram, quase arrastando o homem que o conduzia pela trela. Mas logo concluíram que o cão ladrava assim a quase toda a gente, só respeitava a velha e até já evitara uma vez que ela fosse assaltada.

Estava o inspetor a passarinhar pela casa quando uma das alcoviteiras o foi chamar:

– Está a chegar o Ambrósio…

O inspetor mediu o homem e perante a sua surpresa, pelo menos aparente, perguntou-lhe o que fizera durante a noite…

– Ora essa? Quem é você? O que é que tem com isso?

A atitude mudou quando o inspetor se identificou.

– Desculpe, não sabia… Eu sou vigilante noturno. Tenho aquela viatura distribuída pela empresa, tenho uma série de firmas para visitar durante a noite… Compreende, tenho de fazer a minha ronda… Mas não percebo por que me está a perguntar essas coisas. Aconteceu alguma coisa à minha mulher? Assaltaram-me a casa? Que se passa?

– Tenha calma… Estou a tentar estabelecer alguma relação entre você e a sua vizinha dos cães…

– O raio da mulher fez queixa de mim, não foi? Pois claro que tinha de ser… Então não é que o raio de um cão que ela lá tem me tentou atacar ontem, quando saí para a ronda…

– O Meco…

– Sim, é o maldito Meco… Claro que lhe mandei um valente pontapé, mas o “gajo” é forte como o raio e vi-me às aranhas… Mandei umas “bocas”, mas longe de mim fazer mal à velha… Que diabo, eu também sou uma espécie de agente da autoridade, de certa forma, compreende… Já se adivinhava que um dia ia haver problemas… As escadas não são para brincadeiras… Mas, enfim, coisas que acontecem…

O Meco não ia ver mais a sua “dona”, nem teria que se preocupar mais com a sua segurança…

 

A – O responsável foi o Ambrósio, que mentiu descaradamente porque não deu nenhum pontapé no Meco, senão tinha de ter marcas de mordeduras.

B – O culpado foi o Filipe, e por isso é que o cão lhe deu a mordidela na perna.

C – O culpado foi o Ambrósio, que não deve ter feito só a ronda, nessa noite, pelas declarações que produziu.

D – O responsável foi o Filipe que não deve ter sido tão “santinho” como pretende parecer, pelas declarações que fez.

 

SOLUÇÃO

© DANIEL FALCÃO