Autor

Inspetor Fidalgo

 

Data

4 de Junho de 2020

 

Secção

Policiário [22]

 

Competição

Torneio Sábado Policiário 2020

Prova nº 5 – Parte I

 

Publicação

Sábado [840]

 

 

O INSPETOR FIDALGO E OS QUATRO ASSASSINOS CONFESSOS!

Inspetor Fidalgo

 

Dez horas da manhã! Um leve bater à porta e a sua abertura hesitante, mostrou um agente Geraldo receoso por interromper o Inspetor Fidalgo no momento em que este lutava contra os papéis e a burocracia.

– Inspetor, estão ali fora quatro malucos que não dizem coisa com coisa, a reivindicarem a mesma morte!

– Ora, manda entrar! – o sorriso matreiro não deixava mentir: livrou-se dos papéis!

Um após outro, quatro velhos vão-se perfilando.

– Bom dia, sou o Inspetor Fidalgo. Com quem tenho a honra de falar?

– Sou o João, muito prazer!

– Sou o Carlos, muito prazer!

– Sou o António, muito prazer!

– Sou o Zeferino, muito prazer!

– Bem, do que se trata? – interrogou o inspetor, surpreendido pelas respostas iguais.

– O “nosso” pai foi morto! Matei-o – afirmou o João, antecipando-se aos outros.

– Mentira! – gritaram  os outros três em coro – Quem o matou fui eu!

Gerou-se uma audível algazarra, com cada qual a discutir com os outros…

– Silêncio! – interrompeu Fidalgo… Contem lá o que se passou, um de cada vez!

João: Matei o “nosso” pai. Ele tinha 106 anos e estava farto de viver. Às 6 horas entrei no quarto dele, tirei-o da cama, levei-o até à casa de banho e mergulhei a cabeça na água até morrer afogado! Limpinho! Agora só espero a “massa” do velho!

– Essa agora, você espera a herança do velho? Como assim?

– O “nosso” pai deixou escrito que a sua fortuna seria para quem lhe pusesse fim à vida! Estava farto de cá andar!

Carlos: Ele mente! Fui eu quem o matou! Fui ao quarto, peguei nele, levei-o à cozinha, abri o gás e deixei-o morrer… Depois foi só abrir as janelas e deixar sair o gás. Eram 4 horas! Quando esse nabo diz que o matou, já ele estava bem morto!

António: Grandes aldrabões! Às 7 horas fui ao quarto dele, meti-lhe um pano na boca e outro no nariz e morreu porque não conseguia respirar! E é bom que fique registado que só eu é que sou seu filho. Estes não lhe são nada!

Zeferino: Eu não estive com porcarias. Matei-o mesmo, ainda não há uma hora, mas não digo nada. Quem quiser que descubra, mas foi limpinho, limpinho! O que sei é que vou herdar a fortuna e viver à grande, finalmente!

O Inspetor Fidalgo nunca tinha passado por uma destas. Disse:

– Vamos a essa casa!

O casarão ficava muito perto e num ápice já o inspetor percorria o enorme corredor, ao fundo do qual se situava a cozinha, ampla e arejada, com duas grandes janelas.

No quarto ao lado, grande e com uma janela a todo o comprimento da parede oposta à porta, dando para as traseiras dos prédios vizinhos, escancarada, deixando entrar o fresco da manhã, jazia o velho, morto!

 O corpo, completamente rígido, apresentava sinais de abandono. O rosto parecia com vida, tal era a cor rosada das faces. Os lábios, de um vermelho vivo, pareciam querer dizer algo que o cérebro já não podia comandar. E aqueles livores avermelhados que se viam nas partes do corpo em contacto com o soalho… Tudo parecia uma cena de um filme.

A casa de banho estava cheia de água, no chão e na banheira suja, encardida!

E apareceu a carta do velho, que parecia verdadeira, a garantir metade da sua fortuna a quem pusesse termo à sua vida e a outra metade ao seu filho António…

O Inspetor Fidalgo juntou-se aos “assassinos confessos”, que esperavam junto a Geraldo, realçando que todos foram unânimes em alguns aspetos: A casa estava assim por culpa do velho que era o mais forreta que se podia imaginar; ele tinha a mania de dormir sempre com a janela aberta e foi assim que a encontraram quando lá foram buscá-lo para o matar; fizeram o barulho que quiseram porque mais ninguém morava daquele lado da casa, eles viviam no extremo oposto do corredor; todos abriram as luzes que quiseram…

O Inspetor Fidalgo tomou a palavra:

– Lutaram os quatro por metade de uma herança, mas não devem conhecer as leis, ou saberiam que ninguém pode herdar de pessoa que assassine! O António é o único que vai herdar, mas curiosamente, só se não for o assassino! Não sou juiz, mas posso imaginar que um de vocês vai passar uns bons anos na prisão!

– Quem matou? Justifique devidamente as conclusões a que chegou.

 

SOLUÇÃO

© DANIEL FALCÃO