Autor

Jersil

 

Data

Janeiro de 1980

 

Secção

Enigma Policiário [46]

 

Competição

1º Grande Torneio de Fórmula Um Policiária e Torneio de Homenagem a Jartur

Problema nº 1 | Grande Prémio de Vila do Conde

 

Publicação

Passatempo [68]

 

 

MAIS UMA MORTE…

Jersil

 

A porta estava escancarada. Na fechadura, a chave, e pendurado nela o porta-chaves. Lá dentro, bem no centro, jazia um corpo. Era um homem alto e magro, enfiado num fato acastanhado. As costas assentavam-lhe no soalho, a cabeça apoiava-se na orelha direita, e na mão direita segurava uma arma, cuja cor negra contrastava com a cor de um longo cabelo que lhe estava junto. No rosto, seco de carnes, desenhava-se uma expressão de espanto, através dos olhos esbugalhados e da boca ligeiramente entreaberta. Bem no meio da testa, um orifício, donde brotava um grosso fio de sangue, que se encaminhava para uma grande poça. Aqui, encontrava-se um pequenino lenço quase totalmente embebido em sangue. O compartimento era um pequeno escritório. Por uma janela aberta, entrava o maravilhoso Sol de Agosto e uma brisa suave e perfumada pelos odores das flores de um jardim fronteiriço. Dois armários e uma escrevaninha, servida por uma cadeira, constituíam o mobiliário. Sobre o tampo da escrevaninha urna «Parker», e uma folha de papel. Uma folha que tinha algo a dizer. Começava assim:

 

«Senhor Comissário

Vou-me suicidar. Encostarei a arma a uma das têmporas, e… passarei ao outro mundo. Com isto pretendo fazer o meu último desabafo, explicar a razão do meu suicídio, e ilibar minha mulher, Tónia, de possíveis e hipotéticas culpas, já que não é novidade para ninguém as nossas más relações.

O meu casamento com Tónia foi um autêntico fracasso. Passados que foram os primeiros tempos de casados, tirámos a «máscara» que nos cobria e, só então, vimos que não éramos feitos um para o outro. Ela começou por me mostrar indiferença, depois desprezo, e nos últimos anos, ódio. Sou um indivíduo temperamentalmente doentio, muito sensível, muito emotivo. Sou um introvertido, nada sociável. Ela, pelo contrário, loira, jovem ainda, diabolicamente bela, é sociável e sabe insinuar-se nas pessoas. É fria, calculista, domina perfeitamente todas as suas emoções. É desportista, mas, sobretudo, é óptima no tiro ao alvo. Para ela não passo de um pobre louco e de um empecilho. Disse-mo muitas vezes.

Eis aqui, Senhor Comissário, em poucas linhas, toda a minha odisseia. Vale a pena viver assim? Não. Durante todos estes anos, tentei encontrar uma razão para viver. Não a achei. Como alternativa, só me resta fazer aquilo que já deveria ter feito há muito tempo: Suicidar-me. Desabafei. Expliquei a razão do meu suicídio. Portanto, vou partir…

RENATO»

 

A polícia tomou conta de mais esta ocorrência, verificou,  pelo exame grafológico, a autenticidade da letra e da assinatura da mensagem e… resolveu o caso.

 

PERGUNTA-SE: Suicídio? Homicídio? Depois de fundamentar a sua opinião descreva-nos como acha que o caso se teria passado.

 

SOLUÇÃO

© DANIEL FALCÃO