Autor Data Janeiro de 1949 Secção Competição Problema nº 5 Publicação Altura – nº 20 |
Solução de: O ESTRANHO CASO DE FRITZ YULE Jim Mc Roy Que
queria eu saber? Tinha havido crime ou suicídio? A
hipótese de suicídio sentia longe de mim. De facto: 1.º
- A vítima tinha uma pistola carregada: logo, o natural era suicidar-se com
um tiro e não com um punhal, que é a arma característica do assassino. 2.º
- A porta estava fechada por dentro; ora, não era natural que a vítima, tendo
tomado o narcótico e estando já deitada quando a porteira saiu, se levantasse
para fechar a porta à chave. 3.º - Havia uma
janela aberta. Ora, essa janela podia ter sido aberta pela vítima ou por um
terceiro: ter sido aberta antes das cinco horas da manhã ou depois dessa
hora. Se tivesse sido aberta antes das cinco horas da manhã, o nevoeiro teria
entrado no quarto deixando a roupa húmida. Ora a roupa está seca. Logo, a
janela foi aberta depois daquela hora. Mas sendo assim, não podia ter sido
aberta pela vítima, porque: a
) – Fritz tomou à uma hora um narcótico que lhe
provocava pelo menos oito horas de sono. Logo, dormiria até às nove horas, e
a porteira encontrou-o morto às oito e meia. b
) – Se a vítima estivesse acordada antes das oito horas, o natural é que não
deixasse o despertador esgotar a corda, pois o ruído das campainhas
molestava-a muito. Deixou, porque não acordou ou porque já estava morta. Quer
numa hipótese quer noutra, não podia abrir a janela. Logo: foi um terceiro
quem abriu a janela. E a presença de um terceiro no quarto da vítima conduz à
forte presunção de crime. 4.º - Além disso,
a morte foi provocada por várias punhaladas dadas da esquerda para a direita
e atingindo o coração. Ora, o morto tinha a mão direita no cabo do punhal. Se
fosse suicídio, as punhaladas teriam normalmente o sentido da direita para a
esquerda, por serem dadas com a mão direita. Assente em que
tinha havido crime, perguntava a mim mesmo: quem foi o assassino? Havia
quatro suspeitos em cena: Hellen, Síçvia, Frank e Kent. Qualquer
deles teria motivos para matar. Só Frank provara que estivera desde as duas
horas na festa de Brassley. Logo, Frank não podia
ser, pois o crime não poderia ter sido praticado antes das duas horas, visto
que a janela foi aberta depois das cinco. Dos outros, nenhum tinha «álibi»
convincente. No entanto, uma análise cuidadosa levava à conclusão de Sílvia e
de Kent do rol dos culpados. Assim: 1.º - Quem matou
era um indivíduo fraco, pois vê-se que tentou sair pela porta da cozinha e
não conseguiu correr um dos fechos. Ora, tanto Kent
como Sílvia eram fortes e capazes de o fazer sem grande esforço. Hellen, pelo contrário, era fraca e franzina. 2.º - Quem matou
era um indivíduo baixo, pois necessitava de uma cadeira para chegar ao cofre,
que distava do chão dois metros. Ora, quer Sílvia quer Kent
eram altos e não necessitavam de utilizar a cadeira. Dos suspeitos, só Hellen a teria de utilizar. Tal como os factos
se apresentaram, tudo depunha contra Hellen, como
autora do homicídio. E como teria sido praticado? De regresso da festa, Hellen, conhecedora da casa e dos costumes de Fritz, teria entrado calmamente pela porta, que encontrou
aberta como habitualmente, mas que, para maior segurança, fechou em seguida. Fritz dormia pesadamente sob o efeito do narcótico. Hellen pôde assim procurar à vontade as cartas que a
comprometiam e com as quais Fritz tentara fazer
chantagem. Para abrir o cofre teria subido a uma cadeira e procurado o que
lhe interessava. Para que não houvesse possibilidade de chantagem, para
garantir o seu casamento com Frank e para satisfazer os seus desejos de
vingança, Hellen resolvera liquidar o seu antigo
amante. Dormindo profundamente, a vítima não podia opor resistência. E, de
facto, não opôs, pois sucumbiu rapidamente às punhaladas de Hellen; apenas estrebuchou, revolvendo os lençóis e
ficando virado sobre a esquerda. Daí as manchas de sangue no lado esquerdo da
cama. Hellen conseguiu trazê-lo para a posição
primitiva e compor então a cena do suicídio. Procurou saída pela porta da
cozinha, mas não pôde abri-la; lembrou-se de sair pela janela, que deixou,
por isso, aberta. Saiu pela escada de serviço, cuja porta estava apenas no
trinque. Eis
como arquitectei a prática deste crime, que uma
posterior confissão da acusada veio a confirmar. Foi o caso mais rápido da
minha carreira, e nem por isso o menos extraordinário. |
© DANIEL FALCÃO |
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