Autor Data 6 de Março de 2016 Secção Policiário [1283] Competição Campeonato Nacional e Taça de
Portugal – 2016 Prova nº 2 (Parte I) Publicação Público |
SUICÍDIO OU HOMICÍDIO? John Death Humberto olhou pela janela,
que dava para o quintal, bastante abandonado, com muitas ervas daninhas e
mato alto. Via-se que há muito não passava por ali quem o tratasse.
Debruçou-se da janela e reparou que junto à parede, cerca de três metros
abaixo, havia estilhaços do vidro da janela onde estava. Apesar da chuva que
caíra nas últimas horas, não havia poças de água, sinal que a terra a
absorvera. Ao olhar para a direita, notou que um objecto
brilhava com o reflexo que o sol causava, distando cerca de 2 metros da
parede. Verificou depois que se tratava da cápsula da munição que provocou a
morte do magnata dos plásticos, Jorge Maneiras. A vítima estava deitada de
costas, com a cabeça na direcção da porta de acesso
ao escritório e os pés em direcção da única janela,
por onde olhara o investigador Humberto. No peito, notava-se uma mancha de
sangue, tendo-se comprovado mais tarde que era o local por onde entrara o projéctil que lhe causou a morte instantânea. Quem descobriu o cadáver
foi o irmão mais novo, Adalberto, que ao passar à porta do escritório
estranhou vê-la fechada, o que não era usual, já que o irmão fazia questão de
estar sempre atento aos movimentos do corredor. Primeiro pensou que ele não
estivesse lá e não ligou, mas quando regressou, quase uma hora depois, as
suspeitas avolumaram-se. Decidiu bater à porta e chamar pelo irmão e como não
teve resposta, rodou a maçaneta da porta e deu com o triste cenário. – O mano estava deitado de
costas e com o peito ensanguentado. Junto da mão esquerda estava a pistola
que ele tinha desde sempre, para sua defesa, como dizia, mas que nunca usou,
pelo menos que me lembre, nem em treino. Era só para dizer que tinha. Ele
andava muito estranho ultimamente, não sei bem porquê, acho que os negócios
do plástico não iam lá muito bem, mas isso quem deve saber é o contabilista
dele. Ele pouco falava comigo, aqui para nós, não eramos muito chegados,
partilhamos este casarão de família, mas cada qual fazia a sua vida e
raramente nos falávamos e quando o fazíamos eram conversas circunstanciais. – A janela estava aberta ou
fechada? – Estava fechada, mas o
vidro estava partido. – Quem mais vive aqui? – Ninguém. O mano não
queria ninguém por cá. Todos os dias à tarde vem cá uma senhora fazer as
limpezas, fazer camas, aspirar, lavar loiças quando há, coisas assim e vai-se
embora. – E as refeições? – Eu vou almoçar e jantar
fora todos os dias. Ele, não sei. Umas vezes acho que ia fora, outras, devia
desenrascar-se por cá. – Disse que o seu irmão
andava diferente. Em quê? – Desde que teve um
acidente que o imobilizou e os negócios começaram a correr mal… Caiu e andou
muito tempo com o braço esquerdo imobilizado e durante este tempo nem podia
assinar e foi o contabilista dele que fez tudo, não sei como, mas acho que
não correu muito bem e o meu irmão andava muito zangado e deprimido. Mas
nunca pensei que fizesse isto! Cá para mim, ainda não acredito que o tenha
feito… – Feito o quê? – Ora, isto, matar-se desta
maneira, suicidar-se! – Acha mesmo que se
suicidou? – Bem, só pode ter sido
isso, não é? – Hum… Então como explica o
vidro da janela estilhaçado? – Deve ter sido a saída da
bala pelas costas, não? – Hum… E a cápsula da
munição no jardim? – O quê? Quer dizer que…
alguém o veio matar pelo jardim? – Hum… |
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© DANIEL FALCÃO |
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