Autor

Jomaro

 

Data

14 de Março de 1993

 

Secção

Policiário [89]

 

Competição

Supertorneio Policiário 1993

Prova nº 1

 

Publicação

Público

 

 

O DESAFIO DO AVÔ BRINCALHÃO!...

Jomaro

 

Jomaro desde há muito tempo que tem o "bichinho" do policiarismo. Após um par de anos a responder a alguns problemas, embora sem grande sucesso, viu-se obrigado a interromper essas participações durante a sua passagem por Coimbra, onde concluiu a licenciatura. Depois deste interregno, regressou em força no ano transacto, em que conquistou um brilhante quinto lugar no torneio promovido pelo PÚBLICO.

A tendência familiar para o policiarismo já vem do tempo do seu avô, Manuel Carolino, que foi um famoso detective amador e que hoje resolveu contar-lhe um crime passado há muitos anos, em 1962, na cidade de Atenas e que, por coincidência, se verificou em 21 de Dezembro, precisamente o dia em que o então bebé “Jomarito” conhecia a luz do dia.

Vejamos então a história que o avô Carolino nos conta:

“Naquele tempo, em que o dinheiro não abundava a quase ninguém no nosso lindo país e os bilhetes de avião, por isso mesmo, eram um luxo muito pesado para a minha parca bolsa, tive de fazer a viagem de carro para Atenas, onde ia tratar do exclusivo de importação de uns brinquedos para Portugal.

Como, nessa altura, ainda me considerava um jovem, fiz o que agora se chama uma “directa” a conduzir pelas estradas desta Europa fora. Parece que não, mas foram quase 30 horas consecutivas ao volante, pois as poucas paragens que fiz foram só para satisfazer as minhas necessidades fisiológicas e meter gasolina, pois até comia as sandes que levava a conduzir, para não perder tempo.

Cheguei a Atenas perto do meio-dia e, depois de me instalar no hotel e de almoçar, tive conhecimento do caso que te estou a contar através do empregado do bar. Mas, como estava muito cansado da longa viagem e ao domingo não podia tratar de nada do que me levara a Atenas, resolvi dormir uma sesta, para estar pronto, então, para começar a raciocinar.

Quando acordei, telefonei para Portugal para saber se já tinhas nascido, e o teu pai disse-me que tinhas vindo ao mundo havia poucos minutos, ao anoitecer, e que eras um bebé forte e saudável, com mais de quatro quilos de peso. Excitado e contente como todo o avô baboso (eras o meu primeiro neto), saí à rua quando os últimos raios de sol desapareciam entre os edifícios daquela linda capital da Turquia.

O caso era simples: aparecera morta, num descampado nos arredores de Atenas, uma jovem estudante de uma beleza divinal. Não havia sinais de qualquer violência física e o único significativo que se via na zona em redor do corpo eram duas pontas de cigarro.

Tentei saber mais pormenores sobre este horrível crime, que ceifara a vida a uma pessoa no esplendor da sua juventude, mas o único que consegui apurar foi que havia três suspeitos, pois a polícia de Atenas não facilitava qualquer informação, muito menos a um estrangeiro.

No dia seguinte, depois de tratar com sucesso do assunto que me levara a Atenas, resolvi regressar a Portugal, pois, apesar de o meu ‘bichinho’ pelo policiarismo me pedir para ficar e tentar descobrir mais alguma coisa sobre o assassínio daquela jovem, a minha vontade incontrolável de vir ver pela primeira vez o meu netinho foi mais forte.

Então, não soube mais nada daquele crime nem de quem foi o assassino? – retorquiu Jomaro, até então bastante absorvido pela fascinante descrição do seu avô.

Olha – recomeçou Carolino –, depois, por circunstâncias adversas da minha vida profissional, só pude voltar a Atenas quase um ano após o crime e soube que ainda não tinha sido encontrado o criminoso, embora houvesse suspeitas de que a vítima fora envenenada com arsénico, pois a polícia descobriu, posteriormente, embalagens vazias deste produto a escassos 300 metros do local onde foi encontrada a vítima. Mas, entretanto, não havia nada a fazer para provar que essa tinha sido a causa da morte da vítima, e nem as duas beatas de cigarros permitiram, naquele tempo, descobrir o criminoso.

Se fosse hoje, com a evolução das diversas técnicas, até pelos restos de saliva das beatas dos cigarros seria possível determinar o DNA do assassino e, assim, saber qual dos três suspeitos era o assassino. Como antigamente não era assim, soube posteriormente que o caso fora arquivado por falta de provas.

– Foi uma história engraçada avó, só foi pena não se ter descoberto quem era o assassino – interrompeu Jomaro.

Pois – disse Carolino –, realmente foi um crime que ficou por resolver, mas, como sabes, nunca digo nada sem ser com um objectivo claramente definido e, por isso, vou-te dizer qual era a minha alcunha nessa altura: “o brincalhão”. Sendo assim, lanço-te aqui o desafio para que descubras quais são as mentiras ou incorrecções desta história que te acabei de contar.”

E você, caro amigo, é capaz de ajudar o Jomaro a descobrir quais os erros que Carolino, o brincalhão, cometeu nesta descrição?

 

SOLUÇÃO

© DANIEL FALCÃO