Autor Data 8 de Novembro de 1979 Secção Mistério... Policiário [242] Competição Torneio
“Detective Misterioso" Problema nº 14 Publicação Mundo de Aventuras [318] |
A NOITE É AMIGA DO ROUBO… Juve –
Até amanhã. –
Até amanhã. Olha… não te esqueças que na terça-feira, está cá a «loura»… –
Não me esquecerei. Até amanhã… Quem
se despedia assim era um importante banqueiro, excepcionalmente
bem situado na vida e que não perdia uma oportunidade de cometer uma
burlazinha… Tinha sempre uma desculpa. Um álibi… Talvez um dia não o
tivesse!... Um
pouco a tremer, mal refeito ainda, Joseph Havard,
um próspero negociante de diamantes tirou uns cubos de gelo de uma bem recheada «cuvette» do frigorífico instalado no
moderno bar de sua casa, lançando-os num copo onde deitara uma boa dose de
uísque. –
Uísque com gelo… têm a certeza de que não querem tomar nada? – perguntou ele.
O
inspector Juve e o
jornalista Fandor, que sempre acompanhava o inspector da Sureté nas suas
investigações, recusaram a oferta com um gesto de cabeça, e o francês, depois
de repor a «cuvette» no seu local, fechou a porta do frigorífico. –
Não tenham dúvidas de que estava mesmo a precisar disto… depois da terrível
experiência porque passei! Olhem só para os meus pulsos – disse ele,
exibindo-os. Estavam
bem patentes as marcas deixadas – segundo dizia pelas cordas com que o tinham
atado, enquanto à luz da lanterna eléctrica
pilhavam o seu cofre-forte instalado por detrás de um Renoir (uma cópia, é
certo…), de onde levaram diamantes em bruto no valor aproximado de setenta e
cinco mil dólares. Juve e Fandor tinham sido chamados à isolada casa de campo de Havard depois de a governanta, que o servia, e seu marido
o descobrirem amarrado a uma cadeira no gabinete de trabalho. Meia hora
depois chegou o inspector e o jornalista. Juve pediu a Havard para lhe
contar o que sucedera. –
A noite passada e depois de me ter despedido de um convidado com o qual
estive a tratar de negócios, vim para o meu gabinete de trabalho pôr a
correspondência em ordem – começou ele. – A noite estava escura e cerca das
nove horas as luzes apagaram-se subitamente. Pensei que fosse algum fusível
avariado e como eles se encontram na garagem saí para substituí-lo. Se não
fosse a avaria na luz, os assaltantes ainda agora estavam lá fora à espera
que eu lhes fosse abrir a porta… – disse Havard em
tom sarcástico. – A casa está bem protegida. Juve depressa concluiu
que isto era verdade. Havard tinha tomado todas as
precauções para proteger as consideráveis quantidades de diamantes que por
vezes se via obrigado a guardar naquela casa. As janelas estavam equipadas
com dispositivos de alarme e as portas dispunham de fechaduras das mais
seguras e também das mais caras que existiam no mercado, e ainda de correntes
de segurança. –
O pior é que o quadro dos fusíveis, como já lhes disse está instalado na
garagem e os assaltantes aproveitaram-se disso – repetiu Havard,
mal-humorado. Havard prosseguiu
dizendo que depois de desligar os sistemas de alarme, que não eram eléctricos, abriu a porta e saíra para se dirigir à
garagem. –
Mal dei uns passos fora da casa os assaltantes atiraram-se a mim
selvaticamente. Perdi os sentidos e quando recuperei estava aqui sentado numa
cadeira, manietado. Tentei livrar-me das cordas mas não consegui, e quando a
governanta e o marido aqui chegaram pelas nove e meia da manhã ainda me
encontraram amarrado – concluiu ele. Um
relógio eléctrico colocado na chaminé do fogão de
sala apresentava o atraso condizente com as declarações de Havard. –
Tem suspeitos? –perguntou Juve.
–
Claro que tenho. O primeiro, é De Brocq, o banqueiro de que lhe falei há bocado. O outro, é
a minha ex-mulher, Lizza Montez,
que durante doze anos andou tentando apanhar alguns «milhares» à minha custa. Ponha de parte a governanta e o marido. São
pessoas sérias. Em vinte e um anos de casa nunca cometeram um deslize. –
Muito bem. Mande-os chamar com a maior urgência. Duas
horas depois, sete pessoas encontravam-se numa sala daquela casa, onde
parecia que a noite era amiga do roubo. Juve começou por
interrogar De Brocq. Este disse que depois de ter
saído dali tinha-se dirigido de imediato ao comissariado da Polícia, distante
dali cerca de 500 metros. Fora lá entregar uns livros a um primo que estava
de serviço, e por ali se mantivera. O inspector de
imediato mandou confirmar o álibi… E este era verdadeiro! De
seguida foi a vez de Lizza. Alegou que a noite
passada não tinha saído de sua casa; estivera sozinha, já que depois de se
ter separado de Joseph Havard nunca mais olhara
para outro homem… Mas a «vista» de Juve depois de a
mirar «dos pés à cabeça», verificou que isso não devia corresponder
inteiramente à verdade… A
seguir, e apesar do aviso de Havard, Juve interrogou a governanta e o marido. Nada apurou,
apenas confirmando terem encontrado a porta encostada, avaria nos fusíveis e
o patrão amarrado. No
fim disto tudo, quer dizer, de ter recolhido as «opiniões» dos «suspeitos», Juve dirigiu-se ao especialista em impressões digitais.
Este pouco adiantou. Disse apenas que nada tinham encontrado nos dispositivos
de alarme, na garagem e no cofre. Apenas os «dedos» de Havard
e superfícies borradas. Isso queria dizer que tudo estava «limpo»…
Acrescentou também que o cofre-forte apesar de bem escondido era de fácil
abertura nas mãos de um perito. Tudo
parecia confuso na cabeça de Juve. Fandor que até ali se
tinha mantido calado, a certa altura interpelou Juve,
que continuava absorto nos seus pensamentos: –
Juve… quem pensa você que é o culpado? De Brocq, Lizza, a governanta, o
marido, Havard ou outra pessoa? Quem vai mandar
prender? –
Meu caro Fandor, realmente isto está complicado,
mas não tanto como parece. Por falar em prisões, vou mandar deter… Aqui há
gato… ou melhor… –
Faltam diamantes, meu amigo! Faltam diamantes… – retorquiu
Fandor a rir-se. 1 – Quem acha que Juve mandaria deter para averiguações? 2 – Justifique a atitude do
Inspector da Sureté. |
|
© DANIEL FALCÃO |
||
|
|