Autor Data 2 de Março de 2012 Secção Correio Policial [22] Publicação Correio do Ribatejo |
NÃO VALE A PENA MATAR Juve A
voz do velho João Rafael explodiu violentamente, ao replicar: Decididamente,
não! Já te tinha avisado que nunca mais te adiantaria um cêntimo. Estou farto
da tua vida dissoluto e das dívidas que contrais e que eu vou satisfazendo
com o meu dinheiro. Mas agora acabou. E rua… Jorge
Antero olhou o seu tio com comiseração e ódio. Um lampejo sinistro
perpassou-lhe no olhar fulgurante. A
ideia que trazia em mente voltou a acudir-lhe, desta vez com mais
intensidade. Estava resolvido a matar o velho, e dar ao caso um aspecto de suicídio. Nunca o seu já bem elaborado plano
lhe parecera tão bom como agora. Seria o crime perfeito e a consequente posse
da herança que lhe caberia. Olhou
o corpo tombado do ancião. Colocou-lhe a arma na mão direita, e relanceou o
olhar pelo aposento. Tudo em ordem como esperava. Afinal
– pensou – o caso foi bem mais fácil do que supus… Compôs
a cabeça da vítima, alinhou alguns utensílios que estavam fora de ordem e só
depois resolveu continuar o traçado do seu preconcebido plano. Tirou
uma folha do bloco de cartas e escreveu numa letra redonda, disfarçado, o
seguinte: “Caro
Senhor: É a última vez que o aviso. Se amanhã não me mandar a quantia de
1.000.000€, irei à Polícia denunciá-lo.” Leu
com satisfação o que tinha escrito e colocou a folha ao lado esquerdo da
vítima, sobre a secretária. Com todos os cuidados ia retirar-se, quando,
repentinamente, bradou em voz alta: –
Que estupidez ia cometer. Deixar aqui o bloco donde tirei a folha. O melhor é
levá-lo pois seria uma pista para os investigadores. Apoderou-se
do bloco, olhou detidamente pela última vez a encenação e achou-a perfeita.
Saiu. O
Inspector tomou conta da ocorrência. O caso
apresentava-se bicudo, mas o investigador adorava os casos difíceis. Desde o
início que Jorge Antero se pusera à sua investigação, fornecendo-lhe todos os
elementos possíveis para a descoberta do culpado. Ao
Inspector dissera que não descansaria enquanto não
visse castigado o assassino, no caso de haver crime. A uma pergunta do Inspector se fazia ideia de quem seria “X”, respondera
que fora ele quem realmente na véspera recebera pessoalmente a carta das mãos
duma pessoa, que agora tinha a certeza vinha disfarçada, e a entregara a seu
tio. Este não a abriu à sua frente e fora quando descobrira o corpo que
tomara conhecimento do seu conteúdo. Supunha pelo que inferiu da leitura
tratar-se de algum chantagista, que estando na posse de alguma falta de seu
tio o assediasse com pedidos de dinheiro. Estava convencido até que motivado
por isso o seu parente se suicidara. O
Inspector, que desde o primeiro momento suspeitara
do sobrinho da vítima, esclareceu o caso. E quando deu a explicação que destruía
todo o plano arquitectado pelo culpado, ouviu-o
murmurar: –
Não vale a pena matar… Pergunta-se:
Qual o erro, ou erros, cometidos por Jorge Antero? |
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© DANIEL FALCÃO |
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