Autor Data 7 de Setembro de 1978 Secção Mistério... Policiário [182] Competição Torneio
“4 Estações 78" | Mini C – Verão Problema nº 5-A Publicação Mundo de Aventuras [258] |
A MORTE DO MÁGICO Kagão O
palco com largas manchas de sangue do Teatro Municipal de Manaus e o cadáver
enrodilhado do homem que tinha o nome artístico de «O Grande Mistério», provavam que aquele que, segundo os cartazes do átrio,
desafiava a morte, fora por fim levado por ela… O
inspector Jorge Caimão deixou vaguear o olhar pela
plateia vazia e depois disse-me: –
Uma mulher mata o marido perante 350 testemunhas. Não te parece absurdo,
Pedro? O
sargento respondeu hesitante: –
Eu diria que deve ter sido um acidente, meu inspector.
Com certeza que este truque da bala falsa já deve ter causado mais mortes
noutras terras. Jorge
Caimão parecia que ia responder mas de repente o seu olhar descobriu uma
pequena bola de papel azul junto das luzes da ribalta. Aquilo era metade de
um bilhete de ingresso. Nele se lia: «Cadeira 65, Fila 20». Guardou o papel
no bolso. Depois, respondeu ao sargento: –
Tens razão. Aquilo deve ter sido um erro de truque… Eu sei que há várias
maneiras de fazer isto. Qual seria o sistema usado pelo falecido «Mistério»? No
camarim encontrava-se sentada e lavada em lágrimas a viúva do artista, uma
atraente loura, com meias altas, de seda, e um minúsculo saiote e colete cor
de malva. Fora ela a última testemunha da fatal actuação
do morto. Sobre
a mesa, repleta de boiões e frascos de maquilhagem, encontrava-se um revólver
que Jorge Caimão levantou com o maior dos cuidados. –
Parece uma arma igual a qualquer outra – tal foi o seu primeiro comentário. –
Como executava o seu marido o truque? –
Não sei explicar-lhe com exactidão. O João nunca me
disse; ou melhor, nunca me punha ao par dos seus segredos profissionais. Só
sei que utilizava várias balas autênticas e apenas uma era falsa. Mostrava a
verdadeira à plateia e depois escamoteava-a e dava-me uma falsa, que era a
que eu disparava. No entanto, as balas eram muito fáceis de confundir porque
a falsa estava muito bem feita. Jorge
Caimão preparava-se para se despedir quando reparou num pequeno pedaço de
papel que estava preso entre dois frascos de «rouge». Reparou então que era a
parte restante do bilhete que descobrira junto à ribalta, e que guardara no
bolso. –
Deve ser um dos bilhetes que o João ofereceu ao sr.
Monteiro – explicou a sr.a Maria Relvas.
– O meu marido tinha oferecido alguns e na altura do acidente, quando pedimos
voluntários, Monteiro levantou-se da plateia e veio ajudar-nos. Carlos
Monteiro era um homem magro e descuidado, ainda bastante jovem. Admitiu logo
que era muito amigo da sr.a Relvas,
muito mais amigo até que o seu próprio marido… Naquela
noite, Monteiro tinha sido convidado a subir ao palco e escolher uma bala de
uma bandeja cheia delas, o que fizera com a maior das naturalidades. O
artista tomou a bala nas mãos, mostrou-a aos espectadores e depois entregou-a
à esposa para que ela a metesse no revólver. Relvas disparou a uma ordem do
marido contra um alvo de louça que se despedaçou com o impacto da bala. Isto
fazia parte do espectáculo e seguia-se uma segunda
escolha mas desta vez seria o próprio artista o alvo a atingir… –
Eu sabia que ele trocara a bala verdadeira por uma falsa, mas hoje deve
ter-se enganado. Então
Jorge Caimão pediu ao sargento Pedro para que ele voltasse ao camarim da sr.a Relvas para que esta lhe desse a bala
falsa para depois comparar com a verdadeira o que ela fez sem a mínima
hesitação. –
Estou plenamente convencido que alguém pós uma marca igual à da bala falsa na
bala verdadeira o que levou o artista já idoso a cometer o seu último erro.
Ora, eu já tenho uma ideia bastante boa sobre quem deve ter sido a pessoa que
ajudou o desgraçado a cometer o erro fatal, não é verdade Pedro? PERGUNTA-SE:
1
– Sobre quem recaíam as suspeitas de Jorge Caimão? 2
– Porque afirma isso? Explique convenientemente a sua opinião. |
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© DANIEL FALCÃO |
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