Autor

Kop & Peixte

 

Data

11 de Julho de 2010

 

Secção

Policiário [990]

 

Competição

Campeonato Nacional e Taça de Portugal – 2010

Prova nº 7 (Parte II)

 

Publicação

Público

 

 

OS WOBBLY

Kop & Peixte

 

Haze e Broke, recém-chegados a Portugal, conheceram-se e apaixonaram-se um pelo outro nos bancos da Universidade. Casaram em Setembro de 1999, depois de Haze obter o diploma em Direito. O seu primeiro filho, Rascal, nasceu em 2000, e o segundo, Rogue, em 2002.

Sendo uma dupla de sucesso na construção e venda de imóveis, com o crescimento dos filhos, os Wobbly mudaram-se para a zona mais chique de Lisboa, assumindo uma vida de fausto e ostentação.

Após algum tempo, os negócios pioraram, culminando em problemas financeiros a que a crise da banca deu o toque final. Haze passou a viver obcecada com a sua aparência e perdeu a paciência para as crianças. Apesar disso, em 2008, tiveram um terceiro filho, Ragged. Desesperada pelo peso ganho durante a gravidez, começou a tomar drogas para emagrecer, piorando a sua saúde e não conseguindo os resultados que ansiava. Haze e Broke repensaram a sua vida e tomaram opções conjuntas. As coisas pareceram estabilizar, mas eis que a tragédia chegou.

Em Junho de 2009, cerca das 2h45, a polícia recebeu um pedido de socorro da casa dos Wobbly. Haze gritava freneticamente que ela e os seus dois filhos tinham sido apunhalados por um intruso que penetrara na sua casa e que as crianças estavam muito mal. Broke Wobbly, acordado pelos gritos da mulher, correu escada abaixo para o salão de família, onde havia poucas horas os tinha deixado a ver televisão. Tarde demais. Perante os corpos ensanguentados da mulher e dos filhos, lançou-se desesperadamente sobre Rogue, que já não respirava, tentando reanimá-lo. O salão comunicava com a sala de estar, à direita, e com a cozinha, em frente, a qual dava saída para a garagem contígua. “O intruso fugiu por ali”, dizia Haze, indicando a cozinha.

A polícia encontrou uma faca ensanguentada na bancada da cozinha, um pedaço da rede da janela que dava para a garagem e salpicos de sangue no chão.

Apesar dos esforços dos paramédicos, as crianças foram levadas já sem vida para o hospital. Haze contou à polícia que, enquanto dormia, um intruso entrou na sua casa e lançou-se sobre ela. Assim acordada, gritou e lutou até ele fugir em direcção à garagem. No entanto, não sabia explicar porque teria o intruso deixado para trás as jóias que tinha consigo quando foi atacada. Só depois se apercebeu do que tinha acontecido aos seus filhos, pois nada ouviu enquanto estes foram atacados. Descreveu o intruso como branco, alto, vestindo t-shirt e jeans azuis e usando um boné, também azul, de praia.

Haze e Broke foram levados ao hospital, a polícia selou a casa e deu início às investigações. Passados 12 dias, Haze foi presa e acusada da morte dos seus dois filhos. Considerada como culpada pelo tribunal, foi condenada à pena máxima, pelos seguintes motivos:

– As suas feridas parecerem pouco relevantes em comparação com as das crianças, mais profundas e dilacerantes;

– As únicas impressões digitais na cena do crime pertencerem a ela e aos filhos;

– As manchas na sua roupa conterem sangue dos seus filhos;

– No hospital, não ter demonstrado qualquer pesar pela perda dos filhos, revelando maior preocupação em vincar que teria as suas impressões digitais na faca, porque a tinha apanhado do chão da cozinha;

– Especialistas garantirem que seria impossível a um intruso ter abandonado a cena do crime sem deixar vestígios de sangue, e que um atacante sexual, nesta situação, manteria os filhos vivos para obter o que pretendia.

Um website criado em apoio de Haze e o interesse demonstrado pelos media sobre o caso, trouxeram a público evidências não investigadas antes do julgamento ou subestimadas pelo tribunal, levando à reabertura do processo, pois:

– As feridas de Haze revelaram-se muito mais profundas do que aparentemente deixavam transparecer, tendo o cirurgião que a tratou afirmado que, por 2 milímetros, a carótida não foi atingida;

– Os vestígios de sangue nas roupas de Broke eram da mulher e dos filhos;

– Foi encontrada uma impressão digital na sala de estar e outra na porta da garagem, que não pertenciam a qualquer dos presentes na cena do crime;

– Os paramédicos afirmaram que quando chegaram à cena do crime viram Broke no exterior;

– A rede da janela foi cortada do lado de fora da cozinha com a faca encontrada;

– Os vizinhos assinalaram a presença de um carro estranho na área uma semana antes e na noite do crime;

– A defesa de Haze tinha um acordo para não aprofundar as linhas de investigação que apontassem para outros familiares suspeitos.

Por vezes, na vida, acontecem cenas destas. Neste caso, nomes, lugares e texto foram adaptados às exigências do policiário. Que poderemos, então, concluir depois do que lemos?

 

A – Tomadas no seu conjunto, as evidências justificam a condenação de Haze.

B – Não há evidências que possam contribuir para incriminar Broke.

C – É claro que houve envolvimento de um intruso neste caso.

D – Nenhuma das alíneas anteriores permite uma afirmação segura.

 

SOLUÇÃO

© DANIEL FALCÃO