Autor Data 12 de Setembro de 2010 Secção Policiário [999] Competição Campeonato Nacional e Taça de
Portugal – 2010 Prova nº 9 (Parte II) Publicação Público |
QUE GRANDE LATA Lateiro Frederica
correu em direcção ao rio, por entre as árvores.
Procurava um refúgio, um sítio onde pudesse recuperar o fôlego e ler a sua
revista preferida. Pelo
menos foi o que ela contou quando foi questionada sobre o que aconteceu
naquela tarde do dia 27 de Maio: –
Comprei a revista e estava preparada para a começar a ler, quando notei que
estava incompleta. –
Que revista era essa? –
A Super Jovem. Comprava-a sempre e nesse dia com
muito mais interesse porque ia publicar uma colecção
de cromos autocolantes que eu não podia perder mesmo. –
Cromos autocolantes? Que cromos eram esses? –
Eram sobre Bocas Ecológicas. Tinham frases e imagens para sensibilizar as
pessoas mais jovens para as questões do ambiente, da ecologia, está a
perceber? –
Bem, mas depois o que aconteceu? –
Ora, o resto já sabem, quando estava a desfolhar a revista, verifiquei que
aquela não trazia os autocolantes! –
Voltaste à loja! –
Pois voltei. Eles não podiam ter à venda a revista sem os autocolantes, não é
verdade? –
Está bem, só há aí um pormenor, tu não pagaste a revista, não é verdade?
Foste reclamar que a revista estava incompleta, mas não a compraste, pois
não? –
Essa agora, pagando ou não a revista não estava completa! Se eu a tivesse
pago, ficava sem os autocolantes? –
Minha linda, as coisas não são assim. O primeiro erro é o gamanço da revista,
entendes? Depois, se não tinha os autocolantes, é que vinha a reclamação. Mas
isso agora não interessa. O que se passou a seguir? –
Quando entrei na loja para pedir os autocolantes, o homem passou-se dos
carretos! Começou a gritar e a esbracejar. Vi logo que ele não estava grande
coisa e tratei de me pôr ao fresco. –
Não pensaste que era por tua causa que ele estava a gritar? Não pensaste que
ele estava a gritar porque tu lhe gamaste a revista e ele reconheceu-te? –
Ora, nem me passou pela cabeça. O tipo estava chanfrado e pus-me a milhas… –
E não notaste mais nada, não ouviste nada? –
Ouvi um estrondo, mas já ia em corrida e nem para trás olhei. O homem podia
ter alguma arma, eu sei lá… –
Pois, mas o homem caiu em cima dos escaparates, se calhar empurrado por ti e
acabou por morrer, entendes? –
Eu não disse que ele não estava bem? Logo vi… Empurrado por mim, o tanas, eu estava cheia de medo do tipo e fugi a sete
pés! –
O que fizeste depois? –
Corri quanto pude e fui ler a revista para a sombra do Oceanário, em frente
do Tejo, nas calmas… –
Nunca te interrogaste sobre o que aconteceu ao homem? Nunca tiveste
curiosidade em saber? Nunca vieste falar connosco… –
Ora, sabia lá eu que vocês andavam à minha procura,
tanto tempo passado e se eu não sabia o que aconteceu ao homem, ia contar-vos
o quê? –
Minha linda, há uma mentira no teu depoimento e por
causa dela vais ficar connosco uma temporada, para ver se te lembras dos
pormenores, entendes? A
– Não se publicava a revista Super Jovem. B
– Não havia nenhuma colecção de cromos autocolantes
de Bocas Ecológicas. C
– Não podia sentar-se à sombra do Oceanário para ler a revista. D
– Nada disto se podia ter passado no dia 27 de Maio. |
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© DANIEL FALCÃO |
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