Autor Data 1 de Julho de 1992 Secção Policiário [1] Publicação Público |
MORTE EM LISBOA Luís Pessoa O sol estava radioso e
penetrava por entre o casario, fazendo assomar às janelas rostos alegres. Por
uma dessas janelas saiu um grito estridente que atraiu imediatamente uma
série de pessoas em busca de um espectáculo
esperado. Sangue! Com a chegada da polícia, ainda mais se agitou o público,
discutindo e fazendo conjecturas sobre o sucedido. O inspector
Fidalgo entrou no quarto atafulhado de roupas, móveis, numa desarrumação
incrível, e olhou a vítima, uma jovem loira, bonita, de uns olhos azuis intensos
mas imóveis. Depois de algumas
fotografias, foram-lhe apresentados três suspeitos, homens com quem a moça
privara nos últimos tempos. Interrogados, fizeram as
declarações que se seguem. Inácio: “Não vira nada.
Vinha buscá-la às 18 horas, como tinha sido combinado. Quando ia a subir as
escadas, ouvi um grito, corri pelas escadas acima, mas quando lá cheguei não
vi ninguém e ela estava morta. Não toquei em nada, claro!” Afonso: “Estive com ela até às 17 horas,
mais ou menos. Trouxe-a a casa e não me apercebi de nada de extraordinário. O
que sei é que a deixei viva e de boa saúde. Fui-me embora e não sei de mais
nada.” Américo: “Já não a via há
meses. Vinha hoje visitá-la e, de certa forma, fazer as pazes com ela. Não
sei de nada e, se quer que lhe diga, acho muito estranho que a matassem com
uma faca daquele tamanho. Estou chocado, espero que compreenda…” A morta ia ser transportada
do compartimento ao lado para a morgue. Aquela casa fatídica, com apenas uma
porta de acesso, uma janela e dois compartimentos, fora abalada pela morte da
sua única ocupante. Já na rua, Américo pediu
para ver a moça pela última vez, porque já não a via há vários meses, e a
cena foi comovente. Mais tarde, na Judiciária,
o inspector Fidalgo examinava os resultados da
autópsia, olhando nostalgicamente as fotografias onde aparece um corpo
bonito, cara arredondada e olhos azuis fitando o tecto.
O resultado da autópsia
indicava que a morte ocorrera por via de uma incisão nas costas provocada por
uma faca de cabo preto, que atingiu o coração. O inspector
Fidalgo já sabia quem era o culpado… A – O culpado foi Inácio,
porque já tinha subido as escadas e ninguém o acompanhou ao entrar no quarto. B – O culpado foi o Afonso
que a foi levar a casa e a matou quando soube que o Inácio a vinha buscar,
por ciúmes. C – O culpado é o Américo,
porque apareceu sem avisar e viu a moça a despedir-se do Afonso e à espera do
Inácio. D – O culpado é o Américo,
porque não podia saber como a jovem tinha sido morta. |
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© DANIEL FALCÃO |
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