Autor Data 6 de Julho de 1992 Secção Policiário [6] Publicação Público |
O INSPECTOR FIDALGO E A MORTE DO PESCADOR Luís Pessoa Henrique era o pescador com
mais sorte que se podia imaginar. Todos os dias se deslocava para aquela
rocha e ali ficava horas esquecidas a contemplar o rio, bem perto do mar,
retirando de tempos a tempos um peixe descuidado. Na
sua companhia andavam quase sempre o Tó e o Faneca, que, para mal dos seus
pecados, não conseguiam fazer o gesto de retirar peixe do rio com frequência,
vá-se lá saber porquê!? As discussões avolumavam-se
e o Henrique, com a calma que o caracterizava, ia deitando água na fervura,
dizendo que não havia truque nenhum e muito menos pactos com o diabo. E
ria-se muito com o desespero dos parceiros. Um dia, o inspector Fidalgo chegou à rocha, não para aprender a
pescar, mas para verificar a morte do Henrique, assassinado a navalha,
daquelas que são usadas para preparar o isco. Naturalmente que os principais
suspeitos eram os parceiros de pescarias e foi por aí que o inspector Fidalgo começou. Tó: “Não sei de nada.
Estava ali naquele monte a pescar e, para ser franco, passei pelas brasas.
Acordei com os gritos do Henrique e corri para aqui, há mais ou menos meia
hora, e vi o Henrique a esvair-se em sangue. Fiquei um bocado atrapalhado,
sem saber o que fazer… Fui a correr ao café para pedir ajuda e foi lá que o
encontrei a si. O resto já sabe… Uma pena!” O resto era um corpo
inerte, sem vida, ligeiramente pendente e parcialmente mergulhado na água que
a maré fazia baixar desde há algumas horas. O Faneca foi apanhado cerca
de duas horas depois, quando retirava da água o seu barco e o punha,
cuidadosamente, como sempre, ao abrigo das subidas da maré. Faneca: “Não vi nem ouvi
nada de nada. Nem sequer estive cá… Fui à ilha, aquela que está além, vê?... Não fui fazer nada de especial e não esperava
demorar-me tanto tempo, mas tive um azar dos diabos… Demorei-me mais ou menos
três horas, porque o meu barco foi apanhado pelas marés, apesar do cuidado
que sempre tenho e o rio levou-o… Tive de me atirar à água, está a ver, estou
todo molhado e só depois de muito esforço o consegui levar de novo para a
margem…” O crime tinha ocorrido há
cerca de três horas e o inspector olhava com frieza
o rio escuro, ali bem perto do mar, que começava a inchar, invadindo as
margens no eterno movimento das marés… Ele já tinha as suas
ideias… A – O culpado é o Tó porque
ninguém abandona um homem a esvair-se em sangue para ir ao café pedir
auxílio. B – O culpado é o Faneca
porque, com a maré baixa, nunca poderia chegar à ilha. C – O culpado é o Faneca
porque mentiu no seu depoimento e não podia ter perdido o barco na ilha. D – O culpado é o Tó porque
só ele estava a pescar com o Henrique e, por isso, só ele tinha navalha para
o matar. |
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© DANIEL FALCÃO |
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