Autor

Luís Pessoa

 

Data

9 de Julho de 1992

 

Secção

Policiário [9]

 

Publicação

Público

 

 

O INSPECTOR FIDALGO E O HOMEM DO BINÓCULO

Luís Pessoa

 

Havia sempre coisas estranhas a acontecer numa cidade grande e Lisboa não seria excepção, mas a verdade é que há vários dias nada havia de importante a assinalar e a monotonia se apoderava de todos.

O inspector Fidalgo levantou-se, visivelmente aborrecido, e vestia o sobretudo quando soou o telefone. Anunciando o quê? Fidalgo hesitou… Seria mais uma promoção de venda de posições em aldeamentos turísticos?... Atendeu.

– Por favor, venha depressa… É horrível!...

“Ah! Finalmente alguma coisa para fazer”, pensou, sem se aperceber sequer de que tal apelo esconderia algo de penoso e sofrimento ou mesmo morte… Não, nestes momentos não se pensa nesses pormenores mesquinhos, o que interessa é que há mistério no ar… E não se arrependeu de assim pensar, sorrindo levemente ao bater ruidosamente com a porta.

Na morada indicada não viu qualquer movimento suspeito, nem sequer a azáfama policial que se segue aos crimes, apenas e só um homem atarracado e nervoso, ostentando um binóculo ao pescoço, que cumpria um monótono ir e vir entre dois pontos imaginários.

– Senhor inspector?

– Sim, quem é você e qual é o problema?

– Eu observo tudo com os meus binóculos e assisti a um crime. A moça que mora aqui no terceiro andar foi assassinada e eu vi o criminoso, sei quem foi…

Ao entrar no quarto verificou que a moça era loura e bonita e fora morta com um tiro na nuca. O projéctil saíra pela boca da vítima e fora alojar-se na persiana, mesmo junto ao parapeito da janela, espalhando ali sangue e mais sangue.

– Eu não sei que dizer… Sei que não é muito bonito, mas gosto de espreitar as pessoas da minha janela e assisti ao crime que o namorado dela cometeu… Ela estava à janela, como de costume, quando o namorado apareceu, parecendo furioso. Discutiram e, quando ela lhe virou as costas, o tipo puxou de uma pistola e… Nem quero acreditar.

Identificado o namorado, não foi possível localizá-lo em lado nenhum, mas o inspector já sabia qualquer coisa…

 

A – O criminoso foi o homem do binóculo porque não podia estar à janela a espiar a moça nem os outros vizinhos.

B - O criminoso foi o homem do binóculo porque não podia ver a moça no quarto dela.

C – O criminoso foi o namorado e fugiu precisamente por saber que o iam acusar.

D – A moça suicidou-se e o homem do binóculo inventou tudo para dar nas vistas.

 

SOLUÇÃO

© DANIEL FALCÃO