Autor Data 1 de Agosto de 1992 Secção Policiário [32] Publicação Público |
Solução de: MORTE NO ESCRITÓRIO Luís Pessoa Vamos trabalhar no sentido
de “digerir” o problema “Morte no escritório”, que acho que poderá constituir
uma boa base de trabalho para verificarmos o que um simples texto nos pode
transmitir. Vejamos então: Curiosamente, e desde já, a
indicação de que ninguém foi totalista, o que quereria dizer, no caso de se
tratar de um torneio, que tinha havido um “pleno” do seu autor. Que havia
crime, quase todos atingiram. Uma meia dúzia enveredou pelo suicídio, mas
vamos ver que não podia ser. Em primeiro lugar, porque a
marca produzida pela arma não nos falava em queimaduras. Um tiro dado à
queima-roupa (como no suicídio tinha que ser) produziria uma auréola em torno
do buraco de penetração, queimando a pele. Tal não se verifica, logo não
poderá haver suicídio. Por outro lado, há a questão da caneta na mão esquerda
e a arma junto da mão direita. Se fosse suicídio, a tendência seria para
“agarrar” a pistola, o que não aconteceu. Parece pois, que o suicídio
é de excluir, como quase todos apontaram, de resto. Mas há mais e aqui é que
ninguém parece ter lido quer nas linhas, quer nas entrelinhas. Repare-se: – Trata-se de uma pistola.
Portanto, teria de ejectar a cápsula, ou seja,
atirá-la fora. Numa busca pormenorizada, nada foi encontrado. Se fosse
suicídio, certamente que o indivíduo não ia recolher a cápsula… depois de
morto! – Cheirava a tabaco… Se o
tiro tivesse sido dado dentro da sala, não haveria cheiro a pólvora? Claro
que sim! Quase todos os concorrentes
enveredaram pelos aspectos psicológicos,
nomeadamente a questão de estar a fumar cachimbo e a escrever, para indicar
que não estava sob tensão para se suicidar. Também é verdade! Mas um bom detective terá de começar pelos aspectos
verificáveis e objectivos: o que está lá no local
do crime! E só depois tentar justificar um determinado acto
pelos aspectos de subjectividade.
Não que sejam menos importantes, e casos há que são resolvidos por essa via,
mas primeiro tem de estar irrefutável! Resumindo, não foi suicídio
porque não há marcas de queimaduras em torno da ferida; não largaria a
pistola depois de disparar, uma vez que agarrou com toda a força a caneta;
tinha de estar uma cápsula no interior da sala; tinha de cheirar a pólvora lá
dentro, já que o tiro era desferido aí. Só depois poderíamos
enveredar pelos aspectos psicológicos e subjectivos, que iriam reforçar sempre a ideia de que
quem se suicida não está a fumar cachimbo ou a escrever! Crime, portanto! Quem o cometeu… teria de
ser o filho, porque era o único com oportunidade e motivo, pela sua
localização no exterior, que ele mesmo denuncia. |
© DANIEL FALCÃO |
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