Autor

Luís Pessoa

 

Data

13 de Julho de 1992

 

Secção

Policiário [13]

 

Publicação

Público

 

 

O INSPECTOR FIDALGO E O AMIGO ALEMÃO

Luís Pessoa

 

Aquela vivenda era a maior de quantas havia no bairro e o alemão que lá vivia, um dos mais famosos ricaços. Não era de estranhar, pois, que tivesse receios de assaltos e tudo o mais que, numa grande cidade, acontece quase todos os dias.

O inspector Fidalgo era seu amigo de longa data e tudo corria bem até que, naquela quarta-feira, recebeu um telefonema do mordomo de Hans, pedindo-lhe que comparecesse na vivenda porque tinha havido um assalto e o seu patrão fora agredido.

– Então, como aconteceu isso? – interrogou ao chegar a casa, dirigindo-se ao mordomo.

– Não sei, senhor, apenas ouvi um grande alarido na biblioteca, de coisas a tombar, e, quando me dirigi à porta, encontrei o sobrinho e a mulher do patrão, que tinham ouvido também o ruído e se dirigiam para lá, igualmente.

– E mais?

– Bem, tentámos abrir a porta, mas só há uma chave e essa está sempre em poder do patrão. Só nos restava arrombá-la, o que fizemos. Verificámos, então, que a chave estava metida na fechadura, pelo lado de dentro, e que no chão, junto à secretária, estava o patrão deitado no chão, a sangrar da nuca. Fora agredido.

– Tocaram nalguma coisa?

– Claro que não, inspector, apenas levantámos o patrão e o colocámos naquele sofá…

A biblioteca era espaçosa e, ao fundo, abria-se uma janela grande, que no entanto estava trancada por dentro, não havendo qualquer sinal de arrombamento. No cofre, escancarado, podiam-se ver alguns papéis, mas nada das colecções de moedas e selos, valiosíssimas, que possuía.

No chão, uma garrafa partida e um copo estilhaçado eram os únicos objectos fora de ordem…

O sobrinho não sabia de nada e confessou que quase nunca entrava naquele compartimento, porque não tinha autorização do tio, o que sucedia também com a mulher. Só o mordomo lá entrava e apenas a pedido do patrão, saindo de imediato, ouvindo mesmo a chave a rodar na fechadura sempre que saía.

O Hans, esse estava inconsolável… As suas ricas colecções, que com tanto carinho e dinheiro comprara, tinham passado à história…

Seguro havia, mas por um valor tal que nem metade ficava coberto. Bolas, não era só o dinheiro, era a estimação, porque, como dizia, o dinheiro volta a vir, mas as colecções, únicas no mundo, provavelmente jamais as reencontraria.

O inspector Fidalgo acenou com a cabeça…

 

A – O mordomo assaltou o patrão, aproveitando o momento em que lá foi levar alguma coisa, portanto com a porta aberta.

B – Foi algum ladrão que veio de fora e entrou pela janela, que fora aberta por qualquer motivo.

C – O próprio alemão simulou tudo para receber o prémio do seguro.

D – Foi o sobrinho, com a conivência da mulher de Hans, para lhe retirar valores e conseguir dinheiro.

 

SOLUÇÃO

© DANIEL FALCÃO