Autor

Luís Pessoa

 

Data

15 de Julho de 1992

 

Secção

Policiário [15]

 

Publicação

Público

 

 

O INSPECTOR FIDALGO E A CASA ESTRANHA

Luís Pessoa

 

Era realmente uma casa muito estranha. Pertencia a um antigo emigrante dum país nórdico, que ganhara, indiscutivelmente muito mais dinheiro do que bom gosto. Parecia um castelo, com paredes altas e fechadas, com uma arquitectura bastante discutível em termos estéticos.

O inspector Fidalgo ficou parado por alguns momentos a admirar aquela obra bizarra. Para a estrada só se abria uma porta estreita e duas pequenas janelas, ao nível do rés-do-chão, elevando-se, daí para cima, uma parede compacta, sem qualquer abertura, até uma altura de dois andares bem altos. Entre a estrada e a casa, estendia-se um jardim bem cuidado, vedado por um muro baixo, onde assentava um gradeamento com cinco metros de altura, e um portão igualmente alto. A parte de trás era em tudo semelhante, com a diferença de que a parede era compacta até à altura do primeiro andar e só depois se abriam janelas tímidas e pequenas. Digamos que a arquitectura era a mesma mas inversa.

Dentro, o rés-do-chão era constituído por um imenso salão, que abria para a frente e sem aberturas para trás e no andar de cima ficavam os quartos, que davam para trás, sem qualquer janela ou varanda para a frente.

Habitavam a casa o seu proprietário, entrevado e por isso a dormir na sala, num sofá, porque já não conseguia subir as escadas, e, no andar de cima, a governanta, mulher idosa e antipática, e o filho do dono da casa.

Foi no rés-do-chão que se deu o crime. Um tiro desferido a curta distância acabou com a vida do proprietário. O filho não voltou a ser visto e a polícia andava em perseguição dele. A velha estava em transe e quase não conseguia articular palavra.

Com muita calma e doses de paciência, o inspector Fidalgo pôde recolher o seu depoimento:

– Eu estava a arrumar os quartos, lá em cima quando ouvi uma explosão. Fui à janela para ver se sabia o que se passava, mas apenas vi o filho do senhor a fechar o portão e a fugir, a correr, pela estrada abaixo. Estranhei e vim cá a baixo e foi quando vi o senhor a esvair-se em sangue, com uma bala na cabeça. Fiquei completamente louca, sem saber o que devia fazer, e só quando pensei um bocadinho é que me lembrei que devia chamar a polícia… Não encontrei arma nenhuma…

O inspector Fidalgo ficou pensativo um momento, antes de fazer a sua opção…

 

A – O proprietário suicidou-se por estar farto de ser um inválido.

B – O filho matou-o para herdar a sua fortuna, julgando que não era descoberto.

C – A velha matou-o e inventou toda a história para incriminar o filho da vítima.

D – A velha e o filho da vítima estavam combinados para matar o velho.

 

SOLUÇÃO

© DANIEL FALCÃO