Autor Data 19 de Dezembro de 1993 Secção Policiário [129] Publicação Público |
O INSPECTOR FIDALGO INVESTIGA… 20 ANOS DEPOIS Luís Pessoa Decorria o mês de Abril e o
inspector Fidalgo entretinha-se a tentar resolver os
problemas policiários que o PÚBLICO inseria nas suas páginas – mais concretamente,
um problema do Supertorneio. O inspector gostava de
usufruir de muita calma para solucionar os enigmas e, talvez por isso mesmo,
não apreciou nada que o seu colega Serôdio entrasse pela porta, com alguma
violência, anunciando: – Resolvi finalmente o caso
da viúva! O caso da viúva era já
parte integrante do anedotário da corporação. E isso porque, vinte anos
passados sobre a ocorrência, o Serôdio – que não tinha sido capaz de resolver
o enigma na devida altura – ainda estava absolutamente convencido de que o
caso não tinha sido bem solucionado. – A que conclusões
chegaste? – interrogou Fidalgo. – Ora, o culpado é o
Manuel! – E porque dizes isso? – Bem, a viúva tinha dois
sobrinhos, o Luís e o Manuel. O Luís era o “menino querido”, sempre
acarinhado e bem recebido. O Manuel era uma espécie de “patinho feio”,
indesejado, a quem a tia nem ligava sequer, raramente lhe dirigindo palavra… – E isso é suficiente para
lhe atribuíres o roubo? – Claro que não, mas diz
qualquer coisa, não é verdade? Mas onde eu encontro as provas é nos
depoimentos… Repara que o Manuel confessa que aquele dia 25 de Abril foi o
mais complicado da sua vida. Primeiro porque, para variar, teve uma discussão
violenta com a tia, a quem, com muito custo, conseguiu convencer a passar-lhe
o cheque de cem contos, que se apressou de imediato a ir levantar ao banco.
Nesse mesmo dia, com medo que o dinheiro se acabasse… – E então? – Ora abóbora, Fidalgo,
está-se mesmo a ver que o moço não percebe nada do que anda a fazer… – Ó Serôdio, esquece esse caso. Tudo foi esclarecido e não vale a
pena estares a massacrar-te com isso. Se o tipo foi ou não mentiroso, tudo
pertence ao passado. O juiz já julgou, o rapaz foi condenado mais por ter
roubado o cheque e falsificado a assinatura que por ter causado a morte da
tia, que o médico legista confirmou ter sido ocasionada por forte choque
emocional, que lhe deu cabo do coração… – Há ou não há uma falha
grave no depoimento do rapaz? Uma falha que pode não ter nada a ver com o
caso, mas que ele comete… – Sinceramente não vejo em
que é que este caso te pode interessar, já não há mais nada para resolver…
Mete isso na cabeça… Não vais adiantar nada!... – Será possível que ninguém
detecte a falha? Pois é, amigo leitor, o
Serôdio está completamente obcecado com este enigma e afirma que há alguma
coisa no depoimento do Manuel que o torna um mentiroso. Será essa a sua
opinião também? Ou acha que o Serôdio está mesmo a inventar coisas? |
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© DANIEL FALCÃO |
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