Autor Data 6 de Outubro de 2013 Secção Policiário [1157] Competição Campeonato Nacional e Taça de
Portugal – 2013 Prova nº 9 (Parte I) Publicação Público |
MERGULHO NA ESCURIDÃO Marcelo Campos Os
dois elementos do Departamento de Investigação Criminal da Polícia
Judiciária, Eduardo Bravomonte e o colega de equipa
Jorge Miranda, regressam, em marcha lenta, de uma ação de rotina, quando
foram ultrapassados por um carro da P.S.P. assinalando a marcha a alta
velocidade seguido de um veículo do INEM. Três quarteirões adiante deparam
com aqueles veículos estacionados junto a um edifício. Algumas pessoas
haviam-se aproximado curiosas, contidas por um dos agentes, os outros dois já
haviam penetrado no edifício. Eduardo e o colega conferenciaram entre si e
resolveram estacionar, por sua vez, já quando os paramédicos entravam
carregados com diversa aparelhagem. Eduardo
identificou-se e o polícia elucidou: –
É no rés-do-chão. Parece que um homem caiu do 3º andar pelo poço do elevador
de serviço. Os meus colegas estão lá… Entraram
na ampla sala de receção do edifício e o Inspetor Eduardo entrou na cabine do
elevador onde um homem jazia enrodilhado em si próprio. No momento em que o
paramédico procurou melhorar a posição da vítima para verificar os possíveis
ferimentos, esta abriu os olhos, encarou Edmundo e murmurou: –
Ins…tor Bra…
Um fio de sangue saiu-lhe do canto da boca e deixou cair a
cabeça. –
Poça… está morto! – elucidou o paramédico, retirando
o auscultador que, entretanto, colocara, e cessando as operações de
recuperação. Com um suspiro fundo, desabafou: –
Nada mais! É todo seu. Como disse que se chamava? – perguntou. –
Não disse… respondeu o Inspetor, algo aborrecido. – Depois serenou e
apresentou-se: –
Não estava de serviço aqui; agora estou. Quero saber o que se passou. Olhou à sua volta. No reduzido espaço da
cabine do elevador, apenas a vítima – que não lhe seria desconhecida; pensava
que tinha boa memória para rostos, mas este não se aproximava. Uns óculos
pretos, quebrados, uma bengala de cego a espreitar por debaixo do corpo.
Procurou a identificação, sem êxito, já que os bolsos do morto continham
apenas um lenço sujo e uma nota de cem euros, dobrada. Na mão esquerda, que parecia
crispada, abriu-a para extrair um botão branco, grande, ainda com uma linha
pegada. Fechou-o num envelope de serviço, perguntando a si próprio de onde
provinha. Acabou por recolher os óculos igualmente num envelope, marcando o
sítio; saiu
da cabine e notou o grande letreiro na porta: “Avariado, Fora de serviço”. O
colega já tinha feito a sua parte. Segundo informação obtida do polícia que
acompanhara o desenrolar das operações, o colega – terceiro elemento da
corporação – estava no terceiro andar, com o homem que presenciara a queda e
chamara o INEM e consequentemente a polícia. Ainda estava de pijama e foi
vestir roupa mais própria, logo que chegamos. O
Inspetor fez sinal ao colega, e subiu as escadas até ao 3º andar. Passou
junto do elevador cuja porta fechada ostentava igual letreiro ao do
rés-do-chão e dirigiu-se ao polícia que esperava frente à porta aberta, de
onde saiu um homem de meia-idade, ar descontraído e fato completo.
Identificou-se e pediu esclarecimentos. –
Chato, sabe? – começou o homem. – Tenho um estabelecimento de venda
imobiliária, bastante próspero. Conhecia o homem, que fora meu contabilista
durante sete anos e me ajudou a obter alguns negócios. Depois deixou-me para
instalar uma firma de contabilidade por conta própria. Foi “sol de pouca
dura”, fez uns desfalques e foi julgado e preso. Na prisão fez parte de uma
tentativa de revolta, foi atingido nos olhos por gás ou algo pior, que o terá
deixado cego. Depois que saiu da grelha, já fez quatro ou cinco tentativas
para me extorquir dinheiro em nome dos negócios que me proporcionou. Hoje
dei-lhe cem euros, por dó. A resmungar disse que voltava… acompanhei-o com
olhar enquanto avançava tateando com a bengala a parede até chegar ao
elevador que estava com a porta aberta; gritei-lhe mas ele entrou e mergulhou
nas trevas…corri escada a baixo enquanto chamava o INEM… veio a polícia… Sei
lá, pobre desgraçado! Eduardo
bateu a todas as portas naquele andar: não encontrou ninguém. Ficou um pouco
pensativo. As engrenagens do seu cérebro que o haviam tornado conhecido
“entre os famosos da Judite” – com direito a retrato no jornal, o que o contrariava seriamente –,
começaram a encaixar ideias e factos nos seus lugares como peças de “um
dominó”. Por fim convidou: –
Venha comigo passar isso ao papel… Quando
se juntaram ao outro polícia, disse calma e deliberadamente: –
Bem, deixem alguém a tomar conta do corpo, até que a “técnica” apareça por aí
e o legista, claro, dispense a vítima para a autópsia. Este – e apontava ao
próspero comerciante de imóveis – levem-no para a esquadra, preparem tudo
para amanhã ser levado perante o juiz. Vou providenciar para que me passem
uma busca incriminatória na sua habitação – preciso completar uma prova! Qual
o raciocínio do Inspetor para tal procedimento? Justifique a resposta. |
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© DANIEL FALCÃO |
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