Autor

Márvel

 

Data

31 de Maio de 1959

 

Secção

Na Pista do Culpado [4]

 

Competição

Torneio de Abertura

Problema nº 4

 

Publicação

Ordem Nova

 

 

O GRAVADOR RELATA O CRIME…

Márvel

 

Terminado o exame ao aposento, o Inspector Mário Góis e os peritos técnicos que o haviam secundado na tarefa, estavam de posse duma pista, talvez de mor importância para deter o assassino do maestro Paulo Bastos. Quando o criminoso o surpreendeu, Paulo Bastos gravava uma das suas últimas criações musicais. Provavelmente perturbado pela súbita aparição, não desligara o gravador, e, como resultado, na fita magnética ficou impressa, sucedendo à música, uma conversa pequena mas significativa:

«– Ah! És tu? Assustaste-me.»

«– Esse é quase o meu intuito, Paulo.»

«– Não te percebo.»

«– Quero assustar-te, sim, Paulo…»

«– Para que é isso?»

«– … pela última vez!»

Ouvem-se estampidos de dois tiros e depois vários sons inidentificáveis, culminados pelo ruido de uma porta que se fecha.

- É estranho que a voz do assassino seja assim rouca – disse Mário Góis – Se é com o fim de disfarçar a verdadeira, então é porque sabia que o gravador estava em acção. Nesse caso teria sido mais simples e seguro para ele retirar a fita do aparelho.

– Talvez estivesse constipado. – sugeriu um dos polícias.    

– Ou pretendesse inculpar um inocente. Bem, isso se averiguará depois. Por agora necessitamos apurar quem está implicado ou pode aclarar o caso.

Partindo deste princípio foram detidos três indivíduos que não ocultaram ter estado com a vítima na tarde da sua morte. Todos se desconheciam entre si. A acreditar nas suas palavras, nenhum deles liquidara Paulo Bastos.

Com os três dava-se um curioso caso de esquecimento colectivo: nenhum se recordava das horas em que visitaram o assassinado. Quanto ao assunto que motivara tal visita, foram mais precisos.

Álvaro Vieira, que por sinal estava bastante rouco, assim como António Baptista, um dos outros, não hesitou ao afirmar com desassombro:

– Queria pedir ao senhor Bastos que me cedesse o lugar de trompetista da sua orquestra, que vagara. Ele recusou, o que não deixou de me aborrecer, mas nunca ao ponto de o matar. Pobre senhor Bastos!

E António Baptista disse por sua vez, com displicência:

– Ora, pura e momentânea visita. Tratava-se de o convidar para um fim- de-semana no campo. Chegámos a discutir por que ele às minhas palavras: «– Que tal se viesses comigo até ao campo, Paulo?», respondeu de forma inconveniente. Mas tudo isso não foi mais que uma tempestade num copo de água.

Sobre o mesmo assunto depôs Raúl Vicente:

– Recebi uma carta do senhor Bastos, convocando-me para ir a sua casa. Tratava-se do lugar de trompetista que eu também pretendia. Falámos e ficou tudo ajustado.

– Tem essa carta consigo? – perguntou Mário Gois.

– É esta.

O Inspector leu-a. Era datada da véspera e escrita com a inconfundível letra do maestro. Finalizava assim: «De forma que o espero pelas 18 horas de amanhã sem falta. Se não comparecer a tal hora, ver-me-ei obrigado a dar o lugar a outro pretendente.»

– Torne a ler esta parte. – convidou Góis.

Quando Vicente obedeceu, disse, de sobrolho franzido:

– Então, uma vez que conseguiu o emprego, o senhor tinha que saber a que horas esteve em casa da vítima. Porque disse o contrário?

– É que não me lembrava. Compreende… a comoção de me ver envolvido no caso… estas coisas assim…

O Inspector não disse nada no momento. Pensava que aquilo podia ser. Mas

   

PERGUNTA-SE:

– Qual dos três é o assassino?

– Onde baseia essa resposta?

 

SOLUÇÃO

© DANIEL FALCÃO