Autor

Márvel

 

Data

12 de Julho de 1959

 

Secção

Na Pista do Culpado [10]

 

Competição

Torneio de Homenagem ao Policiário Português

Problema nº 2

 

Publicação

Ordem Nova

 

 

O GOSTO DO MISTÉRIO

Márvel

 

Há perto de dois anos e meio, vem-se distinguindo na luta por uma maior Digitalizar001001divulgação do passatempo policial, a rubrica especializada de Mr. Jartur, que a «FLAMA» publica quinzenalmente com cronométrica pontualidade. O seu melhor elogio resume-se em poucas palavras: a grande maioria dos seus colaboradores dos primeiros tempos, jamais deixou de concorrer às suas posteriores competições.

Porque será?

 

Paulo Romão, cujo interesse por toda a matéria enigmática e misteriosa, era bem conhecida das pessoas que com ele conviviam, sentia-se assustado por um caso desse género, em que, desta vez, lhe competia ser a personagem menos desejada: a vítima.

Numa carta fora-lhe dirigida uma ameaça de morte. Uma carta que encontrou entre os dois lençóis da cama, perto do travesseiro, quando se preparava para a ocupar.

Desde então nunca mais sossegara. Sentia-se permanentemente sobressaltado. Avisar a polícia? Para quê!... Não o tomariam a sério devido ao seu conhecido gosto do mistério. Pensariam que… Ah! Ele não daria motivo a que se rissem à custa da sua tragédia.

Estava frio. Encetou uma garrafa de «Porto», de que encheu um cálice. Lentamente, sorveu um trago. E pôs-se a rememorar o que acontecera no dia em que encontrara a carta na cama.

Os sogros foram lá almoçar. E bem que almoçaram! O resultado foi o sogro apanhar a indigestão.

Emborcou o resto do cálice. E continuou a coordenar as recordações: Levaram-no em braços para o seu quarto e deitaram-no. Depois, ele e a mulher conduziram os pais dela à sua residência. E a esposa não quis abandonar o pai. Regressou só. Que mais houve? Ah!... Ralhou com a criada por não ter feito a cama que a ocupação imprevista desfizera por completo.

Reencheu o pequeno cálice e tomou um gole. Que mais, depois? Ah, o Amadeu viera visitá-lo. Insistiu com ele para que tomasse um «Porto» - curioso: pensara abrir a garrafa que estava utilizando em seu proveito – mas ele preferiu um refresco, o que o fez deixá-lo só por cinco minutos para se dirigir à cozinha e prepará-lo. A criada saíra e não voltaria nessa noite. Pedira e obtivera permissão para ir visitar a família.

O retinir do telefone pô-lo duplamente nervoso. Foi ver. Caminhou pelo corredor, atravessou a cozinha e penetrou no seu quarto pela única porta de acesso.

Era a mulher.

A porta da entrada, apenas fechada no trinco, abriu-se. Alguém entrou. Cautelosamente certificou-se de que estava só. Olhou para a mesa, para a garrafa e para o cálice. E actuou. Encheu este e bebeu, repetindo a manobra. Em seguida despejou um pequeno frasco que tirou da algibeira, pelo gargalo da garrafa.

Devia ser tudo o que ali levara o indivíduo, pois após isto saiu.

 

Paulo Romão regressou. E logo notou algo de anormal. Fitou a garrafa com desconfiança. Entretanto, o seu cérebro trabalhava…

Era o seu eterno gosto do mistério, agora empregado com finalidade prática e útil.

 

PERGUNTA-SE:

– O que notou Romão de anormal?

– Tem alguma ideia sobre a identidade do intruso?

– Exemplifique-a.

 

SOLUÇÃO

© DANIEL FALCÃO