Autor

Márvel

 

Data

23 de Agosto de 1959

 

Secção

Na Pista do Culpado [16]

 

Competição

Torneio de Homenagem ao Policiário Português

Problema nº 8

 

Publicação

Ordem Nova

 

 

O CRIME NÃO COMPENSA

Márvel

 

Desde que surgiu a ampliar o nosso firmamento policiário, a rubrica «O CRIME NÃO COMPENSA» de «ECOS DO SÔR», tem trilhado um caminho rectilíneo e despretensioso. A par duma conduta totalmente desprovida de atavismos, tem uma nota agradável e característica que lhe duplica o valor: a variedade e originalidade do seu conteúdo, fruto dos admiráveis esforços de Matos Serras – seu orientador. 

 

O acanhado camarote estava em perfeita ordem de arrumo. Entre os pés da vítima, que jazia de bruços, e o casco do navio a distância era de cerca de um metro e meio.

Uma forte corrente de ar fez o comandante voltar-se para a porta. Era Matos Serras, um passageiro que pela sua bem-humorada comunicabilidade conseguira granjear a confiança e a amizade do velho marítimo.

– Andei a fazer umas investigações, capitão – declarou ele. – Segundo alguns marinheiros e um oficial, parece não existirem dúvidas que no período em que o crime foi perpetrado, só estavam cá em baixo a senhora Mercedes Menezes e aquele baixote do Vítor Almeida. Porque não os interroga?

– Vou interrogar várias pessoas, meu caro, mas antes pretendo inteirar-me dos pormenores deste local e obituários. Já sabe mais alguma coisa, doutor?

O médico, ainda inclinado para o corpo, respondeu:

– Ainda é cedo, comandante. Dentro de uma hora, talvez…

Acompanhado por Matos Serras, o capitão saiu. Mandou conduzir ao seu camarote as pessoas citadas por Matos Serras, e para lá se encaminhou também. A entrevista não demorou. Declarou a senhora:

– Estive sempre no meu quarto. Ouvi dois estampidos, mas não sabia o que era. Nunca tinha ouvido um tiro. Não me importei com isso, pensando que fosse qualquer manobra no convés. Não posso adiantar mais nada.

O baixo, autêntico anão, e atarracado Almeida foi ainda mais lacónico:

– Não ouvi coisa nenhuma. O meu camarote fica bastante afastado do ponto onde foi ou foram disparados os tiros. Posso, porém, garantir que não liquidei o que agora jaz morto.

Deixando o capitão a conversar com os suspeitos, Matos Serras dirigiu-se para o camarote do assassinado. Estavam a remover o corpo, e só então é que foi iniciada uma revisão ao aposento, em que antes ninguém tocara. Matos Serras, antes que o médico se afastasse, interpelou-o:

– E agora, doutor, já tomou alguns apontamentos?

– Pouca coisa. Apenas que a bala entrou pouco acima do estômago e saiu pelas costas, seguindo uma trajectória a inclinar-se muito para a verticalidade. Deve ter sido disparada por uma arma de bom calibre.

– Mais nada?

– Para já não. Ainda há pouco mais de uma hora foi descoberto o corpo…

Proferidas estas palavras, retirou-se. Matos Serras entrou no camarote e ficou a admirar o trabalho dos dois marinheiros que, sob as vistas dum oficial, faziam uma vistoria ao local. Os resultados pareciam nada ter com interesse para o caso. O aposento nada de extraordinário denotava. Havia duas cápsulas deflagradas no solo, e era tudo. Na sua totalidade, os demais pormenores não eram invulgares, se se exceptuar a existência de um buraco de bala na parede.

– Bom! – Filosofou Matos Serras. – Um caso vulgar. Mais um motivo para os criminosos compreenderem que o crime não compensa.

 

PERGUNTA-SE:

– Quem é o culpado?

– Porquê?

 

SOLUÇÃO

© DANIEL FALCÃO