Autor

Márvel

 

Data

30 de Agosto de 1959

 

Secção

Na Pista do Culpado [17]

 

Competição

Torneio de Homenagem ao Policiário Português

Problema nº 9

 

Publicação

Ordem Nova

 

 

A CHAVE DO MISTÉRIO

Márvel

 

O «Penalti”, interessante semanário desportivo, não pôde manter a sua publicação por muito tempo. Deixou de existir e com ele desapareceu uma prometedora secção policial: “A CHAVE DO MISTÉRIO”, dirigida pelo nosso camarada «Insp. Metaverde». Oxalá este amigo a faça ressurgir noutra publicação, onde se possa desenvolver a bem da Causa Policial.

 

O Insp. Metaverde desviou a vista da vitrine aberta onde fulgia o diamante «Indiano», o mais belo exemplar da colecção do conde de Camponegro, para fixar no pequeno balcão do bar ao canto do salão, ante o qual um sujeito dedicava toda a sua atenção a uma chávena de café que tinha junto de si. Preparava-se para a levar aos lábios, quando foi interrompido por algumas palmadinhas nas costas.

– Então que faz aqui encafuado, Martins? – repreendeu o recém-vindo. – A patinagem vai começar; venha ver.

– Isso não é coisa que me interesse muito – disse o outro, que já havia pousado a chávena.

– Olhe que a Eduarda patina maravilhosamente.

– Eu sei. Já a vi uma vez.

– Então deve saber o que vale um espectáculo em que ela colabore.

– Estou desconfiado que a si interessa-lhe mais o físico que a arte da “miúda”.

O outro riu.

– Ambas as coisas. Nela tudo é bom, não acha? Venha daí.

Martins levantou-se e seguiu o amigo. Ao passar por Metaverde e por outro personagem que acabara de entrar, convidou:

– Venham também ver a patinagem.

Os dois recusaram, dizendo à laia de desculpa que «iriam depois”. Assim que eles saíram, Gomes de Sousa, o que ficou com Metaverde, olhou para este, sorridente, com o indicador nos lábios, pedindo-lhe segredo. Ao mesmo tempo, aproximou-se do café que o outro deixara, e bebeu-o dum trago sem qualquer hesitação.

Ao pousar a chávena, teve um movimento desastrado.

– Diabo!

Despedaçando-se no solo, o açucareiro de vidro provocou um ruido agudo e ecoante que atraiu algumas pessoas à sala.

– Desculpe-me, caro conde – disse Sousa a uma figura alta e de porte altivo… Sou um trapalhão! Queria pregar uma partida aqui ao Martins, usando eu o café que lhe era destinado e acabei por fazer este lindo serviço.

– Sempre com as suas brincadeiras, amigo Sousa – disse o conde, com um sorriso. – Não se preocupe com isso aí. Não tem a mínima importância.

Começaram a fervilhar os comentários e ditos chistosos ao incidente. De repente uma voz exclamou:

– O diamante desapareceu!

Era verdade. Na vitrine, o estojo que contivera a jóia estava vazio. Enquanto se cruzavam as mais incomuns suposições, o Insp. Metaverde logo previu o evidente. O diamante fora roubado! O ladrão agira entre o momento em que ele desviou os olhos da vitrine, e a descoberta da falta da pedra. Ora, ele sabia que ninguém, dentro da sala, se acercara da vitrine. Logo, o larápio entrara sorrateiramente por aquela porta situada pertinho da vitrine, e…

Foi isso que o Insp. Metaverde expôs aos presentes, após todos se convencerem que a desaparição não era fruto de brincadeira. Em seguida perguntou a Gomes de Sousa:

– Quando entrou, não viu ninguém ao pé da vitrine?

– Não! Aliás, só entr4ei quando o Martins e o Costa se preparavam para sair. Até entrei por isso mesmo, por eles estarem aqui. Ia a passar, quando ouvi o Martins falar do físico da «miúda» - da Eduarda, é claro – e o Costa respondeu. A conversa agradava-me e apareci. Julgo que o ladrão actuou antes de eu entrar.

– E você, Costa?

– Também não. Entrei quando o Martins se preparava para tomar o café, para o convencer a vir comigo.

Igualmente, Martins nada adiantou. Metaverde não se surpreendeu. Se ele próprio nada vira… Entretanto, a investigação não resultara infrutífera.

 

PERGUNTA-SE:

– O que adiantou já o Insp. Metaverde?

 

SOLUÇÃO

© DANIEL FALCÃO