Autor

Marvel

 

Data

Junho de 1977

 

Secção

Enigma Policiário [15]

 

Competição

Volta a Portugal em Problemas Policiais

4ª Etapa

(Porto – Viana do Castelo – Braga – Guimarães)

 

Publicação

Passatempo [37]

 

 

 

 

 

 

 

AQUELE FELIZ INSUCESSO…

Marvel

Solução apresentada por Insp. Moisés

A) – Lido o problema uma primeira vez, com papel e esferográfica ao lado, fiquei desde logo com uma ideia geral sobre o problema, mas sem ter ainda um sentido exacto, relativamente à sua solução;

B) – Durante a segunda leitura, tomei os seguintes apontamentos, que me pareceram indispensáveis para uma eventual resposta:

B – 1 – «noite cerrada, sem lua, mal atenuada pela iluminação pública»

B – 2 – «era bem conhecido na zona»

B – 3 – «nos pulsos pulseiras faiscantes»

B – 4 – «ele retirara os pés dos pedais e os fazia deslizar para fora… o olhar piscante… a luz da lâmpada»

B – 5 – «Toyota novinho em folha»

B – 6 – «as chaves no sítio»

B – 7 – «chovia bastante»

B – 8 – «limpa-vidros giravam como loucos»

B – 9 – «um amplo espaço entre carros»

B – 10 – «apago os faróis, desligo o motor e estaciono»

B – 11 – «um comboio corria»

B – 12 – «também servia»

B – 13 – «não se avistava quando me baixei»

B – 14 – «a porta foi aberta de repelão»

B – 15 – «cor clara»

B – 16 – «nem a matrícula sabíamos»

C) – De posse destes elementos, analisei as várias hipóteses que se poderiam considerar, para o caso, e que dessem cabal resposta à pergunta posta: porque suspeitaram do carro estacionado? E lembrei-me:

C) – 1 – De que eles podiam ter ouvido o motor a parar – mas o barulho do comboio que corria, anula esta alínea!

C) – 2 – De que eles podiam ter cheirado a gasolina queimada que, por vezes, os carros deitam, quando param ou arrancam – mas estava a chover muito e eles iam dentro de outro carro, por certo até com os vidros fechados, e é mais uma alínea que se esvai…

C) – 3 – De que o carro podia estar estacionado ao contrário, embora no meio de outros – mas o nosso homem era bem conhecido na zona, logo, também a zona deveria ser bem conhecida dele, para que se aceite a hipótese de ir cometer tal falha…

C) – 4 – De que poderiam os outros carros ter o pavimento seco, debaixo deles, por terem sido lá colocados antes de se iniciar chuva, e o dele estar molhado – mas nada no problema nos diz se chovia há muito ou se há instantes, além de que, por estar a chover bastante, esse mesmo pavimento naturalmente acabaria por, em poucos minutos, estar totalmente molhado. Por outro lado, com aquela escuridão, é pouco crível que a Polícia fosse a olhar para debaixo dos carros estacionados e reparasse nesse pormenor, se existisse!

C) – 5 – De que eles poderiam ter visto qualquer reflexo das pulseiras faiscantes – mas aquela escuridão e o facto do nosso homem se ter inclinado sobre o banco do lado, tornam isso mais do que improvável…

D) – Lido de novo o problema, já que nenhuma destas hipóteses me satisfaziam, e estudados os apontamentos já tomados anteriormente, reparei mais atentamente nos pormenores n.os 4, 5 e 10 e, considerando por um lado, que o autor do problema – Marvel – (que já conheço há longos anos…) é raposa velha e «matreira» e, por outro, que o pormenor nº 4 está colocado no, digamos, preâmbulo da história, a fazer tudo para passar despercebido, enquanto que a restante acção a que ele inteiramente se associa aparece só quase no final, desconfiei, a partir desse exacto instante, que o «nó» no problema deveria estar aí, só não o tendo solucionado de imediato porque não tenho carro, nem percebo nada dessa «gramática», circunstâncias estas, aliás, que me tornam num exemplar hoje raríssimo no nosso País! Recorri, por isso mesmo, ao telefone e ao Stand Toyota desta cidade dos doutores, de onde muito amavelmente me esclareceram que, efectivamente, e tal como eu suspeitava, «MESMO COM OS FARÓIS APAGADOS E O MOTOR DESLIGADO, NOS TOYOTAS, SE O CONDUTOR MANTIVER OS PÉS NOS PEDAIS, DÁ SINAL LUMINOSO (DE TRAVAGEM) A SUA RECTAGUARDA, POR VIRTUDE DA IGNIÇÃO». Foi esse sinal luminoso, portanto, que chamou a atenção dos perseguidores, sobretudo por verificarem também que o carro dava esse sinal sem que, entretanto, fosse visível o vulto do condutor lá dentro… Pode ainda acrescentar-se que, por essa mesma razão, também estaria o limpa-vidros a girar, mas, naquela escuridão, seria possível a Polícia aperceber-se (vindo da rectaguarda) do movimento desse aparelho? Penso que isso seria muito difícil, pelo que acredito mais que terá sido, sobretudo, o sinal luminoso (stop) o que chamou a atenção dos homens da Lei…

…E foi assim que, muito embora nada percebendo de mecânica automobilística, nem de carros, solucionei o problema «Aquele Feliz Insucesso» que eu creio terá sido, para mim, um… feliz sucesso! Ou não?...