Autor Data Março de 1948 Secção Publicação Altura – nº 10 |
O SUICÍDIO É INEVITÁVEL! M. Constantino No
silêncio do quarto, o inspector Cláudio acendeu o «Camel» preso no canto dos lábios, baixou-se para examinar
o rosto do morto, e voltando-se para os dois homens que o olhavam
impassíveis, inquiriu: -
Ninguém tocou em nada? -
Nada, responderam imediatamente. -
Conte-nos então, Mick, o que se passou – volveu,
dirigindo-se ao mais alto dos homens. Era este também o mais velho; tinha
grisalhos os cabelos, a fronte alta, os olhos dum azul quase pardo. Duros e
manhosos. O
visado respondeu: -
Voltava duma viagem de negócios; nada mais natural que quisesse visitar o meu
sócio, foi nessa qualidade que aqui vim. Quando entrava,
Leonard contou-me o sucedido e nem mesmo entrei, voltei atrás e encontrámo-lo
a você à porta. Sim, cheguei aqui às 13 horas; são como sabe 3 e 20 –
terminou olhando o relógio. O
inspector puxou do isqueiro para acender o cigarro
que se apagara e olhava ora para Mick, ora para o
morto. Este último devia ser mais novo que aquele. Está tombado, de bruços
sobre o cano do gás com a cara quase encostada ao mesmo. A morte naquelas
condições, não demorara muito; as janelas calafetadas, o quarto pequeníssimo,
o cano com pelo menos 3cm de diâmetro. Leonard
também apresentava o seu álibi: saíra cedo para levantar uns dinheiros,
almoçou fora e entrou em casa quase às 13 horas. Nem teve tempo de Fazer
qualquer coisa. Foi direito ao quarto e, verificando a morte do amigo com
quem vivia em comum, saíu correndo, e quase bateu
com Mick que chegava naquele momento. Para
o inspector Cláudio, era mais que certo estar o
caso resolvido, e assim, chamados os polícias da Scotland,
o cadáver foi fotografado em todos os sentidos. Contudo, ao removerem-no
tiveram uma grande surpresa: debaixo do corpo estava um papel com as letras
fatídicas – o suicídio é inevitável. Souberam
mais tarde que fora inegavelmente escrito pelo morto, mas caso curioso, não
tinha impressões digitais. No
entanto, todos eram unânimes em afirmar que houvera… 1)
– Crime ou suicídio? Porquê? 2)
– Deve prender-se alguém? Porquê? |
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© DANIEL FALCÃO |
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