Autor

Medvet

 

Data

21 de Dezembro de 1990

 

Secção

O Detective - Zona A-Team [114]

 

Publicação

Jornal de Almada

 

 

CRIME EMBRULHADO

Medvet

Dedicado à memória do Detective Misterioso

Aquele Natal foi inesquecível para o Inspector Rodriguinho. Vivendo só e sem família chegada, decidira convidar alguns amigos para o almoço do dia de Natal.

De manhã estava já a mesa posta, cintilando sobre a luz do sol invernal. A um canto do vasto aposento brilhava uma árvore enfeitada de mil berloques, a cujos pés se estendiam, de acordo com a tradição, embrulhos de papel colorido, estando alguns pendurados das prateleiras da estante onde jaziam livros (policiários pois claro), em meio de uma verdadeira multidão de cactos de todos os tamanhos e feitios. Espalhadas por toda a sala viam-se outras plantas, às quais o Inspector devotava verdadeira paixão.

À hora combinada, os convidados chegaram. Eram todos membros de uma Tertúlia Policiária, com os quais o Inspector passara algumas das mais animadas tardes dos últimos tempos. O primeiro a chegar, morando a dois passos, foi o Domingos, mais conhecido como “Detective Misterioso”. Vindo de mais longe, apareceu o trio Luís-Bela-Telmo, ou “O Gráfico”, “A Lampadinha” e “Fotocópia”. Fechando o cortejo, a Tina e o Zé, ou “MASC” e “Detective Alcopas”…

O dono da casa recebeu-os cordialmente, levando-os para a sala, onde ardia um bom fogo na lareira. Depois de obsequiar os convidados com um aperitivozinho… “para abrir o apetite” dirigiu-se à cozinha, a fim de vigiar o andamento do “banquete”.

Enquanto isso, os convidados entretiveram-se a conversar, indo de vez em quando à varanda, ver o céu, ou simplesmente arejar os vapores do aperitivo… Finalmente o anfitrião regressou, trazendo na esteira o delicioso aroma do almoço. Depois da distribuição dos lugares, cada um fez honras à magnífica refeição.

Após o suculento repasto, o café foi servido à roda da lareira. Foi nessa altura que o Inspector revelou que os embrulhos sob a árvore se destinavam aos seus convidados. Enquanto o grupo esvaziava as chávenas, ele ocupou-se da distribuição. Mas quando o papel foi rasgado e o conteúdo exposto à luz… Oh, surpresa!!

O embrulho aberto pelo Domingos revelou uma linda blusa de seda cor de rosa com folhos, idêntica em tudo, excepto na cor, que era creme, à que o Luís tinha nas mãos. Por sua vez, a Tina recebera uma garrafa de aguardente velha, a Bela, um jogo “Lego”, o Telmo, um livro de Morris West, e o Zé, um mocho-pisa-papéis. Era mais que evidente que houvera uma troca! Mas como? O próprio Inspector ficou abismado. Os embrulhos eram iguais, apenas o nome do destinatário estava escrito num cartão, cartões esses que tinham sido trocados… Quem seria o brincalhão?…

À semelhança do que fizeram tanta vez, desmascarando culpados no papel, aproveitaram o sucedido para um “anti-digestivo”. Cada um foi interrogado quanto ao que fizera antes do almoço, uma vez que os embrulhos tinham sido levados para a sala nessa manhã, e o Inspector jurava a pés juntos não ter nada a ver com a troca.

O Domingos disse:

– Não sei de nada. Vi os embrulhos debaixo da árvore, mas nem lhes cheguei perto. Fiquei aqui ao pé da lareira, a falar com a Bela. Vi o Zé a passear por aí, o Luís andou perto da árvore Depois fui ter com a Tina à varanda.

O Zé declarou:

– Andei por aí, vi as plantas da sala… Quem me dera que as minhas crescessem assim!… Reparei num lindo “Ferocactus”, mas nem me cheguei ao pé da árvore. Não sei quem fez isto, mas foi divertido! Ah, vi o Luís às voltas ao lado da estante, perto dos embrulhos…

O Luís confirmou:

– O Zé tem razão, estive a ver os seus livros; Inspector, tem aqui verdadeiras raridades! Por exemplo, o primeiro número da colecção Xis, “Um Crime Branco”, de James Marcus, pseudónimo de dois primos portugueses. Vi o Domingos a falar com a Tina, na varanda, e a Bela não saíu do sofá. Quanto ao Teimo, posso garantir que não foi ele; esteve sempre perto de mim, para não fazer disparates…

A Bela replicou:

– O Luís está certo, não deixei o sofá; estava-se tão bem, ao pé da lareira! O Domingos esteve um pouco a falar comigo depois foi ter com a Tina à varanda. Não vi quem se aproximou da árvore, estava de costas para ela.

A Tina respondeu:

– Andei um pouco por aí, vi a Bela no sofá a falar com o Domingos, mas depois fui para a varanda. Daí a pouco chegou o Domingos, e só saímos da varanda quando o Inspector chegou, com aquele cheirinho… Não vi quem se chegou perto da árvore, mas o Domingos tinha de passar por lá para vir à varanda…

Chegou-se à conclusão que bastariam uns segundos para fazer a troca dos Cartões, aproveitando uma distracção geral, como quando o Inspector chegou vindo da cozinha, convergindo para ele as atenções. Ouvidos os depoimentos, o Inspector exclamou:

– Já sei quem teve a ideia da brincadeira! Foi…

Aqui cortamos a palavra ao Inspector, para perguntar:

a) Quem acha que foi?

b) Porquê?

 

SOLUÇÃO

© DANIEL FALCÃO