Autor

Miss Atómica

 

Data

10 de Junho de 2024

 

Secção

A Página dos Enigmas [27]

 

Competição

Torneio Memória

Problema nº 6

 

Publicação

Blogue A Página dos Enigmas

 

 

A PASTA DESAPARECIDA

Miss Atómica

 

Que belo dia de sol radioso!

Na salinha, pequenina, entra a luz a jorros coada pelos grandes cortinados em seda.

– Como o tempo é parecido com as pessoas!… – pensava Quim, um rapaz louro, que sentado a uma pequena escrivaninha, folheava um livro policial… um livro da coleção XIS…

Ele tinha razão, para assim pensar!

É que a noite que antecedera tão belo dia havia sido infernal. De uma escuridão profunda, intensa, açoitada por um vento forte, uivante, fazia desejar um sono reparador do esgotamento causado pela árdua faina diária. Apenas se comparava, no negrume, àquelas noites em que a falta de iluminação pública se faz sentir… depois de uma luz intensa.

Mas não, naquela noite os típicos candeeiros não se apagaram. Mas nem por isso a conseguiram destoar. Eles mais pareciam pequenas velas de cera.

 

TrrimTrrimTrrimTrrim… O telefone que toca, um braço que se estende, e eis que, como por encanto, o auscultador baila-lhe na mão. Eram assim, largos, todos os movimentos daquele maquiavélico rapaz…

Uns passos largos, ombros direitos, e uns magros braços, dum comprimento extravagante…

Enfim, ele, genuinamente português, mais parecia um duplo de Bannister.

Está lá?… Ah! É da casa Borges & Ferreira Lda. O que deseja?… Eu não me demoro. Chego já aí.

Levantando-se dum salto, quase a correr, tira o «boné à Sherlock» do bengaleiro e põe os óculos de automobilista.

Parte no seu carro em grande velocidade.

 

Inspector, como a pasta desapareceu, é que não se sabe. Bem vê: são trezentos contos. Veja o que nos pode suceder se ela não aparecer.

A ponte de onde o carro se despenhou tinha cerca de cinco metros de altura. O rio levava muita água, mas onde o carro se encontrava, havia pouca, não conseguindo a sua submersão. À volta, porém, era bastante fundo.

O Inspector Quim mandou que trouxessem à sua presença Norberto Silveira, o portador da pasta onde se transportavam os trezentos contos, e que, naquele local havia desaparecido.

Era de mediana estatura, obeso. Quase calvo, usava, a denunciar a sua miopia, óculos de grossas lentes com aros de tartaruga.

– Conte-me como se deu o acidente – ordenou Quim.

– Eu, juntamente com o meu colega Aniceto, seguíamos no carro. Ele guiava e eu seguia a seu lado. Entre nós ia a pasta com o dinheiro. O carro rodava velozmente quando, aqui na ponte, se despistou; o meu colega e o carro despenharam-se, partindo o gradeamento cimentado. Eu não sei como isto foi. Dei um salto, senti-me voar e depois rolar no solo. Salvei-me da morte, pois que o meu colega morreu. Se o carro não fosse descapotável teria morrido também. A pasta ficou no carro, pois na posição em que ele está eu via-a perfeitamente.

– Então, porque é que, sabendo o senhor que só depois de três horas de caminho, poderia encontrar auxílio, não se atirou à água? – atalhou Quim.

– Porque não sei nadar.

– Bem. É uma razão. Tem algo mais a contar?

– Apenas que cheguei ao nascer do sol junto dos meus patrões, a quem contei o mesmo que ao senhor.

 

Examinou-se, depois, o cadáver de Aniceto. Ocasionara-lhe a morte, uma pancada no temporal direito.

 

1) Como procedeu o Inspector Quim?

2) Porquê? (Exponha o seu raciocínio.)

 

SOLUÇÃO

© DANIEL FALCÃO