Autor Data 21 de Maio de 2000 Secção Policiário [462] Competição Prova nº 3 Publicação Público |
CRIME RURAL Mister H O sol brilhava substituindo
a copiosa chuva que até há meia hora atrás caía. Estacionando o carro na
beira do caminho, o detective Joe Lapovsky dirigiu-se para uma vivenda isolada
no meio do espaço rural, onde o dono da casa jazia sem vida. Tendo cuidado
onde punha os pés, Joe avançou pelo meio da lama em pequenos passos e chegou
à entrada, onde já era esperado. O crime ocorrera por volta
das onze horas desse dia o último do mês de Março, e a vítima, de nome Johnny
Maquivsky, era um indivíduo de 43 anos de idade, abastado, sendo as origens
da sua fortuna um tema tabu e desconhecido do vulgar cidadão daquela área. A vítima era conhecida de
longa data do investigador, pelo que aquela casa não lhe era estranha.
Entrando, perguntou pelo corpo, ao que o mordomo rapidamente lhe indicou o
escritório. Jazendo no chão, o corpo
estava de barriga para baixo, com uma grande nódoa de sangue saindo de um
buraco de bala na testa. Na mão esquerda encontrava-se um revólver,
possivelmente responsável pelo disparo. Joe agarrou na arma e observou-a,
sendo olhado pelos moradores daquela casa: o mordomo Criadovsky, o primo
Peter Maquivsky, o amigo Graxovsky e a mulher da vítima, Maria Maquivsky.
Qualquer um deles já tinha visto a sua relação com a vítima passar por
melhores momentos, tendo até Maria Maquivsky efectuado ameaças de morte, por
razões não esclarecidas. Procedendo então aos
interrogatórios, começou pelo mordomo. Um homem com a mesma idade da vítima e
ao seu serviço desde longa data. Contudo, questões de ordem salarial há algum
tempo que afectavam o seu relacionamento, sendo, no entanto, do conhecimento
comum que o testamento do falecido beneficiava-o num número “cheio de zeros”
que lhe vinha a calhar. “Como era costume,
levantei-me às seis e meia da manhã, para preparar o pequeno-almoço, que foi
tomado às sete por Graxovsky e Peter Maquivsky, e às oito e meia pela vítima.
Maria Maquivsky não o chegou a tomar. Vi Graxovsky sair às sete e meia e
Peter Maquivsky às oito horas, no momento em que apanhava a roupa do
estendal, pois estava a começar a chover. Quanto ao patrão, retirou-se para o
seu escritório após o pequeno-almoço, enquanto Maria Maquivsky, só a vi mais
tarde, depois de ouvir o disparo. Ouvi a porta fechar-se por volta das dez
horas, mas não vi quem era; só sei que se dirigiu com o patrão para o
escritório. Deviam ser quase onze e eu estava na cozinha, iniciando a
preparação do almoço, quando fui surpreendido pelo súbito barulho e, não
sabendo do que se tratava, desloquei-me até ao escritório. Ao passar pela
entrada vi a porta encostada e ouvi um carro indo-se embora. Quando cheguei
ao escritório, deparei com esta triste cena.” O amigo, Graxovsky, três
anos mais novo que a vítima, vivia com o falecido há já bastantes anos, sendo
o seu braço direito nos negócios. A morte de Maquivsky passa para as mãos de
Graxovsky o controlo dos negócios. “Levantei-me às sete para
tomar o pequeno-almoço, ao mesmo tempo que Peter Maquivsky. Passado coisa de
meia hora, saí para tratar de negócios e só voltei ao meio-dia, quando tudo
já se tinha passado.” O primo era dez anos mais
novo e estava naquela casa por favor, tendo rendimentos irregulares e baixos.
Previa-se que a curto prazo fosse corrido dali para fora. Com a morte de
Maquivsky, a sua conta bancária é rejuvenescida e a sua estada naquela casa
tem de ser revista. As más línguas locais dizem que será amante da mulher do
falecido. “Fui tomar o pequeno-almoço
às sete horas, tendo encontrado Graxovsky na sala de jantar. Perto das oito,
saí para ir para o meu mais recente trabalho, numa quinta aqui perto, e
regressei por volta do meio-dia e um quarto para almoçar, quando descobri
este infeliz acontecimento.” Maria Maquivsky, dez anos
mais nova que o falecido; segundo as más-línguas, o casamento ocorreu por
amor… ao dinheiro e não ao marido, sendo as mesmas vozes que falam na
existência de um amante. “Acordei eram dez horas,
passado um pouco levantei-me e fui tomar banho. Estava a sair do banho,
quando ouvi o disparo. Então, depois de me arranjar, ao descer as escadas,
encontrei o mordomo que me contou o que se tinha passado. Lembro-me também de
ouvir um carro a arrancar rapidamente pouco depois do disparo, mas, quando
abri as portadas da janela, já não vi ninguém.” Então Joe começou a
observar a casa: era uma vivenda de rés-do-chão e primeiro andar. No primeiro
andar eram os quartos de todos, excepto o do mordomo, mais um quarto vazio e
ainda uma casa de banho, estando o quarto vazio e o da vítima virados para a
frente da casa e os restantes para as traseiras. No rés-do-chão havia outra
casa de banho, a cozinha, a sala de jantar e de estar, o quarto do mordomo e
o escritório, situando-se logo à entrada da porta do escritório e da sala
umas escadas que conduziam ao andar superior e um estreito corredor que dava
acesso à cozinha e ao quarto do mordomo. Ao sair de casa, Joe
vislumbrou com desagrado que o caminho estava todo enlameado e que agora o
sol brilhava e a lama estava a voltar à sua forma sólida. Observou três
grupos de pegadas distintos que encontrou em frente de casa: umas, verificou
de imediato, eram suas; das outras, ambas encaminhando-se para casa, umas
vinham do carro de Graxovsky; e outras vinham de um caminho de cabras que se
perdia nos campos. Então, avançando por cima das suas pegadas em passadas
largas, caminhou até à estrada onde observou as marcas deixadas pelas rodas
dos carros, onde apenas se encontravam dois tipos diferentes: as do seu e as
do carro de Graxovsky, que se sobrepunham em sítios diferentes. Regressou então outra vez
para dentro de casa e, enquanto manjava um lanche preparado pelo mordomo,
olhou para um espelho pendurado na sala de jantar e viu a sua cara esboçando
um largo sorriso. É claro que ele já sabia quem era o assassino… E você, meu
caro, também já deve ter percebido… Agora, é a isso que tem de responder:
quem é o assassino? Como tudo se terá passado? Como é que Joe Lapovsky
descobriu? Explique o que se passou… |
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© DANIEL FALCÃO |
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