Autor Data 5 de Julho de 1979 Secção Mistério... Policiário [224] Competição TORNEIO
“4 ESTAÇÕES 79” | MINI C - VERÃO 79 Problema nº 1 Publicação Mundo de Aventuras [300] |
O ENIGMA DO QUARTO FECHADO… Mota Curto I A
confusão era tal que ninguém se entendia. Os jornalistas começavam a chegar.
Tinham-se formado pequenos grupos e cada qual debatia o assunto à sua
maneira. Entretanto chegou o inspector designado para aquele caso: –
Não deixem entrar os jornalistas! – gritou ele para os agentes. Com
a presença do inspector a ordem restabeleceu-se naquele corredor.
Imediatamente foi informado do sucedido: –
Nunca vi nada igual. O- assassino volatizou-se, levando a arma e dois mil
contos em dinheiro… –
Talvez o Costa pudesse dar ao inspector uma ideia mais clara do que se
passou, uma vez que está directamente relacionado com o caso – comentou um
dos fotógrafos. II E
assim foi. Perante o silêncio de todos, o guarda Costa começou a sua
história: –
Tendo José Morgado – nome da vítima – necessidade de guardar durante uma
noite, larga soma em dinheiro, dirigiu-se ao posto da P. S. P. e pediu alguém
para o proteger. Eu fui o designado. Ao anoitecer, viemos para aqui. Depois
do quarto revistado, para ter a certeza de que ninguém se encontrava aí, o
senhor Morgado instalou-se. Eu levei uma cadeira para me sentar no corredor,
junto à porta. Resolvemos que a porta do quarto não seria trancada, pois
poderia ser necessária a minha rápida entrada no quarto. As horas passavam, e
eu, passeava no corredor ou me sentava na cadeira. Mas, o que eu temia,
aconteceu. Adormeci, sentado na cadeira… Algum tempo depois, acordei,
subitamente, com o ruído de um tiro. Instintivamente abri a porta e entrei no
quarto de pistola em punho… III –
…Contrariamente ao que poderia esperar-se, além de José Morgado, não vi mais
ninguém no quarto. Sem querer, olhei para o relógio de pulso: eram 5 horas.
Fechei a porta à chave, para evitar que o autor do disparo pudesse sair do
quarto. Presumi que ele estaria escondido algures, pois a janela estava
fechada e trancada por dentro. José Morgado estava deitado, normalmente, na
cama, no entanto, algo de estranho se passava, uma vez que ele não se mexia.
Ao aproximar-me, levantei o cobertor e deparei com uma mancha de sangue que
lhe sujava o pijama. As minhas precauções redobraram-se quanto à
possibilidade de o assassino se encontrar escondido no quarto. No entanto,
depois de pormenorizada busca, posso jurar que ninguém se encontrava no
quarto, além de mim e da vítima, é evidente. Claro que fiquei confuso. Pela
janela era impossível alguém ter saído, apesar de estarmos num rés-do-chão.
No que diz respeito à porta, eu não demorei mais do que um ou dois segundos a
abri-la para entrar no quarto, onde acendi a luz. Em seguida, fechei-a à
chave, por dentro, guardando a chave comigo. Depois de chegar à conclusão de
que o assassino não se encontrava no quarto, telefonei para a esquadra. Só
abri a porta quando o guarda Bugalho chegou, com mais quatro colegas,
entrando todos no quarto. Foi o que se passou, e, sinceramente, continuo
completamente «baralhado». –
E o dinheiro? – perguntou o inspector. –
José Morgado tinha deixado a pasta com os dois mil contos em cima de uma
cadeira, ao lado da cama. Quando lá entrei já lá não estava. IV Trata-se,
realmente, de um caso muito estranho. O próprio inspector, ao fim de tantos
meses, ainda não o resolveu. Entretanto, vejamos um extracto do seu vasto
relatório: a)
O quarto tinha telefone. b)
As declarações do guarda Costa foram verificadas e comprovadas. c)
O corredor onde estava o guarda tem dez metros de comprimento por metro e
meio de largura. d)
As únicas saídas desse mesmo corredor eram a porta do quarto e a da rua, cada
qual num extremo do corredor. e)
O corredor era iluminado por três lâmpadas penduradas no tecto a uma
distância de três metros uma da outra. f)
Cada lâmpada tinha o seu interruptor. g)
A lâmpada mais próxima da porta do quarto distava um metro desta. h)
Durante toda a noite apenas esta lâmpada esteve acesa. i)
No quarto, não foi encontrado nenhum cartucho que eventualmente pertenceria à
arma do crime. j)
José Morgado fora assassinado enquanto dormia. l)
A morte fora instantânea: duas balas no peito, uma das quais alojada no
coração. m)
O médico legista considerou que a morte ocorrera entre as quatro e as quatro
e meia da manhã. n)
A folha de serviços do guarda Costa, o testemunho de todos os seus colegas, e
o calibre do seu revólver, ilibam-no de qualquer cumplicidade, relativamente
ao assassínio e ao roubo. o)
A porta da rua tinha um pequeno quadrado de vinte e cinco centímetros de
vidro transparente. p)
O quarto não possui quaisquer passagens secretas ou esconderijos
subterrâneos. No entanto, e por ordem do inspector que desconfiava da
existência de qualquer refúgio, o quarto foi guardado durante cinco meses, ao
fim dos quais não se verificou qualquer alteração. q)
Quatro meses depois do crime, a esquadra da Polícia recebeu um brevíssimo
telefonema anónimo que dizia: «Não desistam, continuem a procurar no quarto.
Os dois mil contos fizeram-me jeito». r)
Não foi encontrada qualquer arma no quarto. s)
Os dois tiros que provocaram a morte, foram disparados um a seguir ao outro. V O
que se passou? Reconstitua o roubo e o assassínio. |
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© DANIEL FALCÃO |
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