Autor

Mr. Jartur

 

Data

9 de Agosto de 1956

 

Secção

Quem Foi?

 

Competição

Torneio dos “Produtores”

XIV Problema

 

Publicação

Mundo de Aventuras [365]

 

 

O CASO DO «TRAMPOLIM DO DIABO»

Mr. Jartur

 

A ambulância, fazendo ouvir a grande distância o sinistro uivar do alarme, corria velozmente para o «Trampolim do Diabo», onde mais um desastre se havia verificado, motivado pelo constante perigo que oferecia aquele troço de estrada assim denominado.

Depois de atravessar, em marcha moderada, a perigosa zona, o carro de socorro foi estacar junto à curva do Trampolim, donde alguns curiosos olhavam o danificado automóvel voltado lá no fundo do barranco.

Havia apenas uma vítima, para a qual a intervenção dos médicos já não era necessária. Júlio Silva, proprietário de uma grande fábrica e senhor de fabulosa fortuna, jazia dentro do cano, sem vida, com a barra do volante enterrada no peito, o que lhe provocara morte instantânea. Apresentava, também, na cabeça, um golpe originado por violenta pancada produzida por objecto estranho.

Nada de anormal se encontrou no veículo nem deficiência mecânica capaz de provocar o acidente.

A fim de desvendar as causas do sinistro, a companhia seguradora mandou chamar Marcos Dias, o jovem investigador, que imediatamente procedeu às primeiras diligências.

A única testemunha do desastre era um cantoneiro, que, interrogado, prestou as seguintes declarações:

– «O carro vinha – como quase todos os que descem esta estrada – com o motor desligado, pois dele não se ouvia.qualquer ruído.

Neste ponto Marcos inquiriu se não teria o homem visto, no interior do veículo, qualquer movimento anormal.

– «Não senhor – respondeu o depoente, com firmeza. – Aliás, eu mal vi o interior. Só ouvi o ruído provocado pelo rodar, pois a minha atenção concentrava-se mais no serviço que estava efectuando. Ouvi, também, distintamente, quando o carro passou aqui, a voz dum locutor que no rádio do carro relatava qualquer jogo de hóquei. Foi então que o segui com a vista, na expectativa de ouvir o grito anunciador de golo!... Súbito, ocorreu a tragédia. Em vez de voltar à esquerda, o carro seguiu em frente, precipitando-se no abismo».

No local do desastre, Marcos nada mais adiantou, pelo que se dirigiu a casa do industrial, a fim de participar ao sobrinho deste o brutal acontecimento.

Mário Silva, assim se chamava o parente do milionário, recebeu pesarosamente a notícia.

– Não, não notei algo de anormal em meu tio, que o pudesse conduzir à morte. Esteve sempre bem humorado até ao momento em que o deixei, para ir a uma loja de antiguidades, aqui perto, comprar um objecto de arte que interessava à minha colecção. Quando regressei não vi o meu tio em casa, mas não estranhei a sua ausência. Estive a trabalhar no meu gabinete até à chegada do senhor. Talvez que o médico, amigo íntimo do meu pobre tio, tenha notado algo de estranho nele, e que o fosse auxiliar nas investigações.

Assim, Marcos foi visitar o referido médico, pelo qual soube que o Júlio o havia convidado na véspera para jantar. Estivera também presente, nessa noite, o sobrinho de Júlio Silva.

– «Regressei a casa bastante tarde, depois de Júlio me ter pedido que trouxesse, para conserto, o seu aparelho acústico, que estava funcionando deficientemente, não podendo, sem ele, ouvir. Pedira-me que o reparasse com urgência, que ele, hoje mesmo, iria a minha casa buscá-lo. Esperei-o, em vão, até que o senhor me avisou da ocorrência».

Não é que o investigador tivesse qualquer suspeita de alguém. Mas quando tomava conta dum caso gostava de chegar ao fim, percorrendo o caminho mais curto e indicado. Por essa mesma razão se dirigiu à loja de antiguidades a que Mário se referira. Ali soube, pelo velho comerciante, que, na realidade, o seu cliente habitual estivera presente nossa tarde, tendo comprado uma estatueta em bronze para a sua colecção, segundo dissera.

Para Marcos Dias, o resto foi simples. Não lhe restavam dúvidas acerca do acidente. O tribunal concordou plenamente com o seu brilhante discurso, e um dos suspeitos depoentes não regressou a casa, detido e acusado de ter provocado deliberada e premeditadamente a morte de Júlio Silva.

 

PERGUNTA-SE:

1) Quem foi ele?

2) Como praticou o delito?

3) O que levou o investigador a essa conclusão?

 

SOLUÇÃO

© DANIEL FALCÃO